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E aí, já tirou seu Título de Eleitor?

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Em outubro teremos as eleições municipais. Isso significa que, em todas as cidades do país, a população deverá escolher um representante para o cargo de vereador, e um para o cargo de prefeito. Mas afinal, o quanto isso é importante e o que de fato essas pessoas fazem?

Um vereador ou vereadora é um representante do Poder Legislativo Municipal. Eles ficam na Câmara dos Vereadores e têm como função elaborar novas leis e fiscalizar o que a prefeitura está fazendo.

Ou seja, os vereadores têm que ir atrás de verificar se as escolas estão funcionando corretamente, se os postos de saúde estão com todos os medicamentos, indicar quais melhorias a cidade está precisando, propor novas leis que o município precisa, e outras funções do tipo.

Já o prefeito ou prefeita é o representante do Poder Executivo Municipal. Isso significa que são eles que executam os serviços. 

As prefeituras têm diversas secretarias: de educação, de cultura, de saúde, de esportes, e por aí vai. É a prefeitura que vai autorizar o início de novas obras, destinar os recursos – o famoso dinheiro público, fruto dos nossos impostos – para que os serviços funcionem corretamente, garantir que não estejam faltando insumos nos serviços básicos, etc. Também é o prefeito e sua equipe que vão decidir quais pedidos dos vereadores vão atender, como necessidades de limpeza de ruas, instalação de uma nova creche e outros.

Estes são apenas alguns pequenos exemplos, mas o recado é grande: prefeitos e vereadores são extremamente importantes para administrar e cuidar das nossas cidades, que têm vários problemas. 

E pra quem mora nas periferias sabe que eles são ainda maiores: a gente enfrenta ruas esburacadas, falta de água e de luz com frequência, bairros sem saneamento básico ou iluminação pública, ausência de espaços de cultura, lazer e educação nas quebradas, viagens longas em ônibus caindo aos pedaços e por aí vai.

Para lutar contra essa realidade, é importante tanto que a gente se mobilize reivindicando nossos direitos, quanto que participemos do processo eleitoral. Para se ter uma ideia, nas primeiras eleições que tiveram no Brasil para prefeitos e vereadores, em 1825, apenas podia votar quem tinha mais de 25 anos, se fossem pessoas casadas e comprovassem uma renda mínima. Ou seja, só podia escolher quem ia cuidar dos problemas da cidade quem tinha dinheiro – era o chamado voto censitário. Além disso, os jovens e as mulheres sequer podiam participar do processo eleitoral.

Só em 1988, após o fim da Ditadura Militar e com a nossa nova Constituição Federal, que é a lei maior do país, o voto passou a ser opcional para os jovens entre 16 e 17 anos. Isso significou reconhecer que a partir dos 16 anos o jovem já tinha consciência dos problemas que enfrenta e o direito de escolher quem representá-lo nos espaços políticos de poder. 

E assim, agora em 2024, até dia 08 de maio, você, jovem, a partir dos 16 anos, já pode tirar seu Título de Eleitor.

Mais do que tirar o título, é importante fazer valer esse direito de verdade: não é só chegar no dia da eleição e digitar o número do primeiro papel que você encontrou no chão em frente a sua escola de votação; mas sim pesquisar quem são os candidatos, de onde eles vêm, quais são suas propostas e se eles estão prometendo coisas que realmente podem fazer. 

Se um candidato a vereador está dizendo que vai construir uma creche se eleito, talvez ele não tenha feito a lição de casa direito: ele pode e deve cobrar isso da prefeitura, mas não tem o poder de fazê-lo. 

Nas últimas eleições municipais que foram em 2020, nós tivemos no Estado de São Paulo dentre os prefeitos eleitos apenas 40 pessoas negras, nenhuma índigena, uma amarela e 595 brancas. 

A maioria de homens: foram 571, e apenas 67 mulheres. Em relação à faixa etária, a idade mínima para se candidatar à prefeitura é de 21 anos. Temos 13 prefeitos jovens – entre 21 e 29 anos e 102 prefeitos entre 30 e 39 anos. A grande maioria – 523 deles – tem entre 40 e 89 anos. 

Já entre os vereadores, foram 1.093 mulheres e 5.870 homens eleitos em todo o estado de São Paulo.  5.400 brancos, 29 amarelos, 4 indígenas, 39 não informados, 1.125 pardos e 366 pretos. A idade mínima para se candidatar a vereança é de 18 anos. Dos vereadores eleitos, 470 tinham entre 18 e 29 anos; 1.642 de 30 a 39 anos e 4.851 de 40 a 89. 

O que todos esses números mostram? 

Que a maioria dos representantes das cidades paulistas são homens brancos e com mais de 40 anos. 

Será que esse perfil se parece com as pessoas do lugar onde você mora? Será que essas pessoas, por mais estudadas ou bem intencionadas que sejam, conhecem os problemas enfrentados no cotidiano das nossas quebradas? 

Nós temos o poder de mudar esse perfil e neste ano, eleger mais jovens, mulheres e pessoas negras, que não só tenham essas características, mas que também lutem de verdade por mais políticas públicas para esse público e toda a população. 

Bora fazer parte de uma mudança?

Até dia 08 de maio

Você pode tirar seu primeiro título comparecendo presencialmente no Cartório Eleitoral da sua região, para emitir o documento e cadastrar a biometria. Antes de ir, é possível realizar o agendamento online neste site:

Se você já tem o título e precisa saber sua situação eleitoral, é só buscar por aqui:

E caso você precise regularizar, transferir de lugar ou realizar algum outro serviço, pode fazer online, mas confira antes se sua cidade não está exigindo a biometria, que precisa ser presencial.


Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.

“O mulherismo africana é a quebrada”, afirma pesquisadora sobre a presença do movimento nas periferias

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Segundo Wanessa Yano, pesquisadora de história, artes, estéticas africanas e afrodiaspóricas, o mulherismo africana busca referências plurais do continente africano, e é uma prática que está presente dentro da periferia. “O mulherismo africana vai dizer que a nossa história pode ser diferente [enquanto mulheres negras], mas a nossa luta pela raça, ela é igual independente da condição em que você esteja”, coloca.

Wanessa Yano diz que o mulherismo africana é prática nas periferias.
Wanessa Yano na exposição Brasis, que ocorreu no Sesc Belenzinho. (foto: arquivo pessoal)

A pesquisadora, que também é co-fundadora da editora Ananse, conta que é dentro de uma perspectiva familiar, matriarcal e de comunidade que o movimento se apresenta nos territórios. “Hoje a mulher negra é a sustentação da casa, principalmente na quebrada. No mulherismo africana, uma mulher preta dentro de uma periferia sabe que se ela mudar a própria realidade, vai mudar a realidade de toda a família dela”, coloca Wanessa. 

“Qualquer associação de mulheres dentro de uma quebrada já tem vínculo com o mulherismo africana. Onde as mais velhas trocam e se fortalecem entre elas é uma comunidade de mulherismo africana”

Wanessa Yano, pesquisadora de história, artes, estéticas africanas e afrodiaspórica.

Wanessa afirma que nessa prática a comunidade é um elemento tão fundamental quanto raça. Esse é um ponto central na busca do bem viver e na resolução de conflitos. Dentro desse contexto de comunidade, a prática também engloba questões que envolvem homens negros.

“Por exemplo, se [uma mulherista africana] está dentro de um relacionamento e o cara é machista, ela vai fazer a correção devida desse homem, mas ele também vai precisar entender o que é ser um homem preto, africana, [para ele modificar] as reproduções que ele está tendo do machismo”, exemplifica a pesquisadora, que ressalta a importância de homens africana debaterem sobre suas masculinidades.

“O mulherismo africana já existe dentro da quebrada, ele é a quebrada. Ele é a mãe de vários meninos em situação de cárcere. Ele é a situação das grandes cozinheiras dentro da quebrada. Ele é as mulheres que estão como agentes de saúde que andam o dia inteiro para cuidar de outras pessoas. É sobre o agir e o fazer todos [os] dias por uma comunidade.”

Wanessa Yano, pesquisadora de história, artes, estéticas africanas e afrodiaspórica.

Feminismo e Mulherismo Africana

O termo mulherismo africana, foi criado em 1987, pela autora e acadêmica afro-estadunidense, Clenora Hudson-Weems. No Brasil, o termo chega através da tradução do livro “Mulherisma Africana: uma teoria afrocêntrica”, da escritora afro-estadunidense, Nah Dove. “Clenora fala que não inventou nada, ela deu um nome a algo que já existia, [que é] a insatisfação das mulheres que não se identificavam com o feminismo e que precisavam dar nome àquilo [que viviam]”, comenta Wanessa.

Clenora Hudson-Weems criou o termo mulherismo africana, em 1987. (foto: arquivo pessoal)

Ao citar Clenora como referência, Wanessa coloca que mesmo as vertentes do feminismo que abordam questões raciais, como o feminismo negro e o interseccional, surgiram de um não pertencimento ao feminismo tradicional, e não dão conta das experiências de mulheres negras, pois apresentam uma origem eurocêntrica e ocidental, que por anos desconsiderou até a humanidade de pessoas negras. 

“Olhando para a história do feminismo, que surgiu da luta sufragista das mulheres brancas, em que as mulheres pretas passaram por muitas violências e que [tem] situações de racismo desde a sua formação, não há como [o feminismo] se tornar algo das mulheres pretas. A agenda dessas movimentações vão ser pensadas para mulheres brancas”, pontua Wanessa Yano.

Segundo Wanessa, o movimento também contempla, desde a sua origem, a comunidade LGBTQIAPN+, por entender que ‘mulher’ é uma categoria social, não uma questão biológica. “Dentro do mulherismo africana a forma com que a gente se identifica como mulher tem muitas camadas, é por isso que essa lógica de [ser] mulher [vem] dessa formação e entendimento social”, comenta a pesquisadora. 

Wanessa chama atenção para os contextos de violência ao citar o feminicídio e a violência policial que encarcera e mata homens, adolescentes e jovens negros. Dentro do mulherismo africana, essas demandas também são apontadas.

“Quando um homem ou jovem preto é preso, a mãe não abandona esse filho. A questão é: o feminismo dá conta de justificar que essa mulher está passando por diversas violências e apontar que ela está lutando pelo filho dela, pela comunidade, pela humanidade e recuperação dele?”, questiona. 

A pesquisadora coloca que o movimento pode ser um mecanismo de mudança social, pois ao mesmo tempo que aponta as problemáticas e violências que atravessam pessoas negras, também amplia as perspectivas de mundo, fortalece o potencial das pessoas, o cuidado e a busca do bem viver em comunidade.

Da esquerda para a direita, Alice Hudson (educadora, artista e pesquisadora de ciências sociais), Noxolo Kiviet Ministra da África do Sul, Wanessa Yano. (foto: arquivo pessoal)

“Não é mais a gente sobre o olho do ocidente. É sobre nós e as nossas próprias escrevevivências, as nossas experiências. É poder falar e documentar aquilo que a gente é como ser humano, não mais [como] objeto de estudo”, finaliza a pesquisadora.

