Sopa sem letrinhas: a magia de não falar

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Experimente o som das coisas na sua casa, sem planejar, experimente as texturas das coisas, temperaturas, cores, cheiros, sentimentos que te passam, como bem cunhou Renata Laurentino, mana de inventividades, tudo isso é “nutrição para imaginação”, nossa, das crias.

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Foto: Trilha Favela

A construção da linguagem com Malik, tem sido um processo fascinante, empolgante e mágico. Percebo que de um lado, alguns de nós adultos querem a facilidade das palavras, mesmo que essas não sejam lá muita coisa e tenham suas diversas possibilidades de interpretação. Por outro lado, o convívio diário, a constante troca de gestos e olhares, vão avolumando de uma tal forma que de repente, quase que de imediato, você sabe exatamente o que a criança está pedindo.

Lembro-me de uma cena, com a família em casa e Malik resmungava ainda, hoje com 1 ano e 7 meses já possui algumas palavras, mas lá com seus 4 ou 5 meses os resmungos e suas diversas entonações diziam muitas coisas. Enquanto ele resmungava uma das pessoas presentes pegou qualquer coisa e lhe deu, ele explicitou que não era aquilo, levantei de onde estava, peguei o objeto e lhe dei. Ele me olhou, mas me olhou com uma satisfação, parecia agradecer enormemente com os olhos, pois ele já estava ali a uns 2 ou 3 minutos na demanda, o que imagino que seja uma eternidade pra ele, pois conte ai vc até 8 pra ver rs… Eu também fiquei tão feliz e satisfeito rs.

Enfim, muitas vezes buscamos resolver da forma mais fácil e rápida possível, parece que estamos ansiosos à tudo estar dentro do nosso normal e voltar ao normal o quanto antes, a criança precisa aprender as regras da casa, os tempos da casa, os gostos da casa e ela não pode por nada quebrar o que foi construído com tanto empenho na vida do ser adulto. Estou tratando de forma genérica, sobre observações não só na minha família, mas outros tratos com outras crianças que acompanho desde que cheguei a dar aula em creche.

Eu não pesquiso infância, mas diria, por trocas com amigas, amigos e vivências quão rico é pra nós e para a criança esse encontro no parquinho da construção da comunicação, da linguagem, pois falar, se expressar, não é, nem deve, nem nunca foi regido por palavras, sonoras palavras. O corpo fala e muito, vá pra Bahia e veja se com um ‘hum’, tu não diz um milhão de coisas!?

Quando permitimos nos abrir à escuta, nos permitimos a crescer ainda mais e contribuir para o crescer e para o poder de se manifestar, criar e existir de cada criança, elas ficam tão felizes em contar do mundo delas pra nós, a nos levar pelo mundo delas, que vai se vendo uma criança cheia de auto confiança, esmero, carinho e tantos outros adjetivos crescendo e se erguendo ali, na nossa frente.

Acredito que não nos cabe, de forma alguma dar direção, mas contribuir pro caminhar, oferecer ferramentas, recursos para que ao longo de seu crescimento e até ao longo de sua vida, tenha discernimento e capacidade para sonhar, criar, escolher, se relacionar com o mundão. De longe existe receita pra isso, mas acredito sim que no lugar onde duas pessoas, seja qual for a idade que cada uma tenha, num lugar de escuta plena, sincera e disponível, vai ter magia, vai ter satisfação, alegria.

Satisfação né, palavrinha tão importante, o quanto buscamos satisfação na vida. E acho que ela está ali, no lugar onde eu sonho, elaboro, manifesto e usufruo do sonho. Quantos de nós nos permitimos de pequenas ou grandes formas criar caminhadas de satisfação? Porque se tu tem uma cria, então veja de experimentar, mesmo que seja pintar uma parede, mudar o móvel de lugar ou fazer um prato que tanto quer, faz isso, pra tu ter a experiência e as sacadas que vão te dar recurso para auxiliar e facilitar que sua cria também vivencie isso.

Experimente o som das coisas na sua casa, sem planejar, experimente as texturas das coisas, temperaturas, cores, cheiros, sentimentos que te passam, como bem cunhou Renata Laurentino, mana de inventividades, tudo isso é “nutrição para imaginação”, nossa, das crias. Nossa, delicia demais sô!

E chama a gente pra compartilhar, pra trocar, pra crescermos juntes nesse criar, educar, facilitar, seja lá qual for o termo ou nome que dê! Só chama!

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