“A literatura irrigou a subjetividade dos moradores das periferias”, diz Maria Vilani em debate no Congresso de Escritores

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Redação

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Com participações da escritora Maria Vilani, o poeta Binho e mediação da jornalista Simone Freire, a primeira mesa de debate do Congresso Escritores das Periferias voltou no tempo para discutir como foi o processo de surgimento e expansão do movimento literário nas periferias de São Paulo.

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Mesa de abertura sobre o surgimento e expansão dos saraus literários (Foto: Ricardo Trindade)

A abertura do 4º Congresso de Escritores da Periferia, realizado neste sábado (24) contou com a presença dos poetas Binho e Maria Vilani e mediação da jornalista Simone Freire. Um dos pontos mais tocados na primeira mesa foi a liberdade de expressão presente nos movimentos literários, que atuam dentro das periferias de São Paulo.

Os poetas Binho e Maria Vilani inicialmente falaram sobre o surgimento e expansão dos movimentos literários na periferia, abordando logo em seguida a importância que os saraus tem para dar voz ao povo periférico, em um local de fala que pertence à eles, por meio de suas poesias e vivências cultuais.

“Pessoas chegavam tremendo para ler algo escrito em algum guardanapo, e hoje são poetas de mão cheia”, lembra Binho, emocionado ao falar de sua experiência pessoal, quando ele tinha um bar que servia como espaço cultural na região do Campo Limpo, zona sul da cidade.

Ao longo do tempo, o poeta percebeu a evolução das pessoas que chegavam tímidas para recitar a primeira poesia e hoje articulam diversos eventos literários em diversos locais de São Paulo e do Brasil.

Já a filosofa Maria Vilani, aproveitou o encontro para contar como se descobriu artista, a partir da relação que criou com os territórios periféricos: “recebi muitas críticas por ocupar as ruas, principalmente por ser mulher, más sempre acreditei que a rua é meu lugar”.

Para Vilani, a relação que temos com o território é essencial para a criação de uma consciência coletiva sobre espaço público. “Não temos que ter medo da rua, temos que melhorar a rua, pois ela é uma extensão de nós mesmos”, enfatiza.

A escritora relembrou que os saraus literários eram eventos comuns no século XIX, entre os aristocratas e burgueses. Vilani se referiu aos poetas como Mecenas, pois eles são os patrocinadores da arte contemporânea em suas comunidades. “As poesias saíram das bibliotecas e estão nas ruas com os Mecenas das periferias. Sarau é um espaço de liberdade que esses poetas têm conquistado”.Após quase três décadas de trabalhos dedicados a produção cultural no Grajaú, periferia da zona sul da cidade, ela reforça: “a literatura irrigou a subjetividade dos moradores das periferias.”

Ao longo do diálogo, os convidados trouxeram muitas experiências pessoais para a roda de conversa e atestaram a importância dos saraus como uma ferramenta de revolução na sociedade, pois através deles somos capazes de entender a nós mesmos e o outro, fomentando a importância do movimento para o povo periférico, que consegue sempre se reinventar, promovendo um ambiente de acesso à cultura cada vez mais democrático.

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