Advogado, Ewerton Carvalho explica como as vítimas enfrentam o racismo no Brasil

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O racismo é uma realidade enraizada em nossa sociedade, mas muitas vezes se mostra difícil de ser discutida abertamente. Em entrevista ao Desenrola Aí, o advogado Ewerton Carvalho, explica a diferença entre o crime de racismo e injúria racial, o sistema carcerário e judiciário e, como o famoso ‘mimimi’ invertem os papéis, acolhendo os agressores e culpabilizando as vítimas de racismo que sofrem com os julgamentos, injustiça e falta de empatia ao denunciarem o ocorrido.

“A injúria racial nada mais é do que o racismo em sua forma violenta expressa em palavras. Por isso que hoje a injúria racial está sendo equiparada à questão do racismo no que concerne a inafiançabilidade, apenas está sendo um pouco mais dura agora para a questão da injúria, até porque, para enquadrar no racismo, a gente tem essa dificuldade semântica, jurídica de interpretação e aí dificulta um pouco”.

Advogado Ewerton Carvalho

Segundo o advogado, o sistema de justiça do Brasil reconhece a existência do racismo e incentiva as pessoas a reunirem provas para buscar por justiça. Dados do Anuário de Segurança Pública de 2023 revelam que 83% dos mortos pela polícia no Brasil no ano de 2022 são negros, enquanto quase 70% do total de pessoas presas no mesmo ano também são negras.

No mesmo ano de 2023, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, divulgou um relatório que aponta o racismo sistêmico como um desafio em divrsos países. Ravina Shamdasani, porta-voz da entidade, reconheceu que o Brasil é um dos países onde a situação preocupa, principalmente em relação à violência policial. 

Diante deste cenário, durante a entrevista o advogado Ewerton Carvalho compartilha seu sonho de transformar o sistema de justiça, onde cada erro cometido pelo Estado, resultaria em uma compensação significativa para as vítimas, forçando uma mudança efetiva. 

Ewerton Carvalho, advogado, e a jornalista Thais Siqueira durante a gravação do Desenrola Aí. Março/2024. Foto: Pedro Oliveira
Ewerton Carvalho, advogado, e a jornalista Thais Siqueira durante a gravação do Desenrola Aí. Março/2024. Foto: Pedro Oliveira

Sobre o Desenrola Aí

O Desenrola Aí é um programa quinzenal que visa trocar ideias com especialistas da quebrada, descomplicando assuntos relevantes, que afetam o cotidiano da população negra e periférica e os direitos humanos, que é a essência da nossa existência e convivência enquanto sociedade. O programa do Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola e Fluxo Imagens e conta com o apoio da 8ª edição da Lei de Fomento à Cultura da Periferia.

Festival Feira Preta promove shows com ingressos populares no Parque do Ibirapuera 

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Com o tema “Felicidade é a nossa revolução”, a Feira Preta assume novo posicionamento como festival e celebra de 3 a 5 de maio o maior evento da cultura negra e economia criativa da América Latina, no Parque do Ibirapuera, zona sul de São Paulo. Com mais de 30 atrações, o evento terá diversas expressões da criatividade negra, com ingressos gratuitos e a preços populares.

Clique aqui e compre o seu ingresso por apenas R$ 21,75.

Em 3 de maio, o festival irá promover uma série de palestras gratuitas focadas na economia criativa, modelo de negócio, acesso ao crédito, desafios de empreender e histórias inspiradoras, priorizando o ecossistema de empreendedores negros e periféricos. Nos dias 4 e 5 de maio, acontecem os shows de Tasha e Tracie, MC Luanna, Luedji Luna, Rincon Sapiência, Batekoo e Marcelo D2, marcam o evento, que promove vivências  desde música e dança até arte e gastronomia.

Além de ser um plataforma de entretenimento que movimenta a economia criativa protagonizada por pessoas negras e periféricas, o festival acolhe toda a família, com atrações não apenas para os adultos, mas também com atividades dedicadas às crianças que terão um área exclusiva dedicada ao brincar no “Espaço Arê”.

De público à expositora 

Carla Nunes durante o Festival Feira Preta em 2022. Foto: Arquivo Pessoal.
Carla Nunes durante o Festival Feira Preta em 2022. Foto: Arquivo Pessoal.

O evento que acolhe a família negra e periférica foi descoberto por Carla Nunes, esteticista e moradora da Vila Constança, zona norte de São Paulo, em 2019. Ela relembra com carinho o primeiro contato e a construção de vínculo afetivo e profissional com o Festival Feira Preta.

“Em minha primeira visita ao Festival Feira Preta, eu amei toda a estrutura e conheci diversos empreendedores pretos, podendo consumir seus produtos com muita consciência de movimentar o Black Money. Em 2022, eu fui convidada a participar como expositora e levei a marca dos meus produtos de Skin Care para pele negra e assim pude aumentar a visibilidade da minha clínica de estética para o público que circulava no festival e foi incrível.”

enfatiza, Carla Nunes.

A esteticista também destaca a importância de levar a família para o festival. Após sua experiência com o evento, Carla convidou sua mãe, Vilma Alves, de 66 anos, e seu filho, Felipe Oliveira, de 15 anos, para desfrutarem juntos dos shows e das diversas atrações oferecidas pelo evento.

Carla Nunes ao lado de seu filho e mãe. Foto: Arquivo Pessoal

“Por ser um espaço amplo, seguro e por ter diversos produtos, serviços e uma gastronomia muito variada, faz com que todas as gerações possam ir, curtir e se divertir tendo um momento em família, onde todos possam estar juntos contemplando a diversidade do povo negro”,

argumenta a empreendedora que prestigia anualmente o Festival Feira Preta.

