Adolescência da Netflix expõe a necessidade de olhar atento para os perigos dessa fase da vida

Enquanto Jamie vive cercado por uma rede de apoio, no Brasil, a adolescência é atravessada pela falta de oportunidades e abandono institucional.
Edição:
Aline Macedo

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O lançamento da série britânica, Adolescência,  reacendeu discussões importantes sobre os desafios e os perigos dessa fase da vida.
Desde então, o tema ganhou destaque nas redes sociais, impulsionando uma série de vídeos que analisam os motivos que levaram o personagem principal, Jamie Miller, de 13 anos, a cometer um crime contra uma colega da mesma idade.

Confira o resultado dessa conversa no quinto episódio da quarta temporada do Desenrola Aí 

Apesar de se passar no Reino Unido, o enredo retrata dilemas que também fazem parte da rotina de muitos jovens nas periferias brasileiras.

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Enquanto Jamie vive cercado por uma rede de suporte composta por casa, família e escola estruturada, aqui, no Brasil, a adolescência é frequentemente atravessada pela falta de oportunidades, pelo abandono institucional e por uma rotina exaustiva, que empurra meninos e meninas para responsabilidades muito antes da hora.

Esse cenário é ainda mais alarmante quando se observa que, em 2023, o trabalho infantil fazia parte do cotidiano de 1,6 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos — sendo 65,2% delas pretas ou pardas, segundo dados da Pnad. Esses números revelam como a infância e a adolescência seguem marcadas por profundas desigualdades.

Leandro Rodrigues, psicanalista com mais de 20 anos de experiência em assistência social e atual coordenador do Centro da Criança e Adolescente da Fundação Julita, foi o quinto entrevistado da quarta temporada do programa Desenrola Aí.

Ele destaca que muitos adolescentes não encontram um espaço seguro com os adultos com quem convivem para a escuta e o acolhimento. 

Para ele, a rotina exaustiva e a falta de tempo de qualidade com a família levam esses jovens a buscar apoio, orientação e afeto em colegas da mesma idade.

A ausência de vínculos com figuras adultas abre portas para as redes sociais, onde o machismo, o racismo e os diversos preconceitos se manifestam e transbordam para a realidade.

Casos como a Baleia Azul, o desafio do desodorante e situações em que adultos se passam por crianças ou adolescentes para chantagear ou influenciar negativamente são exemplos reais que afetam os adolescentes” afirma Leandro.

Leandro Rodrigues é psicólogo e trabalha na área da educação com crianças e adolescentes há 20 anos. Foto: Geovanna Santana.

Desde 2024, o Governo de São Paulo estabeleceu o programa das Escolas Cívico-Militares, definido como um modelo de gestão escolar que prevê a participação de policiais militares em atividades educacionais, administrativas e disciplinares.

Leandro questiona a eficácia desse modelo: “Entender os contextos que levam a alguns comportamentos é difícil. É mais fácil punir e transformar o ambiente escolar em um lugar de medo”, diz.

Desenrola Aí

O programa Desenrola Aí é uma iniciativa quinzenal que promove diálogos com especialistas da quebrada, abordando temas relevantes que impactam o cotidiano da população negra e periférica, além dos direitos humanos, que são fundamentais para a convivência em sociedade. O programa é uma realização do Desenrola e Não Me Enrola, Fluxo Imagens e Portal Kintê Notícias, com apoio da Lei de Fomento à Cultura da Periferia, da cidade de São Paulo.

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