Mulheres que lutam, mulheres que transformam a periferia!

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Ana Dias, Celina Simões, Elenita Rodrigues, Jussara Basso, Mariana Pasqual, Regina Paixão: Mulheres que lutam! Mulheres que transformam a Periferia! Pedindo licença pra chegar, pedindo licença pra falar das mulheres da quebrada.

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Perus, zona noroeste, São Paulo 2019 – Foto: Dicampana Foto Coletivo

“As mães da periferia de São Paulo, que mais sentem a realidade da vida, vêm pedir aos senhores que tomem providência para baixar o custo de vida, porque o Brasil é uma terra tão rica e as mães choram na hora de pôr a panela no fogo pra fazer a comida pros filhos”

Carta das Mães da Periferia, em 23 de outubro de 1973 – São Paulo. Centro de Pesquisa Vergueiro (Doc. 002_2, Fundo ECO_PRE, CPV)

Pedindo licença pra chegar, pedindo licença pra falar das mulheres da quebrada. Quem nasce na periferia com certeza conhece alguma mulher firmeza, que é responsável não só pelo sustento da casa, mas uma referência no bairro, na igreja, na associação, na creche…

Não é novidade que a importância das mulheres não se limita ao lar. Na quebrada as principais lutas têm tido a participação e a liderança de mulheres.

São várias as frentes encampadas por lideranças femininas na busca pela melhoria da qualidade de vida da população periférica: no direito à moradia, no direito à mobilidade urbana, no direito à educação, por melhorias na infraestrutura dos bairros, em especial nas questões sanitárias de água e esgoto.

Desta forma, olhar para vida dessas Mulheres, refletir sobre suas lutas deve ser um compromisso e ao mesmo tempo uma fonte de inspiração para continuarmos lutando e sonhando com uma outra sociedade! 

Assim, quero aqui trazer, no retorno dessa coluna, algumas lutas assumidas por mulheres que transformaram e transformam a periferia. 

 Antes mesmo de alguns acadêmicos falarem em ou sobre feminismo, a periferia já conhecia esse conceito, pois muitas de suas lutas já eram lideradas por mulheres. Aliás, uma das maiores mobilizações enfrentadas pelos militares durante a ditadura, brotou em solo periférico e foi liderado por mulheres.

O Movimento do Custo de Vida (MCV), nomeado a partir e 1979 de Movimento Contra a Carestia (MCC), foi organizado mulheres participantes dos Clubes de Mães e das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), e sacudiu a ditadura militar na década de 1970, em uma manifestação com mais de 20 mil pessoas na praça da Sé, onde foi apresentado uma abaixo-assinado com 1,3 milhões de assinaturas.

Essa grande mobilização teve à frente inúmeras mulheres, muitas das quais ainda hoje estão em movimento e continuam nos inspirando.

Ana Maria do Carmo Dias – Foto: Rafael Stedile

Ana Maria do Carmo Dias, ao lado de outras mulheres, foi uma das protagonistas desse momento histórico. Ana Dias, como é conhecida, continua em movimento mantendo viva a memória das Lutas e Resistências da ditadura militar e a memória do seu marido Santo Dias, no Comitê Santo Dias.

Ela é uma das “15 heroínas dessa história”, projeto do Instituto Vladimir Herzog, que conta a trajetória de 15 mulheres que tiveram seus familiares assassinados e desaparecidos por agentes do Estado durante a ditadura militar (1964-1985) e transformaram suas vidas em luta por Memória, Verdade e Justiça.

Ana Dias, também é inspiração para jovens pesquisadores da Periferia que em 2018, criaram o Centro de Memória das Lutas Populares Ana Dias (CMLP- Ana Dias), que tem por objetivo resgatar as histórias de vida e luta das moradoras e moradores das periferias da zona sul de SP. Inclusive, neste mês de março, o CMLP- Ana Dias está nos brindando com textos sobre mulheres que transformaram nossas quebradas por meio da vida das lutas por direitos.

Além da memória de luta das mulheres na história da periferia e do Brasil, trazemos neste espaço a importância das mulheres nas lutas e mobilizações atuais.

Aqui na quebrada, as principais lutas, movimentos e instituições são lideradas ou coordenadas por mulheres, como MTST, Sociedade Santos Mártires, Casa Sofia, CDHEP. Não conseguimos aqui apresentar o trabalho de todas neste espaço, mas gostaria de citar alguns desses.