Desde sua fundação, em 2002, a Feira Preta tem propósito de ser um espaço de promoção de produtos e serviços de empreendedores negros no Brasil. Para a empreendedora e fundadora do evento, Adriana Barbosa, o ano de 2024 marca a implementação de várias mudanças significativas para potencializar ainda mais o evento, como nova data, novo local e maior oferta de atrações e palcos. 

Adriana Barbosa. Foto: reprodução SESC SP.

“Todas as mudanças consistem em dois grandes objetivos: o primeiro é entrar de fato no circuito dos festivais no país, fazendo uso dos códigos que a sociedade associa a estes eventos, mas do nosso jeito. O segundo é ampliar a visibilidade e o movimento de investimentos em iniciativas negras para além de novembro”,

 ressalta a empreendedora.

Ao longo desses 22 anos, mais de 250 mil pessoas, 7 mil artistas e 3 mil empreendedores do Brasil e de outros países da América Latina foram impactados pelo Festival Feira Preta até o presente momento, consolidando sua importância como o maior evento já realizado no Parque do Ibirapuera.

Com base no impacto destes dados, Adriana também relembra que o Festival Feira Preta foi um dos principais movimentos a pautar o mês de novembro e propor para a comunidade negra um espaço seguro, potente e de celebração.

“Em maio, queremos construir outra narrativa para um período onde pouco se fala sobre as potências negras, convocando o mercado a incentivar eventos voltados à comunidade durante todo o ano. Um dos nossos diferenciais também é dialogar com diferentes gerações. Recebendo jovens, suas mães e suas avós. Isso é uma exclusividade muito bonita do Festival”,

finaliza Adriana Barbosa.

A violência da beleza e o espelho invertido

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Hoje resolvi falar sobre um tema que tem crescido muito na vida das pessoas, a ideia de beleza, as redes sociais deram uma grande ênfase nessa temática, de uma forma que cada vez mais cedo as pessoas têm se preocupado com suas estéticas. O bom e belo como faces da mesma moeda, a beleza continua a séculos consciente e inconscientemente criando padrões de confiabilidade, elaborando um mercado de práticas de elaboração de uma estética.

Para nós, população negra, esse tema sempre esteve em voga, pois nossa aparência é a principal ferramenta da violência racial. 

Mesmo que tenha crescido a ideia de Beleza Negra, também se tem criado padrões sobre essa estética, pois assim como tudo na vida, quando identificamos modelos de como ser, se cria um padrão de sucesso.

Faz pouco tempo que parei de pintar o cabelo para deixar a amostra os grisalhos, consegui fazer esse movimento por conta da pandemia do Covid-19, que nos trouxe à tona outras questões importantes na vida para além da dependência de produtos estéticos. Durante o período refleti que estava entrando em um campo bem difícil da vida das mulheres, envelhecer. 

A sociedade estabelece as relações com as mulheres a partir do seu corpo, por meio da menstruação, do parto, mesmo que algumas mulheres consigam travar sua vida com outras referências, essas novas se colocam em oposição às acima citadas, diferenciando reprodução e sexualidade, que modifica as relações modernas, desvinculando a mulher de reprodução da espécie e trazendo ela para o debate do trabalho e econômico. Ainda acompanhamos o domínio do Estado sobre nossos corpos quando se fala de aborto ou transição de gênero. 

Em 2025 mais 90% dos rostos de mulheres na internet serão produzidos por inteligência artificial. Corremos um grande risco de nunca mais nos reconhecer como reais seres humanos

A indústria da beleza se aproveita desses espaços para criar modelos de beleza que garantam a ideia de juventude dando uma ideia de prolongamento da idade reprodutiva.

Com o avanço dos direitos das mulheres e sua emancipação financeira, cada vez tem se tornada mais tardia as questões sobre os direitos reprodutivos da mulher e as consequências da falta de tratamento médico específico, assim como as questões psicológicas e emocionais que isso acarreta, a solidão e o abandono que assola todos os idosos, mas que sem dúvida tem um impacto maior na vida das mulheres com suas interseccionalidades. 

A nossa inclusão nos direitos presentes nessa sociedade, tentando superar as desigualdades e dicotomia, que sinceramente é destrutiva e desigual até para a classe média, se torna um desafio, pois para as desigualdades que eles já estabeleceram, centralizando as riquezas, existem dificuldades específicas criadas para algumas populações nesse sistema e precisamos lutar a favor da equidade social para todes.

Desde muito cedo as crianças experimentam a beleza como um status de aceitação social e moral, nos contos de fadas, onde a bruxa má se apresenta esteticamente feia e nesse sentido a feiura vinculada a velhice, assim como a princesa exerce o padrão de beleza ligado a bondade, levando a uma conexão construída desde o século XIX por diversos filósofos, que o bom e o belo, tem uma conexão direta. 

Essa ideia influenciou a toda a modernidade culturalmente, a reformulação desse mesmo padrão durante nossa história moderna vem tomando novas roupagens, como hoje as redes sociais, mas continuam sendo disseminadas. 

Entre diversas camadas que essa discussão sobre beleza e bondade pode ter, ela constitui uma ideia política em conjunto com as disputas históricas por riqueza e poder, que também foi usada como arma de dominação. 

Quando pequena ouvi a história da menina suja de piche – A Senhora Holle, Irmãos Grimm, nome original do conto – que fala sobre duas filhas, uma trabalhadora que fica coberta de ouro e uma preguiçosa que fica coberta de piche, sendo o desfecho final que “o piche ficou grudado nela e não saiu por toda a sua vida”. Esse foi o conto de fadas mais aterrador que eu já ouvi, como castigo ela fica preta de piche para vida toda.

