Voltada para agentes comunitários comprometidos com a redução das desigualdades sociais, a formação é gratuita e as inscrições para a 1ª edição do projeto ficam abertas até 30 de setembro de 2021.
Com a necessidade de confrontar a polarização política e o fascismo escancarado que cresceu no Brasil após as eleições de 2018, oito ativistas que já atuavam em campanhas eleitorais, se juntaram para formar a “Laborá Política”, curso de formação de pré-candidatos e lideranças progressistas para os pleitos de 2022.
A iniciativa parte de um movimento autônomo, independente e sem vinculação com partidos, mandatos ou governos. Entendendo que a política institucional é uma ferramenta para diminuir a desigualdade, ela precisa estar latente dentro das periferias de São Paulo, produzida e mobilizada por quem vê as necessidades da cidade: o sujeito periférico.
As inscrições são feitas através de um formulário online, que pode ser encontrado também nas redes sociais do projeto, e ficam abertas até 30 de setembro de 2021.
“Se não tem política pública que chegue na periferia, que não chega na negritude, é porque a gente não tá lá”
Keit Lima, 30 anos, é moradora da Brasilândia, zona norte de São Paulo e co-fundadora do Laborá
Uma das ativistas que integram a iniciativa é Keit Lima, 30 anos, moradora da Brasilândia, zona norte de São Paulo. Ela é co-fundadora e integrante do comitê executivo da Laborá.
Em 2020, Keit foi candidata a vereadora de São Paulo, mesmo não ocupando uma cadeira no legislativo municipal, ela entende como urgente a ocupação de ativistas e lideranças comunitárias dentro do poder institucional.
“A gente precisa garantir que os nossos estejam lá. Se não tem política pública que chegue na periferia, que não chega na negritude, é porque a gente não tá lá”, afirma.
“Há um projeto político que nos exclui desse espaço”
Keit Lima, 30 anos, é moradora da Brasilândia, zona norte de São Paulo e co-fundadora do Laborá
A ausência de lideranças políticas pretas e periféricas na política institucional tem um motivo bem claro na visão da co-fundadora do curso de formação de pré-candidatos e lideranças progressistas para os pleitos de 2022.
“A gente não tá lá, não é porque a gente nunca disputou, e sim porque há um projeto político que nos exclui desse espaço. Nos exclui desse espaço inclusive quando a gente vai tentar concorrer e não sabe as ferramentas que tem que usar”, enfatiza.
Dentre todos os ativistas que formam o Laborá, Keit é a única que já foi candidata, e usa da própria experiência para junto com os outros fundadores, entender a necessidade de uma formação para concorrer às eleições.
Ela utiliza das formações que já participou para fazer críticas sobre o modelo tradicional e com o Laborá, quer reestruturar e ressignificar essa formação de candidatos às eleições de 2022.
Formação
O curso disponibiliza 30 vagas, inteiramente gratuitas, para ativistas e lideranças comunitárias, tanto homens quanto mulheres. A ideia segue o pressuposto de inserir na política pessoas que já são comprometidas com a diminuição das desigualdades, independente de cargo legislativo.
“Já fazem isso na prática, já fazem isso no seu dia-dia. “Essas pessoas são comprometidas o ano todo, o tempo todo, não só em campanha eleitoral. Então como a gente faz? A gente amplia essa galera que quer sair candidato dando a ferramenta pra essas pessoas, porque não dá pra dizer “vai lá e seja candidata”, sem dar o mínimo pra essa pessoa se candidatar”, explica.
O curso, será dividido em três módulos: o primeiro é teórico e será realizado totalmente de forma online, até o final de 2021, e os participantes contarão com uma ajuda de custo para a internet. Esse processo inicial tem como objetivo pensar nos pilares territoriais: onde o candidato está, como foi parar ali, onde quer chegar, qual o projeto político quer defender e no que ele acredita.
O segundo módulo, acontecerá no primeiro semestre de 2022, e engloba a pré-campanha eleitoral: discutir as ferramentas que precisam ser utilizadas, por mais que cada candidato faça sua campanha de maneira única, é necessário pensar desde o design, comunicação, assessoria e até como fazer a captação de recursos para a eleição.
O terceiro módulo acontece em conjunto com a campanha eleitoral, no segundo semestre de 2022. “É pensando em mentoria, é pensando em olhar cada candidato muito mais perto. Até a campanha eleitoral a gente vai estar perto, junto, mostrando as ferramentas. A finalização só termina com eles eleitos. Todo mundo eleito”, diz Keit, esperançosa.
Vivências
A ideia de criar a formação começou a tomar forma antes da campanha e partiu das vivências de Keit, em formações que já participou, que apesar de importantes, acontecem conjuntamente com as eleições, impossibilitando o candidato a ter uma melhor preparação.
“Eu acho que um grande erro das formações que eu participei inclusive, foi começar na época que a pessoa tá fazendo campanha. Então nem você nem as pessoas que estão ligadas a você conseguem participar, porque ou você tá na rua, ou você tá na live, ou você tá na formação, então como que a gente prepara esse terreno antes, sabe?, expõe.
As aulas serão ministradas não necessariamente pelos organizadores da Laborá ( Fernanda Chagas, Keit Lima, Juliane Arcanjo, Lucas Freitas, Luís Barbieri, Mariana Bernd, Samuel Dias e Samuel Souza ) e sim por ativistas que já atuaram em campanhas de pessoas que conseguiram ser eleitas.
“não tem ninguém melhor pra fazer política pública em primeira pessoa do que as pessoas que sentem diariamente o impacto das desigualdades”
Keit Lima, 30 anos, é moradora da Brasilândia, zona norte de São Paulo e co-fundadora do Laborá
“São essas pessoas que vão vir conversar com essa galera sobre todos os amores e desamores de ser candidato, sobre como a gente faz esse caminho ser um pouco mais fácil”, diz.
Keit enfatiza que o curso é para todos, e que a pessoa não precisa estar filiada a nenhum partido e que a Laborá não irá fazer nenhuma articulação para filiar candidatos. O intuito da formação é colocar esses agentes comunitários na luta por melhorias para os territórios periféricos.
“Pra mim, não tem ninguém melhor pra fazer política pública em primeira pessoa do que as pessoas que sentem diariamente o impacto das desigualdades. São essas pessoas que têm que estar lá escrevendo política pública. Pra mim, essa é a importância de ter mulheres negras e periféricas eleitas. Só teremos uma real democracia quando esses corpos estiverem ocupando as casas legislativas”, conclui.