O questionamento que nos provoca a refletir o futuro do país é: como pensa o povo brasileiro diante dos representantes da disputa eleitoral e os valores defendidos por classe política?
O ano de 2022 tem imposto uma série de discussões sobre o papel de cada um diante do cenário de crise absoluta instalado nos últimos anos em relação às eleições.
De grosso modo, isso significa um debate intenso dos valores da população brasileira e “o que nos trouxe a essa crise?”.
De modo objetivo, a crise política tem um efeito degradante às instituições democráticas e ao Estado brasileiro como um todo. Ela é o canal por onde passam setores fundamentais da organização social e cotidiana na vida dos cidadãos.
O questionamento que nos provoca a refletir o futuro do país é: como pensa o povo brasileiro diante dos representantes da disputa eleitoral e os valores defendidos pela classe política? Aqui, posso dizer, que o modo como um povo pensa é reflexo do modo como esse povo vive.
Novamente, a grosso modo, trouxe o paralelo entre esses dois dados, porque, na dinâmica que definiu, em 2018, parte do resultado eleitoral entre o Ex-ministro da Educação Fernando Haddad e o atual presidente Jair Bolsonaro, estavam os valores desse grupo e a sua relação íntima e complexa com a realidade como um todo e a sua própria realidade em particular.
Os últimos 20 anos tem representado a intensa e constante mudança na vida econômica dos mais pobres. O que significou mudanças no padrão de vida através do consumo e se revelaria um problema em meados de 2014, para o PT, com aumento do valor de produtos básicos ou essenciais.
É em um contexto de busca por uma figura capaz de reverter essa crise, que se converteu em uma crise de valores (político, institucional e econômico), que o golpe à ex-presidenta Dilma em 2016, traria a tona o esforço populista da extrema direita: da escória militar golpista aos liberais ressentidos com a derrota nas eleições de 2014.
Valores como trabalho, honestidade, família (a cristã em particular), sexualidade, autodefesa (ou o uso da violência, no caso) apareceram como personagens que entregaram a faixa presidencial a quem parecia ser o seu mais legítimo representante no campo de batalha pela mente do povo.
Essa trama revela um atraso ou mesmo uma inoperância política dos campos progressistas e de esquerda (com seus dirigentes brancos) num debate mais complexo. A identidade tem um relacionamento profundo com as interações de grupo; o comportamento; o consciente e o inconsciente coletivo em torno da realidade.
Ao lado esquerdo da força petista, está o medo de contrapor determinados valores e “exige” a busca de personagens como o violento ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Já do lado do escárnio bolsonarista, está a busca para se manterem representantes dos valores cristãos, e mesmo com o fracasso planejado do governo Bolsonaro, segue com muitos apoiadores.
A vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas diz algo simbólico: o valor do trabalho aparece como um grande guarda-chuva de temas urgentes como a fome e o desemprego. Temas que afetam diretamente como pensa o povo a sua realidade coletiva (como está a sociedade e as instituições) e em particular (a família).
Do outro lado, o crescimento nas pesquisas do candidato à reeleição, também demonstra que há pensamentos ressuscitados diretamente da ditadura (1964-1985) e de que os “valores cristãos” para permanecerem no poder, devem enfraquecer a democracia.
Por último, com a possível vitória do ex-presidente, de que modo pautas impopulares levantadas por movimentos sociais vão protagonizar um novo desenho das relações institucionais do Estado brasileiro com a população negra, as mulheres, os povos indígenas e quilombolas, e sobretudo, com as periferias: a guerra às drogas (ou às favelas), racismos institucionais, aborto, impactos ambientais decorrentes do agronegócio e da mineração e especulação imobiliária, etc., não podem ser secundarizados ou inexistentes!