Conto A Senhora Holle – Irmãos Grimm: A violência da beleza e o espelho invertido

Vestir-se e pentear-se segundo os cânones da moda, roupas assinadas, ideais de beleza propostos pelo consumo comercial. O cinema nos propõe a mulher fatal, o herói do velho oeste, o jovem rebelde, o espertalhão. A indústria da moda nos oferece de sincretismo total, de absoluto e irrefreável politeísmo da beleza. 

Quando foi que construímos a ideia de que a estética periférica é feia e que o belo só existe nos bairros mais abastados? 

Será que é só sobre a qualidade do saneamento básico ou sobre o transporte, ou criamos em nossas mentes uma ideia estética baseada na cerâmica e no concreto e a única saída é tornar tudo padrão Jardim Europa? 

Considero a ideia de estética uma pandemia silenciosa que invade a nossa vida por meio das redes sociais e estabelece padrões de consumo e de poder e até de morte social. 

Um impacto social é a invasão de crianças da classe média a lojas de produtos de beleza importados disseminados nas redes sociais, em contrapartida diminuem os espaços de lazer infantis que não são baseados no consumo. 

Em cada classe essa invasão da ideia do bom e do belo tem se manifestado de forma diferente, mas basta você curtir um reels sobre maquiagem, para perceber quanto tempo as pessoas estão dedicando a indicar produtos da indústria que proporcionam o enquadramento estético.

Para mim isso vai além de simplesmente maquiagem ou vestimentas, mas sobre nossa relação com a natureza e nossos ciclos. 

O poder dado a nós de transformar a natureza em algo que constituímos como útil ou belo, fez com que levássemos a relação de objeto a tudo que vive, e sendo o objeto oferecemos a tudo uma plasticidade. 

Mármore e cerâmica são base dessa sociedade, tudo limpo, liso e brilhante, dos pisos, das paredes e dos rostos humanos. Sem linhas, sem declives, sem sinais ou poeiras. 

O tempo também criador de estéticas vem sendo combatido, como inimigo da humanidade, ao mesmo tempo que transformações são inevitáveis, formas de aplainar essas transformações têm sido buscadas constantes. De forma bem simples podemos dizer que certas influências mudam o jeito de ver o mundo e todas estão atreladas. 

O reino vegetal tem seu ciclo, as folhas brotam e caem adubando a terra para a época de frutos, se retro alimentando de si, quando tudo é tomado pela estética do mármore e do cimento, as folhas não são mais absorvidas pela terra e são chamadas de sujeira e como resultado as pessoas cortam as árvores, a terra que pinta os corpos e se integra ao nosso corpo, também vão sendo considerada sujeira, sendo que o conceito de sujeira é um conceito estético construído e produzido pelos resíduos da sociedade moderna, que criou coisas artificiais que não podem ser absorvidas pelo sistema terrestre. 

Nessa altura do texto, quero dizer que eu aprecio a moda como uma manifestação cultural particular que proporciona aos indivíduos a possibilidade de manifestar sua criatividade e cultura, assim como o continente africano faz a séculos. 

Contudo, tenho um certo receio da beleza-estética e sua ideia de evitar a multiplicidade humana, seu envelhecimento e a manifestação do tempo em nossa vida. 

Todo rosto conta uma história de vida e ancestral, porque isso deve se igualar, porque não podemos ser únicos em nossa estética visual. Me divirto com os filtros das redes sociais, mas também reflito muito nessa necessidade de parecer sempre uma placa de mármore. 

Ser aceito e amado ainda é uma busca e hoje passou do analógico para o digital, ser reconhecido pelo que pensa e fala, pelos seus estudos e pesquisas sempre foi uma busca humana, mas no digital se tornou uma relação direta com a vida eterna, não ser esquecido. 

O legado platônico foi fundamental para o pensamento ocidental a respeito da beleza. O banquete, diálogo de Platão no qual a beleza é apresentada como paradigma de sua Teoria das Ideias. O banquete, a beleza é discutido em estreita conexão com Eros. Amor é sempre amor por alguma coisa. Belo é aquilo a que o Amor é intencionalmente dirigido. Sendo hoje nossa ideia de beleza totalmente contaminada por essa ideia ocidental, toda busca estética é por alcançá-la, uma forma de dominação das nossas mentes e corpos. 

Dentro dessa ideia existe uma xenofobia que combina beleza com relações políticas e a ideia de quem é bom, que beleza reflete a bondade, anjos de olhos azuis, brancos, traços finos e olhares blasé.

Todo esse questionamento não nega toda a estética construída pelos povos do mundo, as pinturas corporais africanas e indianas, suas cores e tecidos, adornos e penteados, até porque quase tudo que esteticamente, vale a pena, foi construído pelo oriente e pela África e movimenta a indústria da estética e da moda no mundo em uma apropriação cultural desmedida e muitas vezes desrespeitosa, produzindo escravização e domínio cultural.

Como essas questões permeiam as periferias são diversas, desde um consumo que promove o empobrecimento material para manter esses padrões, até questões psicológicas sobre nossa beleza, fazendo com que a verdade sobre quem somos, seja substituída pelo que o mercado precisa que a gente consuma. Como disse Emicida “As redes sociais dá o que nóis quê, enquanto rouba o que nóis precisa.” – EP Amarelo.

A binaridade entre o bom e belo que permeia as agências de trabalho, a porta dos restaurantes e shopping center, os comentários nas redes sociais, refletem não só o racismo estrutural, mas valores eurocêntricos de sua filosofia arbitrária, baseadas na ideia de homocentrismo que criou toda a exploração moderna. 

