Eleições: Jovem mobiliza mais de 90 pessoas para votar no primeiro turno nas periferias de SP

Edição:
Evelyn Vilhena

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A educadora Martha Gaudêncio montou um posto de atendimento em uma igreja e circulou por cursinhos populares das periferias, promovendo diálogos sobre a importância do voto e incentivando jovens e adultos a emitir e regularizar o título de eleitor.

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A educadora ajudou jovens e adultos a emitir, regularizar ou tranferir o título de eleitor para uma zona eleitoral mais próxima de suas casas. (Foto: Arquivo Pessoal)

Enquanto artistas e influenciadores digitais ocupavam as redes sociais para engajar jovens a tirar o título de eleitor, a educadora popular Martha Gaudêncio, 23, estava circulando as periferias dos municípios de Itapecerica da Serra e da zona sul de São Paulo, para promover espaços de diálogos sobre a importância do voto, participação social e a construção de políticas públicas fundamentais para as periferias.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, em 2018, quase 30 milhões de brasileiros deixaram de comparecer às urnas , com isso, a última eleição presidencial alcançou a marca de maior número de eleitores que deixaram de votar desde 1998.

Enraizada nos movimentos de educação popular das periferias, Gaudêncio é moradora do Jardim Santa Júlia, bairro de Itapecerica da Serra, região metropolitana de São Paulo. Ela é formada em Ciências e Humanidades pela Universidade Federal do ABC (UFABC) e atualmente está cursando a graduação de políticas públicas na mesma instituição.

“Por muitos anos no Brasil, mulheres, analfabetos e negros não podiam votar. Esse processo é muito importante para a gente conseguir reconhecer os nossos direitos e mais que isso, reconhecer como as políticas públicas afetam o nosso dia a dia”

Martha Gaudêncio é educadora popular.

Martha Gaudêncio criou um posto de atendimento em um igreja de Itapecirica da Serra para atender os moradores interessados em votar nas eleições de 2022. (Foto: Arquivo Pessoal)

A educadora enfatiza que durante os diálogos com os jovens e adultos, ela fez questão de relembrar o fato histórico de que o voto no Brasil foi um direito conquistado, informação que muitas vezes não está disponível com fácil acesso para os moradores das periferias.

Foi na Rede Ubuntu de Educação Popular que Gaudêncio começou sua trajetória como educadora popular. A iniciativa que busca inserir estudantes de escolas públicas no ensino superior foi o principal parceiro da educadora para impactar os jovens moradores das periferias.

Cerca de 150 jovens da Rede Ubuntu de Cursinhos Populares foram impactados pela proposta de educação cívica de Gaudêncio, que realizou rodas de conversa sobre a história do voto, a importância da participação social e a construção de políticas públicas para a garantia de direitos.

Além disso, ela atendeu 97 jovens e adultos que moravam nos bairros onde ela realizava as palestras e atendimentos na igreja. O público ia até ela, pois estavam com dúvidas para emitir o primeiro título, regularizar o documento ou transferir o local de votação para outra zona eleitoral.

“Tem inevitavelmente um pouco de formação cidadã, né”

Martha Gaudêncio atua como educadora popular na Rede Ubuntu de Educação Popular.

Ao lembrar que é uma das primeiras pessoas da família a acessar a universidade, a educadora reflete e reconhece que sua mãe, pai e avós não tiveram a mesma oportunidade ou política pública para usufruir deste direito fundamental que é o acesso à educação superior.

Esse interesse em fomentar espaços de diálogo sobre direitos sociais e participação política com jovens das periferias levou Martha a se tornar coordenadora da Pastoral Fé e Cidadania da Paróquia Jesus de Nazaré e Secretaria de Juventudes do Partido dos Trabalhadores (PT) em Itapecerica da Serra.

Uma das estratégias utilizadas pela educadora para chamar a atenção dos jovens durante os diálogos é discutir a presença ou ausência de políticas públicas no bairro onde eles vivem.

“Essas conversas sempre partem de uma perspectiva territorial. Então é chegar e falar: ó, a gente que mora aqui no fundão se o metrô saísse do Capão Redondo e viesse até o Jardim Ângela ia melhorar a nossa vida, não ia? Aí todos eles reconhecem que sim. Aí eu falo que o fato de ter ou não uma estação de metrô no Jardim Ângela é uma decisão política”, detalha Gaudêncio sobre uma de suas estratégias de educação e engajamento cívico com os jovens.

O próximo passo, segundo a educadora, é debater como a ausência dessas políticas públicas afetam o cotidiano dos jovens e de seus familiares, como forma de ampliar a percepção deles para essas questões fundamentais que muitas vezes não são discutidas dentro do ambiente familiar ou no seu convívio social.

“Eu acho muito legal, porque isso faz com que os jovens vão criando uma consciência sobre o quão importante é você entender de fato o que tá acontecendo, quem são os nossos representantes e tudo mais”, diz.

Cerca de 150 jovens da Rede Ubuntu de Cursinhos Populares foram impactados pela proposta de educação cívica da educadora popular. (Foto: Arquivo Pessoal)

Voto jovem e participação política 

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Brasil ganhou 2.042.817 novos eleitores com idade entre 16 e 18 anos, um aumento de 47% em relação ao número de jovens que tiraram título de eleitor nas eleições presidenciais de 2018.

Esse também foi um dos principais motivos que incentivaram Martha a organizar um plantão de atendimento em uma igreja católica na periferia de Itapecerica da Serra.

“Falei com o padre da Paróquia Jesus de Nazaré e ele me deu abertura para realizar a campanha. Peguei uma mesa, uma cadeira, um computador e comecei a divulgar nas redes sociais que a gente já tá lá tirando e regularizando título de eleitor de pessoas aqui na periferia de São Paulo”, relembra ela.

Como resultado deste processo, a educadora relata que impactou 97 pessoas atendidas no posto da paróquia. Além disso, chegaram 19 contatos de pessoas via WhatsApp, pois não conseguiram ir até igreja. Segundo ela, os moradores mandaram mensagem com as informações para realizar o atendimento online.

“Tem pessoas que vieram do nordeste para cá, que vieram da Bahia e Pernambuco e nunca tinham transferido o título para Itapecerica”, relata.

A conclusão do processo ocorreu nos polos do cursinho da Rede Ubuntu de Educação Popular, onde 37 jovens tiraram o primeiro título de eleitor. “Foi muito legal perceber que as pessoas realmente estavam interessadas em tirar o título. Atendi jovens com 17 anos que irão votar por livre e espontânea vontade”, finaliza.

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