No piso térreo do Centro Educacional Unificado (CEU) São Pedro, localizado no distrito de José Bonifácio, zona leste de São Paulo, o dançarino Renan Alves, morador de São Miguel Paulista, ocupa uma sala equipada com espelho e uma caixa de som. Neste espaço, ele ensina crianças, jovens, adultos e idosos, que querem descobrir o mundo da dança, por meio de aulas gratuitas realizadas no final de semana no equipamento público de educação da prefeitura.
Desde criança, o jovem dançarino relata que gostava de dançar. A história dele com a dança ganhou um novo capítulo quando ele completou 15 anos, e um professor conseguiu uma bolsa de estudos para Renan aprender dança clássica em uma escola de dança.
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“Quem tem acesso à arte e cultura? A quem isso é dado é oferecido como meio de trabalho?”, questiona o jovem educador, ressaltando a dificuldade de moradores das periferias, assim como ele próprio, de acessar esses projetos e espaços públicos.
Hoje, com 18 anos, ele permanece estudando dança, mas sente que precisa passar esse conhecimento adiante, para que outros moradores das periferias que não têm acesso à arte e espaços de cultura em seu bairro, conheçam e se inspirem com o universo da dança.
VCRP: Como que o balé e a dança surgiu na sua vida?
O balé surgiu por meio de um projeto social de uma igreja que eu frequentava. Depois disso, um professor me passou para uma escola de formação profissional, ele conseguiu uma bolsa para mim e eu tô lá até hoje.
VCRP: Como seria o seu trabalho se não houvesse esse espaço aqui no CEU São Pedro ?
Não teria trabalho, porque é aqui que eu ganho meu dinheiro, é aqui que eu dou aula. Na verdade, eu ainda sou estudante. Não sou formado em dança clássica, então seria muito mais difícil para mim procurar um trabalho que não fosse aqui, na rede do CEU.
VCRP: Como surgiu a vontade de ensinar?
Quando eu entrei na dança, eu não era muito bom, porque ninguém começa bom em alguma coisa nova, então eu comecei a estudar muito e ler muitas coisas. Então, eu fui adquirindo um repertório teórico e vi que as minhas explicações para os meus amigos eram muito mais embasadas, graças a todo esse estudo, e foi aí que eu vi que tinha uma coisinha ali para ensinar.
VCRP: Qual o seu público?
São crianças de 4 até 100 anos. Enquanto estiver andando, venha dançar! Para mim, não tem idade para dançar, não existe idade limite para quem quer aprender, porque a dança é movimento, então enquanto você se mexe, você pode dançar e pensar também que não é uma competição. Pensa que é uma caminhada que você faz todos os dias e que se você for competir com alguém, você vai competir com você mesmo todos os dias, para ser melhor do que ontem.
VCRP: Como você ensina adultos e crianças?
Eu mudo o estilo da aula dependendo do perfil de público. Vai depender muito para quem eu tô dando aula, por exemplo, a criança vê a dança como um mundo mágico, como um desejo de vida, eu sinto que é um impacto muito positivo. Agora para quem é adulto, a dança surge como um espaço de lazer ou até de refúgio. Aí é outro rolê, porque eu penso mais que essa dança precisa ser algo confortável para esse adulto.
VCRP: A arte da dança é acessível na periferia?
Eu penso que não é interessante para as classes dominantes formar artistas periféricos, formar produtores de culturas periféricas, até porque eles prendem a gente na mão de obra, então para que tipo de mão de obra a gente serve? Acho que por isso é muito mais difícil o caminho para quem é da periferia.