Recentemente, a duplicação da M’Boi Mirim tem sido alvo de novos debates, angústias e promessas. Na última eleição, em 2024, tanto o atual prefeito Ricardo Nunes quanto os demais candidatos falaram sobre essa pauta, especialmente Guilherme Boulos, que ocupava um lugar acirrado nas pesquisas de intenção de voto em relação a Ricardo.
Contudo, esse é um pedido recente da população?
Na verdade, a promessa de realização da duplicação já atravessou diferentes governos, sendo anterior às lutas da população com o Movimento Passe Livre, por exemplo. Quando tivemos as mobilizações pelo Hospital do M’Boi Mirim (que inicialmente seria construído no Guarapiranga, mas, com a pressão popular, foi possível alterar essa decisão), a duplicação já estava em pauta.
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Em 2012, no governo de Kassab, tivemos mobilizações ativas da população pela duplicação da M’Boi Mirim e, apesar da pressão ativa e popular, não conseguimos enxergar uma luz no fim desse túnel de promessas.

Nessa época, eu tinha 12 anos e participei dos protestos do MPL na Zona Sul. Irei deixar uma foto do dia em que alguns integrantes do movimento vieram dormir na associação que meu pai preside. Essa foto é de um dia em que estávamos organizando um ato. Foto de arquivo pessoal.
Em 2013, Haddad assumiu a Prefeitura do Estado de São Paulo. Tínhamos nele uma enorme esperança em relação a diversos encaminhamentos para a Zona Sul de São Paulo e, apesar dos registros no Plano de Metas de 2013 a 2016, nas reuniões não obtivemos respostas concretas em relação a essa reivindicação.
A “duplicação” realizada por ele foi somente a referente à ponte do Jardim Capela, uma obra pequena e que deveria ter tido continuidade por toda a extensão da avenida.
Estamos, então, realizando o aniversário de debutante dessa obra que nunca começa e que parece ser uma forma infinita de conseguir votos. Hoje, com meu pouco conhecimento na área de mobilidade urbana, sei que realizar uma duplicação não sanaria o problema que temos, pelo menos não por completo. O debate de mobilidade precisa ser realizado com profundidade, mas esse não é o foco do texto.
Todavia, o debate desse texto não é esse, e sim o uso constante de uma reivindicação popular para conseguir votos. Na última eleição, Ricardo Nunes citou a duplicação diversas vezes, porém, precisa ser uma informação de cunho público que ele não a incluiu no Plano de Metas de seu governo. Era uma promessa eleitoreira!
A promessa fez aniversário
Assim, a duplicação do M’Boi Mirim já completou diversos aniversários. Poderíamos até realizar uma festa de debutante para ela. Uma reivindicação popular que tem um papel importante na mobilidade do território, que é utilizada para alcançar votação na região, porém jamais realizada.
Todas as semanas, em algum dos dias, muitos de nós temos que descer dos ônibus e caminhar para chegarmos em casa. Essa é uma realidade vigente desde a minha infância. Eu me lembro de caminhar do Jardim Ângela até em casa em diferentes fases da minha vida. Recordo das diversas vezes que cheguei atrasada em compromissos importantes ou no trabalho por passar 40 minutos parada somente no trajeto do Jardim Vera Cruz até a ponte.
Em uma cidade como São Paulo, beira ao absurdo pensar na população sendo exposta a esse tipo de realidade. Apesar das constantes propagandas que o governo faz, a São Paulo verdadeira para, não é rápida e não tem um planejamento efetivo para a população.
A juventude da região, que precisa trabalhar e estudar na região central da cidade, vive com a esperança de sair da região, não pelo ódio ao território, e sim pela exposição a condições precárias de mobilidade e transporte público. Não estamos falando de uma região pequena da cidade. O distrito do Jardim Ângela tem 311.432 habitantes (2022). Já a Zona Sul possui a maior concentração populacional da cidade: são 2,7 milhões de habitantes.
Se a obra já não será mais realizada, onde estão os recursos que foram destinados a ela? Além disso, quais outras alternativas a prefeitura tem pensado para a mobilidade na região?
Ricardo Nunes sempre se orgulha das suas economias, mas economizar sem investir na cidade e deixá-la sucumbir não é economia, é uma política que não pensa no trabalhador.
Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.