Pensar que somos seres que fazem parte da natureza e com isso, assim como ela somos cíclicos e perenes, é uma ferramenta de libertação de amarras, e mais adiante que a beleza não reflete a bondade, e sim um utilitarismo social dos olhos ocidentais estabelecidos na elite de comando econômico.

A beleza está nos olhos de quem vê, dizia minha mãe, arremato esse ditado popular retomando que ver e enxergar são dois lados da mesma questão, estamos vendo as pessoas ou só enxergando sua existência?

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Mostra celebra a parceria de Dona Ivone Lara e Nise da Silveira pela saúde mental brasileira

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O projeto acontece em Mogi das Cruzes, São Paulo, entre 13 de abril a 18 de maio e conta com atividades gratuitas em cinco espaços culturais da região.

A mostra “Ivone & Nise: um reencontro” é idealizada pela artista visual Mariana da Matta e a multiartista Pâmella Carmo, com o objetivo de eternizar o legado da cantora e compositora Dona Ivone Lara em sua atuação como enfermeira, assistente social e terapeuta ocupacional, especialmente quando trabalhou na equipe da médica Nise da Silveira, no Hospital Psiquiátrico Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, nos anos 1940. A Mostra está aberta para visitação entre os dias 13 de abril e 18 de maio, na Pinacoteca de Mogi das Cruzes, em São Paulo, com entrada gratuita. 

As datas de abertura e encerramento da Mostra foram escolhidas a partir de dois marcos: em 13 de abril, abertura do evento, Dona Ivone Lara completaria 102 anos. Já o encerramento, em 18 de maio, marca o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.

Pela valorização da obra humanitária de Dona Ivone Lara

A ideia da mostra é dar visibilidade para outras facetas da sambista que foram fundamentais para a história do Brasil. O objetivo também é resgatar memórias que se perderam no tempo e que apontam uma das faces do racismo: a invisibilidade de personagens negras em diversas áreas do conhecimento.

Antes de ser a primeira mulher a fazer parte de uma ala de compositores de escolas de samba e passar a dedicar-se somente à música, a sambista trabalhou por 37 anos no Hospital Engenho de Dentro. Sob a supervisão da psiquiatra Nise da Silveira, a jovem Ivone utilizava a música como estratégia de tratamento na seção de terapia ocupacional.

Além de falar sobre o seu trabalho terapêutico com música no hospital, a proposta da mostra busca contribuir com ações de reparação para reconhecer o importante papel da grande dama do samba na construção de metodologias e práticas de cuidados humanizados pioneiros em sua época e local, como a ressocialização e desinstitucionalização de internos.

Serviço

Mostra “Ivone & Nise: um reencontro” | Instagram @ivone.e.nise
De 13 de abril a 18 de maio de 2024
Local da exposição: Pinacoteca de Mogi das Cruzes – R. Cel. Souza Franco, 993, Centro, Mogi das Cruzes – SP 

Programação 

Exposição 
Pinacoteca de Mogi das Cruzes
Abertura: 13/4, das 16h às 20h, com roda de samba às 18h
Visitação: 16/4 a 18/5/24. Terças a sextas, das 9h às 17h. Sábados, das 9h às 12h.

A exposição conta a história de Dona Ivone Lara e Nise da Silveira na saúde mental brasileira por meio de trabalhos de artes visuais e poesia, além de cenografia temática. É incentivada a participação do público na ação, de forma que possam desenhar ou escrever cartas que interagem com a proposta, em um ateliê integrado à exposição.

Atrações musicais

Pinacoteca (abertura): 13/4, sábado, às 18h
Ateliê Sementeira: 20/4, sábado, às 17h30
Congada Santa Efigênia: 27/7, sábado, às 18h30
Cursinho Popular Maio de 68: 4/5, sábado, às 18h

Rodas de samba e poesia com intervenção artística simultânea. Com participação de Pâmella Carmo, Mariana da Matta, Marlene Santana e Angelina Reis (Pretas Bás),Felipe Nogueira, Henrique Nogueira, Silas Xavier e Fernando Sd.

Oficinas – Inscrições neste link

Tenho Estima
Com Midori Camelo
Dia 9/5, quinta, das 18h às 21h, na Pinacoteca.

Tiê: brinquedo e ilusão
Com Vanessa Oliveira
Dia 20/4, sábado, das 14h30 às 16h30, no Ateliê Sementeira.

Tecendo Travessias
Com Mariana da Matta
Dia 16/5, quinta, das 18h às 21h, na Pinacoteca.

VIVÊNCIAS – Inscrições neste link

Pescar no Inconsciente o Estado do Sonho
Com Mariana da Matta
Dia 18/4, quinta, das 18h às 21h, na Pinacoteca.

O Tambu e o Tempo no espiral
Com Pâmella Carmo
Dia 27/4, sábado, das 14h30 às 17h30, na Congada Santa Efigênia.

Laboratório de Escuta de Imagens
Com Elidayana Alexandrino
Dia 25/4, quinta, das 19h às 21h, na Pinacoteca.

Quem são as mulheres invisíveis? Uma escavação ao passado
Com Larissa da Matta
Dia 8/5, quarta, das 19h às 21h, no Galpão Arthur Netto.

RODA DE CONVERSA
Sankofa e as tecnologias ancestrais para produção de saúde integral
Dia 4/5, sábado, das 15h às 17h30, no Cursinho Popular Maio de 68
Bate-papo sobre a atuação de Dona Ivone Lara na saúde mental e sua parceria com Nise da Silveira, a partir do conceito de Sankofa. Serão discutidas também tecnologias ancestrais e práticas culturais e artísticas como recursos terapêuticos. Com Ana Paula Soares, psicóloga e Domenica Almeida, terapeuta ocupacional.

