Iniciativa promove transformação socioambiental no bairro do Jardim Colombo

Através do projeto Fazendinhando, lixão localizado na zona oeste de São Paulo é transformado em parque que recebe atividades de lazer e arte.
Edição:
Evelyn Vilhena

Leia também:

No Jardim Colombo, bairro que pertence ao distrito do Butantã, na zona oeste de São Paulo, desde 2017, Ester Carro, 29, junto da comunidade local, mobiliza o Fazendinhando, criado com o intuito de gerar transformação territorial, cultural e socioambiental na região. Ester é arquiteta e urbanista, mora em Paraisópolis, mas nasceu e cresceu no bairro do Jardim Colombo.

Ester Carro é idealizadora do Instituto Fazendinhando, arquiteta, urbanista e cresceu no bairro Jardim Colombo. (Foto: arquivo do Instituto Fazendinhando)

“A primeira casa que eu morei ficava de frente para um lixão. Eu sentia o que é morar em frente a um lixão e não poder deixar a sua porta aberta, porque senão entraria ratos e baratas em casa, [tinha] o cheiro ruim também, mas ao mesmo tempo era um espaço [onde] a gente brincava”, relembra Ester. 

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Cadastre seu e-mail e receba nossos informativos.

Essa foi uma das vivências que deu origem ao primeiro projeto do Fazendinhando, que transformou um local que era utilizado para descarte de lixo, em um parque, que foi nomeado pelos moradores como Fazendinha.

Ester Carro, arquiteta e urbanista.

Ester conta que foi após Chico ficar doente e não ter mais condições de cuidar do local, que a área passou por um período de degradação. “As pessoas começaram a jogar muito lixo e esse lixão estava prejudicando a comunidade, porque a Fazendinha não é um espaço isolado, ela fica praticamente no centro do Jardim Colombo e com muitas casas no entorno”, comenta Ester, que ressalta o apoio e a inspiração em seu pai, Ivanildo de Oliveira, líder comunitário na região, ter sido fundamental na criação do projeto. 

Transformação cultural e socioambiental

“Nós realizamos os primeiros mutirões em dezembro de 2017, foram mais de 40 caminhões que saíram com lixo do local, e quando foi julho de 2018, nós fizemos o primeiro festival de arte do Jardim Colombo, na Fazendinha”, conta Ester.

Jardim Colombo
O parque Fazendinha, antes da mobilização social, era um local de descarte de lixo. (Foto: arquivo do Instituto Fazendinhando)

No início, parte da população desacreditava na transformação do lixão em parque. A urbanista relata que apenas o argumento ambiental não era o suficiente para acabar com o descarte de lixo inapropriado e foi através da cultura, da arte e das atividades contínuas no local, que a confiança e a mobilização dos moradores foi conquistada.

“O festival foi um sucesso, porque a gente conseguiu trabalhar com cultura e mostrar para comunidade: ‘olha aqui vai ser um lugar onde os seus filhos vão brincar’. A partir do momento que você tem essa transformação cultural no território, que você tem essa participação da comunidade, eles começam a olhar o espaço com outros olhos”, afirma Ester.

IV Festival Fazendinhando (Foto: arquivo do Instituto Fazendinhando)

Além dos festivais, o local recebe atividades mensais. “Tem rodas de conversa com as mulheres, têm distribuições, principalmente em datas comemorativas, temos oficinas, workshops, eventos, um playground, algo que não tinha dentro da comunidade”, pontua Ester. Ela menciona que os próprios moradores também realizam eventos no parque.

O parque Fazendinha foi inspirado no Parque Sitiê, um projeto que transformou um antigo lixão em uma área verde, na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, realizado por Mauro Quintanilha. Mauro, assim como outras pessoas de fora e da comunidade, estiveram presentes no início do projeto e participaram da construção e do processo de mobilização no território.

A Fazendinha se tornou uma área pública, pertencente à Secretaria de Habitação, no âmbito municipal, que atualmente é a responsável por concluir as obras do parque. “Nós conseguimos, depois de uma luta muito grande que [a Fazendinha] fosse inserida no projeto de urbanização”, conta Ester.  

A urbanista coloca que as periferias, dentro de um contexto amplo, são invisibilizadas no planejamento urbano da cidade, assim como o bairro do Jardim Colombo era uma favela esquecida, e que esse cenário só mudou depois que o projeto repercutiu na mídia.

Ester Carro, arquiteta e urbanista.

Pertencimento e orgulho

Os moradores da região estão inseridos na construção e manutenção do parque, e compõem de forma ativa e de diferentes maneiras as atividades que acontecem no local.

“Na própria construção da Fazendinha, nós tivemos a participação dos moradores, principalmente de jovens, e temos, por exemplo, fotógrafos que são da comunidade, artistas, grafiteiros. Desde a coordenação de alguma ação que vai ser realizada no espaço, até a construção da Fazendinha [os moradores estão presentes]”, exemplifica Ester.

O parque Fazendinha é um dos poucos locais de lazer e área verde na região do Jardim Colombo. (Foto: arquivo do Instituto Fazendinhando)

As crianças são prioridade nas atividades realizadas no local. Segundo Ester, ter um espaço em que elas possam brincar é um dos impactos positivos que o parque proporciona na qualidade de vida na região. O local possui playground e área verde com espaço para correr.

Outros aspectos de melhorias apontados pela Ester se relacionam com a saúde pública, o acesso a uma área verde e de lazer. “Na parte cultural, acaba beneficiando a comunidade também, porque ela traz oportunidades para os talentos da comunidade”, comenta a urbanista.  

Além de um espaço verde, com diversas atividades, a iniciativa trouxe outros reflexos na vida dos moradores da região. “Eu acho que pertencimento tem muito a ver com o orgulho, e o que vejo nos moradores é esse orgulho com a área”, analisa Ester.

Autor

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Cadastre seu e-mail e receba nossos informativos.