Quebrada, quebradinha, vamos todos requebrar

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Quermesse Acapulco Drinks na Favela Inferninho, Capão Redondo – Zona Sul – SP18 | Foto: DiCampana Foto Coletivo

Do micro ao macro, nossos ouvidos captam a essência da batida musical que ecoa nas vielas, avenidas e becos, e fica nítido que as periferias respiram música. Na infância, aprendemos muitas musiquinhas, utilizadas principalmente para nosso desenvolvimento com as palavras, auxiliando também as atividades motoras e até mesmo sociais.

“Ciranda, cirandinha

Vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta

Volta e meia, vamos dar”

Mais grandinhos, temos acesso a outros conteúdos: músicas mais complexas, com mais reflexão e por muitas vezes nem entendemos o que é dito, apenas imitamos os sons que estão sendo cantados.

Nesse momento, os ritmos se misturam: é forró no carro de som, é um funk na festa de aniversário do vizinho, o gospel no culto da igreja na esquina e o sertanejo vindo da nossa própria casa. Não vou entrar no mérito sobre a lei do silêncio, pois aprendemos a ser silenciadas desde sempre. Minha conversa aqui é sobre a música como cultura, mas é aí que começamos a ter nossas preferências, o que agrada ou não os nossos ouvidos.

Funk e rap são culturas de periferia, fato. Mas de onde vem tanto preconceito? Por vezes, a letra é o motivo para que o som não possa ser ouvido dentro de casa: “essa música é de bandido” ou “essa música fala muita besteira” são frases comuns vindas dos nossos familiares.

E quando a música é apenas a batida, qual é a desculpa? Eu não sou digno de dizer o que é “bom” ou “ruim”, até porque minha opinião é que essa divisão nem exista de verdade, o que me chateia é ver favelados influenciados externamente, não levando em conta a potência musical desses dois estilos musicais, levando artistas periféricos ao auge em pouco tempo, trazendo alegria no fone no busão lotado e anima aquele churrascão de domingo.

Tem funk consciente, funk proibidão, rap consciente, rap proibidão, basta saber o que nosso corpo e nossa mente está pedindo. 

Abra seus olhos e seus ouvidos para as sensações que esses estilos nos trazem, revolta, paixão, vontade de rebolar: se expressar, e se expressar é o que muitas vezes a juventude periférica não consegue fazer. Ninguém tem o direito de tirar a expressão de outra pessoa.

Quando criança, lá pelos 8 ou 9 anos, eu e um amigo de rua tínhamos o sonho de ser MC de funk, hoje meu sonho é que o funk e o rap se torne um Patrimônio Cultural Periférico. 


...

Editorial: O Baile da Dz7 é um patrimônio cultural da juventude periférica – Desenrola E Não Me Enrola

Os donos dos ‘olhos que condenam’, sejam eles representantes da sociedade civil ou membros do poder público, precisam urgentemente entender que esse baile funk se tornou um Patrimônio Cultural da juventude periférica.

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