Quem é que não quer chegar nas festas de fim de ano com aquele dinheirinho sobrando, não é mesmo?! A correria na quebrada nunca para, e, pra tirar aquele lazer merecedor, a galera sempre se reinventa para conseguir aquele a mais e garantir um conforto maior nas festas de fim de ano. Em cada esquina, uma banca nova, um carrinho de lanches ou de churrasco, um cooler com água gelada e refrigerante.
A galera trabalha dobrado, cada um tenta conquistar o cliente na simpatia. É a economia viva da periferia pulsando, longe dos shoppings e dos grandes comércios. A economia periférica é feita de laços e trocas que não aparecem nas estatísticas oficiais.
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O pagamento pode ser em dinheiro ou na confiança. O marketing é boca a boca, e o capital é o tempo de quem se dedica. Essa lógica, muitas vezes invisível, mostra outro modelo de economia: mais humana, mais direta e mais solidária. É o oposto do consumo desenfreado e distante das relações que marcam o fim de ano nas zonas centrais.
O fim de ano, para a comunidade, é também tempo de celebrar pequenas vitórias, fechar as contas, garantir o presente das crianças, preparar a ceia com fartura. Porque, quando a quebrada se movimenta, cada um encontra um jeito de transformar o tempo e talento em renda extra.
Mas o corre não é só sobre dinheiro. É sobre dignidade. É sobre o orgulho de fazer parte de uma engrenagem que funciona à sua maneira, longe das normas e das vitrines. É sobre a força que o povo carrega, mesmo quando o sistema não reconhece. O corre é também um gesto político: afirmar que o trabalho da periferia tem valor. Fazer esse extra e poder partilhar para que mais famílias tenham também um fim de ano com tranquilidade e comida na mesa. O corre de fim de ano é coletivo.
Enquanto muitos celebram o consumo, nas periferias o verdadeiro espírito é o da luta coletiva, porque a ideia é uma só, a esperança de recomeçar o ano que está por vir com o pé firme no chão, contas em dia e comida na geladeira.
Mais do que números ou vendas, o verdadeiro resultado do corre de fim de ano está na força que ele desperta de acreditar na própria capacidade, de apoiar o vizinho e de transformar pequenos recursos em grandes conquistas. É esse aprendizado coletivo que se perpetua, ano após ano, fortalecendo os laços da comunidade, mostrando que a quebrada é muito mais do que um espaço geográfico: é um espaço de resistência, crescimento e esperança contínua.