CORTEJO
Ruas do centro da cidade
Dia 18/5, sábado, das 9h às 13h (concentração às 9h, saída às 10h)
Encerramento da mostra com um cortejo pelas ruas centrais da cidade, composto por artistas e público participante das atividades ocorridas nos espaços parceiros. Aberta à população, a ação afirmativa ocorre no Dia Nacional da Luta Antimanicomial e visa difundir a pesquisa sobre Dona Ivone Lara e Nise da Silveira com arte, cultura e saúde mental, por meio de um coro musical e trabalhos artísticos resultantes das ações formativas da mostra. O cortejo é concluído com chegada à instalação, na Pinacoteca, onde é prevista apresentação de canto dos usuários do CAPS e fala de encerramento.

Locais

Pinacoteca – R. Cel. Souza Franco, 993, Mogi das Cruzes – SPAteliê Sementeira – R. Manoel Inácio Silva Alvarenga, 206, Mogi das Cruzes – SP
Galpão Arthur Netto – R. Rui Barbosa, 248, Mogi das Cruzes – SP
Cursinho Popular Maio de 68 – R. Dr. Paulo Frontin, 365, Mogi das Cruzes – SP

Legalização da maconha pauta debate sobre uso terapêutico e recreativo #23

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Nesse episódio apresentamos algumas perspectivas sobre a maconha, desde seu uso terapêutico ao recreativo. Conversamos com a antropóloga e pesquisadora do projeto Drogas: Quanto Custa Proibir, Paula Napolião, e com o Flávio Alves, integrante da Associação Coletivo Reparação Sócio-Histórica – Resh, sobre o uso da maconha, legalizada ou não, ser uma realidade, mas com abordagens diferentes a depender da forma que é utilizada.

Falamos sobre a maconha, do uso terapêutico ao recreativo, e como, legalizado ou não, o uso não deixa de acontecer, independente do formato, mas as consequências não são iguais para todo mundo.

O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google Podcasts, Spotify e Youtube.

Ficha técnica:
Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira
Produção audiovisual – Pedro Oliveira
Identidade visual – Flávia Lopes
Vinheta e edição – Jonnas Rosa

Confira os jovens selecionados para a 8ª edição do Você Repórter da Periferia

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Para a edição de 2024, foram selecionados 20 jovens com prioridade para população negra, LGBTQIAPN+ e com diversidade territorial.

A 8° edição do Você Repórter da Periferia recebeu mais de 120 inscrições de jovens que moram em diversas regiões periféricas. Entre os 20 jovens selecionados, 10 são estudantes do 1° ano do Ensino Superior (até 2° semestre) e 10 são estudantes ou concluíram o Ensino Médio.

A seleção foi realizada levando em consideração idade, raça, gênero, escolaridade e regiões da cidade, buscando abranger um grupo diversificado.

Aos Selecionados: Entraremos em contato por whatsapp para passar as informações sobre o início das atividades e tirar todas as dúvidas que possam surgir.

Aos que não foram selecionados: Desejamos muito progresso em seus próximos passos! Fiquem ligados que em 2025 teremos novas oportunidades no Você Repórter da Periferia.

Confira a lista dos selecionados

  • Roseane Paiva Prates
  • Luan Kevin de Queiroz (Luau)
  • Sthefani de Jesus Oliveira Neves
  • Bruno Evangelista Moura
  • Matheus Maurício da Silva
  • Maria da Conceição de Sousa Silva
  • Thyeli Nogueira
  • Vitor Silva Brito
  • Nathalia cristina da Silva
  • Ana Vitória Evangelista dos Santos
  • Lauane da silva Alves nogueira
  • Patrícia Pereira Brandão
  • Anna Celli dos Santos Faria
  • Ana Vitória Negri da Silva
  • Paloma Martins
  • Luana Costa de Melo Anselmo Cipriano
  • Jennyfer Almeida dos Reis
  • Nicolas Santos de Souza
  • Giovana Mendes
  • Yasmin Rocha Turini
  • Marcia Victoria Ramos Moreira

Foco no esporte

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Nós da quebrada sabemos da importância do esporte para a comunidade. Diversos projetos abordam e procuram trazer para as crianças atividades esportivas para  melhorar e aperfeiçoar o desenvolvimento das mesmas. 

Aqui em Taipas e região, há diversos projetos voltados para o futebol, capoeira, judô entre outros.

O Instituto Grande Vitória Capadócia tem o projeto voltado para as crianças e adolescentes. São aulas de capoeira e judô que são realizadas na semana, geralmente à noite. 

Com isso sabemos da importância desses jovens estarem voltados para algo produtivo e proveitoso.

Na quebrada, o nós por nós sempre funciona, com isso fazem com que os jovens tenham o senso de pertencimento e ajuda a desenvolverem e entenderem o trabalho em equipe. 

Ao decorrer dos textos na coluna vou trazendo mais alguns exemplos de projetos que são desenvolvidos aqui na região.

A consequência dessas atitudes dos projetos são positivas e muda a mente de muitas crianças e jovens que buscam se profissionalizar e seguir carreira no esporte. 

Viva a galera da quebrada, unida, que vai para cima, lutando sempre por um futuro melhor para todos.

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.

“A idade para ser feliz é quando você está vivo”, afirma aposentada Claudete Maia

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“Hoje nós temos condições de viver até 120 anos, como é que você pode falar que uma pessoa de 80 [anos] não pode isso [ou] aquilo? O que ela vai fazer nos outros 20 [anos]?”. Esse questionamento é da Claudete Maia, 68, moradora do bairro Vila Divina Pastora, no distrito de São Lucas, zona leste de São Paulo.

