Apresentações musicais, intervenções literárias, oficinas de argila, lanche coletivo e um bom toque de Maracatu agitaram um grupo com cerca de 20 crianças que participaram da Festa do Dia das Crianças, realizada no último sábado (19), pelo coletivo Mucambos de Raiz Nagô, no espaço cultural do grupo localizado no Jabaquara, zona sul de São Paulo.
Enquanto as crianças corriam e brincavam pelo espaço cultural do coletivo, Adalcir Vieira, também conhecido como Índio, um dos fundadores da iniciativa, organizava o som, microfones, cabos, puxava a água da chuva e recebia os pais e mães que chegavam ao local com seus filhos para participar das atividades culturais dedicadas às crianças.
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Durante a entrevista para o Você Repórter da Periferia, Índio conta que o coletivo tem uma vocação para trabalhar com crianças, e que elas não foram implementadas no projeto como público, mas sim, que as crianças nasceram no projeto, então os filhos dos organizadores e moradores do território foram compondo as atividades do coletivo, com isso, ao longo do tempo o coletivo passou a convidar cuidadores, mães e pais que têm filhos, para participar dos encontros do grupo de Maracatu.
VCRP: Além de ser um dos fundadores, quais são as funções que você tem dentro do projeto?
Eu ajudo na produção dos eventos. Eu sou aquele que faço o contato com os grupos, parte da produção executiva eu que cuido do espaço, ajudo a cuidar dos tambores do Maracatu, ajudo a construir os tambores de Maracatu e realizo oficinas de percussão de Maracatu.
VCRP: Como surgiu a ideia de trazer as crianças para o projeto?
Na verdade não surgiu uma ideia de trazer as crianças para o projeto, as crianças que são filhas dos integrantes foram nascendo. Então a gente precisava de um espaço para acolher as crianças. Então quando nasceu a nossa primeira criança, o meu filho, vimos que não dava mais pra ficar em um lugar aberto. Neste processo, fomos então para a Barroca Zona Sul, escola de samba. A gente ocupou aquele espaço durante 7 meses, aí depois fomos para o Centro de Culturas Negras. E esse ano a gente inaugurou esse espaço nessa intenção de que as crianças possam conviver juntas, convivendo e brincando no Maracatu. Hoje é tudo graças ao tambor, tudo graças ao Maracatu e o que está acontecendo é espelho disso.
VCRP: Como é a autonomia das crianças dentro do projeto?
Elas não têm obrigação, a gente quer que elas façam as coisas e tenham amor, que façam por ternura naquilo que estão fazendo, porque se fizerem por si mesmos a gente entende que é uma possibilidade delas tomarem melhores decisões, quando forem adultos. A gente está sempre fazendo reunião, conversando, amparando, e garantindo que eles tenham um pouquinho mais de responsabilidade e respeito com eles mesmos. Eu não posso escolher para o meu filho que ele seja um músico porque seu pai toca tambor e você tem que fazer música, se ele prefere fazer uma outra coisa, por exemplo, né? É muito mais fácil dele ser um adulto melhor do que eu, e que ele seja um adulto com suas próprias responsabilidades, que faça boas escolhas na sua vida e que vá por um caminho bacana, essa nossa perspectiva é o que estamos tentando fazer.
VCRP: Como vocês pensam na programação cultural das crianças?
Nós idealizamos algumas ideias, mas de acordo com elas. Porque tem coisas que dá para fazerem e outras não, porque a mente da criança também voa longe, no universo deles e tem coisas que a gente é limitado a fazer. Hoje mesmo se não estivesse chovendo a rua estaria fechada e a gente ia jogar futebol na rua com a ideia de resgatar um pouco dessa dessa infância que foi deixada um pouquinho lá para trás. Então a gente tá trazendo ali umas brincadeiras, não tá usando aparelhos eletrônicos, o único recurso eletrônico que a gente tá trazendo é a música. É importante que eles entendam que elas são protagonistas desses acordos pra gente não frustrar elas.