Após perder a perna, Luiz encontrou na modalidade uma oportunidade para se tornar jogador e continuar fazendo o que ama.
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Foi nas ruas, junto com os amigos do Jardim Ângela, zona sul da cidade de São Paulo, que Luiz Cláudio Pereira dos Anjos, 18 anos, descobriu uma grande paixão: jogar futebol.
As partidas nas margens da represa do Guarapiranga, em São Paulo, faziam parte da rotina dele e dos colegas de bairro até seus 13 anos. Foi nesta idade que ele foi atropelado na rua de casa e ficou sem a perna direita. Desde então, o jovem começou a praticar a modalidade de futebol para amputados.
Em uma tarde, depois do almoço, Luiz foi para rua jogar vôlei com o irmão do meio, Erick, 19, e outros colegas do bairro, quando uma pessoa passou de moto fugindo da Rocam – Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas e o atropelou.
Ele ficou por mais de 40 minutos esperando a ambulância e amparo médico. No hospital, foi diagnosticado com trombose e recebeu a notícia de que a perna direita precisaria ser amputada.
Mesmo com o choque, Luiz não se deixou abalar:
“Pra falar a verdade, eu tive uma força surpreendente, porque depois de um mês eu já estava fazendo fisioterapia e jogando bola”
Por conta das condições financeiras da família, Luiz foi criado pela avó Eulina, as tias Sueli e Roseli, e o irmão mais velho Caio, de 24 anos. No mesmo ano do acidente que o deixou amputado, ele também perdeu a avó, vítima de dois derrames e um começo de AVC. Com a ausência da avó, o atleta foi morar com a mãe Viviane Pereira, 39, e todos sempre se deram bem.
O jovem descobriu o futebol para amputados por meio da fisioterapeuta que o apresentou para a professora Erika de Castro do Bola pra Frente, time de atletas amputados do São Paulo. Desde então, o atleta ressignificou o futebol em sua vida e se não fosse a pandemia, disputaria sua primeira Copa do Brasil na modalidade.
Para Luiz, a melhor parte do esporte foi a identificação que ele teve com os outros atletas amputados:
“Eles vivem a mesma coisa que eu, ninguém é diferente de ninguém, mas nois se sente à vontade quando tá nois tudo porque todo mundo passa pelas mesmas coisas”
As amizades dentro e fora de campo foram essenciais nesse processo. No esporte, ele encontrou pessoas importantes como Alex Sandro, atacante da modalidade: “Ele me ajuda em tudo”, dispara Luiz, que encontrou no amigo a inspiração que precisava para seguir carreira no futebol.
Para “Robinho”, apelido que Luiz ganhou dos colegas por conta das pedaladas e do jeito de jogar igual do atacante Robson de Souza, o apoio dos colegas de bairro também foi essencial para ele dar a volta por cima e vencer por meio do esporte.
“Amigos que eu nem imaginava que eram amigos mesmo. Minha mãe até falava: ‘nossa, você tem bastante amigos mesmo’. E levavam Danone, faziam umas compras e levavam, cesta básica, o pessoal tava do lado mesmo […] até celular os caras compraram: ‘vai ocupar a mente’, eles disseram”, compartilha.
Dando a volta por cima
Por conta da pandemia da covid-19 e por um desentendimento que teve com outro jogador do Bola pra Frente, o atleta ficou 8 meses sem treinar. Com o desânimo, saiu do time e pensou em desistir do esporte.
Luiz estava sozinho em casa quando recebeu a ligação de Alexandre, que também é atleta do futebol para amputados e coordenador da modalidade no Ajax, falando que estava convocando alguns jogadores, e convidando Luiz para a partida que ele ainda não sabia, mas se tornaria a mais especial da vida dele.
Por conta de uma iniciativa dos times Ajax, localizado na Vila Rica, na zona leste, junto com o Vila Izabel, time de Osasco, zona oeste de São Paulo, no dia 01 de agosto de 2021, aconteceu na Toca da Coruja, o primeiro jogo de futebol de amputados na história da várzea paulistana.
Atletas que já atuavam na modalidade jogaram com outros que estavam entrando em campo pela primeira vez na vida. Nesse jogo, Luiz estava sem treinar há alguns meses, mas conseguiu se destacar, fazer dois gols pelo Ajax e recebeu um convite.
“O goleiro que é do Corinthians estava lá nesse jogo, ele tomou 2 gols e falou pra mim no final: ‘vou mandar mensagem lá pro Corinthians’. Quando foi na segunda-feira o técnico do Corinthians me ligou”, relata empolgado.
Ele conversou com o técnico, foi contratado pelo time e no dia 10 de agosto de 2021 teve o primeiro treino como jogador do Corinthians Mogi das Cruzes. Para ele, iniciativas como essa que visam a inclusão e apresentação de novos atletas, são importantes para fomentar sonhos em pessoas que enxergavam essa realidade como distante.
Depois desse dia, ele carrega um carinho pela partida que abriu novas portas para sua carreira: “Foi a mais importante pra mim. Foi uma partida que eu vi que conseguia jogar, que consigo fazer, que é necessário, aí deu pra sentir mesmo a vontade de jogar”, conta.
Atualmente, Luiz está focado no futuro como atleta e não pensa em outra coisa além de futebol. O apoio dos amigos e parentes é essencial para ele seguir na luta. “Se eu parar eles me matam”, brinca.
Enquanto aguarda ansioso para que a modalidade um dia faça parte das paraolimpíadas e o esporte receba um maior incentivo de patrocinadores, o seu maior sonho é fazer parte da Seleção Brasileira de Amputados ou ser contratado para jogar em algum time do exterior: “Essa é a minha meta!”, afirma esperançoso.