Aposentada, Claudete trabalhou desde os 18 anos como bancária, e entende que a forma como escolhe viver não cabe em padrões. “Enquanto puder fazer, faça. Para quando não puder, ter o que lembrar”, frase que a mãe de Claudete dizia à ela, e que segue colocando em prática.

“Eu sempre gostei de dançar. A minha família era uma família que dançava, eu sempre falo que a gente aprendia a andar e dançar. Eu aprendi em cima dos pés dos meus irmãos”, menciona a aposentada sobre um de seus divertimentos.

Claudete conta que não se casar não foi uma escolha, mas acredita que isso trouxe reflexos nas boas experiências que viveu com viagens e na dança. “Se eu tivesse casado talvez não tivesse feito tudo isso”, diz.

Viagem que Claudete fez para Belém do Pará, em 2022. (Foto: arquivo pessoal)
Claudete na Festa da Chiquita, na cidade de Belém, no Pará. (Foto: arquivo pessoal)

Aproveitar a vida independente da idade não é algo novo para Claudete. Sua mãe, Mazilia Maia, que faleceu aos 88 anos, também tinha essa característica. “Minha mãe com 80 [anos] subia em árvores. Nós fomos para Europa quando ela tinha 80 anos”, conta.

Curtir a vida frente às desigualdades

A princípio, a falta de condições financeiras foi o principal entrave para que Claudete pudesse aproveitar a vida plenamente como ela gostaria. “Nós éramos seis irmãos e quando meu pai faleceu minha mãe ficou com seis para criar”, relembra sobre a infância.

Mazilia, mãe de Claudete, trabalhou como empregada doméstica até os 60 anos, e assim sustentou os filhos que começaram a trabalhar desde cedo, aos 13 anos, para ajudar em casa. Claudete conta que foi a única entre os irmãos que começou a trabalhar aos 18 anos, quando passou em um concurso da Caixa Econômica Federal.

Foi a partir de uma viagem feita para o festival Oktoberfest, em Santa Catarina, com um casal de amigos, que Claudete passou a se permitir e a enxergar possibilidades de conhecer novos lugares. Depois dessa experiência, ela fez sua primeira viagem internacional para o Chile com um grupo de amigos do trabalho que já havia a convidado para ir ao Peru e ela recusou. 

“Como a gente nunca tinha [dinheiro], então ele era priorizado para as coisas da casa”, conta. No entanto, quando surgiu o convite para a viagem do Chile ela resolveu arriscar.

Foto de 1992, quando Claudete viajou para o Chile, na cidade turística Viña del Mar, em Santiago. (Foto: arquivo pessoal)

“Eu pedi um dinheiro para minha irmã e eu tinha comprado um terreno com meu irmão [que] a gente pagava as parcelas. Eu fiz o cálculo e falei ‘vou ficar três meses sem pagar e vou juntar esse dinheiro’. Imagina ficar sem pagar prestação. Mas eu fiquei, [porque em] três meses meu nome não ia ficar sujo. Peguei o dinheirinho e fui passear”, conta Claudete, que afirma ter sido a melhor coisa que fez por si.

“Você vai amadurecendo, e aí consegue sair com menos [dinheiro]. Aprendi a viajar e a dormir em lugares que têm banheiro compartilhado. Geralmente eu viajo sozinha. Pego a minha mochila e vou”, compartilha a aposentada. Ela também conta que conhecer a Aurora Boreal é o próximo sonho que deseja realizar.

“A questão de morar na periferia não tinha muito destaque, era normal enfrentar o transporte público [por exemplo]”, diz Claudete sobre sua dinâmica de morar na periferia, mas também circular para além do seu território. 

“Ser mulher negra nunca me atrapalhou. Só percebi de fato [uma situação de racismo] quando conduzi os trabalhos de uma equipe e um dos meus subordinados não saía para almoçar conosco e só falava comigo sobre trabalho. Depois de algum tempo ele confessou o motivo: ‘Você é uma negra metida”‘, conta Claudete sobre uma das situações que por vezes ocorre com mulheres negras em cargos de gestão.

Corpo em movimento

Claudete praticou yoga durante 10 anos, participava de aulas sobre consciência corporal, pilates e danças brasileiras. No território onde mora, também faz parte da Associação Solidariedança, que a partir da fisioterapia e da dança, atende pessoas com deficiência ou com dificuldade motora.

Claudete com o grupo da Associação Solidariedança. (Foto: arquivo pessoal)

“Como é pertinho [de casa] eu fui para lá e comecei a fazer dança com [as pessoas com deficiência]. Isso foi em 2021 e estou lá até hoje”, compartilha. Atualmente Claudete participa de apresentações de dança cigana e dos grupos Jongo Filhos da Semente, Mistura da Raça e o Jongo de Guaianazes.

Grupo do curso de danças brasileiras (Foto: arquivo pessoal)

No carnaval de 2024, a aposentada desfilou na escola de samba Unidos de São Lucas, e também costuma desfilar com o bloco Unidos dos Palmares. 

Para mulheres que deixam de fazer o que gostam por pressão das construções sociais sobre suas idades ou por receio do que possam dizer, Claudete deixa uma dica: “Tem que agradecer a idade que elas têm e usufruir do potencial, porque se Deus te deu a vida é para você viver. Sabe pecado? Eu acho que isso é pecado, você ter a vida e não viver”, pois para ela “a idade para ser feliz é quando você está vivo”, finaliza.