Jussara Basso – Foto: Arquivo pessoal

Um dos principais movimentos de luta por moradia, o MTST, é liderado aqui na zona Sul por Jussara Basso. Mulher, negra e periférica, é referência na quebrada e responsável pelas principais articulações e mobilizações sociais que aconteceram nos últimos anos na região M’Boi Mirim e Jardim Ângela, seja reivindicando os direitos dos sem-teto e toda classe trabalhadora, seja em ações de solidariedade para garantir o direito à alimentação a todes durante a pandemia.

Uma mulher de muita coragem que coordena uma das maiores ocupações urbanas do Brasil, a Ocupação Nova Palestina e hoje está na mobilização para ampliação das cozinhas solidárias do MTST que vem garantindo alimento a milhares de famílias desassistidas pelo Estado.

Regina Paixão – Foto: Arquivo pessoal

Regina Paixão é outra dessas mulheres que colocam a vida em defesa dos nossos direitos. Moradora da quebrada, desde jovem se destacou como liderança em grupos juvenis e de bairro, com muita a coragem e ousadia é uma voz periférica que ecoa em diferentes espaços públicos da cidade São Paulo, em especial nas lutas da Assistência Social, onde foi coordenadora do Fórum da Assistência Social da Cidade de São Paulo (FAS-SP) e atua fortemente ainda hoje, defendendo os direitos da população em geral.

Atualmente, Regina Paixão é presidenta do conselho diretor da Sociedade Santos Mártires, uma das principais organizações sociais da nossa região, zona sul, que há 30 anos desenvolve um importante trabalho nas áreas da Assistência Social, Educação, Juventude, Meio Ambiente e Direitos Humanos.

Sob a sua liderança, durante a pandemia, a Sociedade Santos Mártires organizou a campanha “Jardim Ângela contra o Covid-19”, que ajudou milhares de famílias com mais de 20 mil cestas básicas e milhares de máscaras e kits de limpeza e higiene. 

Celina Aparecida Simões – Foto: Arquivo pessoal

Celina Aparecida Simões, historiadora, educadora, uma das principais referências sobre violência doméstica, com uma vasta experiência e uma sensibilidade ímpar. Por anos, com sua coragem e sororidade, foi coordenadora da Casa Sofia, um Centro de Defesa e Convivência da Mulher, que acolhe mulheres vítimas de violência doméstica.

Também foi gerente do Centro de Defesa e Convivência da Mulher (CDCM) da região de Campo Limpo, onde desenvolveu um trabalho muito importante com mulheres vítimas de violência. Como educadora nata, Celina também foi uma das articuladoras da Rede de Escolas de Cidadania de São Paulo – REC-SP. Como membra da executiva da Escola de Cidadania da Zona Sul, sempre defendeu a importância da educação popular na conscientização da classe trabalhadora. 

Mariana Pasqual Marques – Foto: Arquivo pessoal

Outra instituição e movimento aqui da Sul liderado por Mulher é Centro de Direitos Humanos e Educação Popular, um espaço de referência para efetivação dos Direitos Humanos e com relações na América Latina de Educação Popular. 

Hoje o CDHEP é coordenado por Mariana Pasqual Marques, historiadora, mestra em Educação, pesquisando Educação Popular. Mas o seu conhecimento na Educação popular se dá na práxis cotidiana dos movimentos sociais, há mais de 20 anos construindo o CDHEP, levando a frente importantes discussões e articulações na região.

Elenita Rodrigues – Foto: Arquivo pessoal

A questão ambiental também vem sendo pautada por mulheres na quebrada Elenita Rodrigues, mãe, vó, guerreira, e catadora como ela gosta de ser reconhecida, vem fazendo um trabalho ambiental e de geração de muito importante. Fundou a Cooperativa Recicla Vera Cruz, que agrega catadores e catadoras da zona de sul de São Paulo e da região de Itapecerica da Serra.

Com suas forças e criatividade, Elenita vem pautando a importância das questões ambientais, sendo uma referência na Educação Ambiental para escolas públicas da região.

Elenita nos inspira com seu exemplo de resiliência, com sua preocupação com o próximo e na defesa do meio ambiente. Vale dizer que com muitos materiais recolhidos ela ainda organiza um brechó com roupas que aquece muitas pessoas. 

Precisamos pensar em um livro para falar de tantas outras mulheres de luta que transformam a periferia cotidianamente, fica a dica! 

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