Rap e funk, culturas periféricas, e ninguém vai nos tirar
Do micro ao macro, nossos ouvidos captam a essência da batida musical que ecoa nas vielas, avenidas e becos, e fica nítido que as periferias respiram música. Na infância, aprendemos muitas musiquinhas, utilizadas principalmente para nosso desenvolvimento com as palavras, auxiliando também as atividades motoras e até mesmo sociais.
“Ciranda, cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta
Volta e meia, vamos dar”
Mais grandinhos, temos acesso a outros conteúdos: músicas mais complexas, com mais reflexão e por muitas vezes nem entendemos o que é dito, apenas imitamos os sons que estão sendo cantados.
Nesse momento, os ritmos se misturam: é forró no carro de som, é um funk na festa de aniversário do vizinho, o gospel no culto da igreja na esquina e o sertanejo vindo da nossa própria casa. Não vou entrar no mérito sobre a lei do silêncio, pois aprendemos a ser silenciadas desde sempre. Minha conversa aqui é sobre a música como cultura, mas é aí que começamos a ter nossas preferências, o que agrada ou não os nossos ouvidos.
Funk e rap são culturas de periferia, fato. Mas de onde vem tanto preconceito? Por vezes, a letra é o motivo para que o som não possa ser ouvido dentro de casa: “essa música é de bandido” ou “essa música fala muita besteira” são frases comuns vindas dos nossos familiares.
E quando a música é apenas a batida, qual é a desculpa? Eu não sou digno de dizer o que é “bom” ou “ruim”, até porque minha opinião é que essa divisão nem exista de verdade, o que me chateia é ver favelados influenciados externamente, não levando em conta a potência musical desses dois estilos musicais, levando artistas periféricos ao auge em pouco tempo, trazendo alegria no fone no busão lotado e anima aquele churrascão de domingo.
Tem funk consciente, funk proibidão, rap consciente, rap proibidão, basta saber o que nosso corpo e nossa mente está pedindo.
Abra seus olhos e seus ouvidos para as sensações que esses estilos nos trazem, revolta, paixão, vontade de rebolar: se expressar, e se expressar é o que muitas vezes a juventude periférica não consegue fazer. Ninguém tem o direito de tirar a expressão de outra pessoa.
Quando criança, lá pelos 8 ou 9 anos, eu e um amigo de rua tínhamos o sonho de ser MC de funk, hoje meu sonho é que o funk e o rap se torne um Patrimônio Cultural Periférico.