Opinião

CEU Cantos do Amanhecer mantém viva a poesia de Virgílio Brígido

Em homenagem ao Dia do Poeta, texto relembra a trajetória do autor de Cantos do Amanhecer e mostra como sua obra ecoa nas atividades literárias e nos saraus do CEU que leva seu nome.
Por:
Fábio Barreto

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O Dia do Poeta (20 de outubro) passou, mas o sentimento ficou! A comemoração, criada em 1976  pelo   Movimento Poético Nacional, merece ser celebrada ainda que tardiamente. E para festejar nada melhor do que juntar e misturar poesia e educação!

O tributo desta publicação vai para Virgílio Brígido, poeta cearense falecido, coincidentemente, também em 20 de outubro (mas, no caso, em 1920, 56 anos antes de se estipular a homenagem a quem escreve em verso), bem como para uma instituição educacional: CEU (Centro Educacional Unificado) Cantos do Amanhecer.

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Cantos do Amanhecer, o livro de estreia de Virgílio Brígido, em 1879, foi publicado em Recife (PE), cidade na qual o poeta cursava Direito, com poemas que escreveu no decorrer de quatro anos (1875-1879).

Capa de Cantos do Amanhecer, de Virgílio Brígido – Foto gentilmente cedida pelo Setor Obras Raras, da Biblioteca Pública Estadual do Ceará (BECE)

Quase cem anos após seu falecimento, a prefeitura de São Paulo, por meio do Decreto 11.504, de 04 de dezembro de 1978, denominou uma das principais vias do Jardim Eledy, no extremo da Zona Sul, com o epíteto: Av. Cantos do Amanhecer.

A toponímia, que estuda os nomes próprios dos lugares, explica a homenagem. A geografia do logradouro favorecia apreciar o alvorecer do dia, um “Canto do Amanhecer”. 

 “Cantos”, como sinônimo de poesia longa, e “Amanhecer”, com o sentido de uma nova criação literária, plurissignificaram os sentidos para interpretar o nome da avenida: paisagem paulistana e poesia cearense num só lugar!

Três décadas depois, na mesma via, a prefeitura de São Paulo construiu um CEU (Centro Educacional Unificado), denominando-o homonimamente: CEU Cantos do Amanhecer.

CEU Cantos do Amanhecer, situado à av. homônima: ambos em homenagem à obra de estreia do poeta cearense Virgílio Brígido (1854-1920). (Foto do arquivo pessoal do autor.)

Virgílio Brígido

Virgílio Brígido – Foto extraída do Instituto do Ceará, do qual foi um dos fundadores.

Virgílio Vóssio Brígido dos Santos ou simplesmente Virgílio Brígido nasceu em 24 de abril de 1854, na Povoação de Santa Cruz-CE (atual Itapajé-CE), e faleceu no Rio de Janeiro em 20 de outubro de 1920.

Advogado, promotor público em Fortaleza, deputado federal e Vice-Presidente por seu estado, Virgílio criou e colaborou em diversos órgãos de imprensa, como A Quinzena, periódico do Clube Literário, e foi um dos fundadores do Instituto do Ceará.  

Dentre suas obras, além de Cantos do Amanhecer, destacam-se Traços Biográficos do General Tibúrcio, Ligeiras considerações sobre as lutas de 1824 e Discurso sobre a seca do Ceará.

Cantos de Poetas

Elizandra Souza e Akins Kintê – Poetas prestigiaram estudantes de EJA da EMEF, em 2011,  na Biblioteca CEU Cantos do Amanhecer (Foto do arquivo pessoal do autor.)

O CEU Cantos do Amanhecer, fazendo jus a sua origem, é um recanto de poetas. A presença de poetas dos Saraus da Cooperifa, do Binho, das Pretas, Mesquiteiros, do RAP é uma constante desde o início das atividades do equipamento educacional.

Também é frequente a vinda de poetas vinculados ao SLAM nas dependências do CEU Cantos (Quadra, Teatro Marisa Dandara, EMEF, Bibilioteca): SLAM do 13, SLAM das Minas e (o recém-criado) SLAM do Sampaio.

Grandes nomes da poesia nacional, como Sérgio Vaz (cofundador da Cooperifa e criador do Poesia Contra a Violência, que já foi indicado ao Jabuti), e Binho (fundador do Sarau que leva seu nome, também indicado ao Jabuti) são assíduos no CEU Cantos do Amanhecer

Além deles, passaram pelo CEU outras dezenas de grandes nomes da poesia como Allan da Rosa (que dentre outros projetos e prêmios, criou o Nas Ruas da Literatura na Rádio USP), Emerson Alcalde (Vice-campeão de poesia, fundador do SLAM da Guilhermina e do SLAM Interescolar), Thiago Peixoto (Poetas Ambulantes, Sarau Baderna, Slam do 13), Rodrigo Ciríaco (Sarau dos Mesquiteiros), Ni Brisant (Editora Trovoar), Akins Kintê (vencedor do 1.° Festival de Poesia de São Paulo) e Elizandra Souza (Sarau das Pretas).

Poeta Sérgio Vaz, em atividade com estudantes na
 Biblioteca CEU Cantos do Amanhecer (Foto do arquivo pessoal do autor.)

A lista prossegue: Márcio Vidal, Zé Sarmento, Marcos Rodrigues (Xandu, ex-aluno do CEU), Poeta Fuzzil, Tawane Theodoro, Poeta Márcio Ricardo, Márcio Batista, Carol Peixoto (SLAM das Minas-SP), Hayara Alves (SARAU RAP), Cocão a Voz, Rose Dorea, Jairo Periafricania, Dona Edite (Patronesse da Sala de Leitura do CEU EMEF Cantos do Amanhecer), Caco Pontes, Márcio Rodrigues, Isaque Paiva, Ryan Farias, dentre tantos(as) outros(as) que, comparecendo com coletivos, impossibilita nomear.

Poeta Binho, na Sala de Leitura Dona Edite (cuja inauguração foi matéria do Desenrola), do CEU EMEF Cantos do Amanhecer, durante gravação do Programa Boas Práticas (TV Cultura), em 2025. (Print do programa televisivo.)

A importância da escola para a poesia

Antonio Candido lembra da importância da oralidade para difusão da literatura no Brasil, no Século XIX, especialmente os gêneros poéticos. Em um país no qual as taxas de analfabetismo eram altíssimas (em torno de 80%, na década de 1870), mesmo nas grandes cidades, os poemas recitados eram memorizados por quem declamava e quem escutava.

No Século XXI,  a situação é distinta, mas a oralidade – ao lado da escrita – ainda é uma grande disseminadora da poesia. A alfabetização se aproxima dos 100% (93,5%, de acordo com o IBGE 2022). O acesso à literatura é, de modo privilegiado, garantido pela escola – quer pela disponibilização de acervo de livros, quer pelo suporte de materiais didáticos e extracurriculares (como vídeos com performances poéticas; isto é, pelo multiletramento), quer, ainda, por projetos como a AEL (Academia Estudantil de Letras).

No CEU EMEF Cantos do Amanhecer, por exemplo, o fomento à leitura e à escrita literárias ocupam posição de destaque no processo pedagógico. Além de livros publicados por estudantes da EMEF do CEU, vale ressaltar experiências – algumas já noticiadas pelo Desenrola e Não Me Enrola –, como a Semana da Literatura, a criação da Sala de Leitura Dona Edite, e AEL Tula Pilar, em homenagem a uma grande poeta negra do território.

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.


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