Roteirista fala sobre acesso, oportunidades e barreiras da cultura geek nas periferias

Thina Curtis, moradora de Santo André, conta sobre desafios e avanços no mercado da cultura geek, sendo mãe, periférica e escritora.
Por:
Leila Ramalho e Lucas Patrick
Edição:
Evelyn Vilhena

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Roteirista de fanzine há 38 anos, Thina Curtis, 49, moradora de Santo André, no Grande ABC, foi uma das expositoras do espaço Beco do Artistas, na 4° edição do Perifacon, realizado na Fábrica de Cultura Diadema, na Grande São Paulo, em julho deste ano. Essa foi a primeira vez que Thina expôs no evento, que busca democratizar e aproximar a cultura geek das periferias. 

Durante o Perifacon, a roteirista apresentou uma de suas produções, o livro “Brazineiras”, que fala sobre o trabalho de mulheres que produzem fanzines. Thina conta das suas experiências, desafios e conquistas no mundo geek enquanto mulher periférica, artista e mãe.

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O que você enxerga como diferencial dentro desse mercado comparado com quando você começou? 

Melhorou muito, antes não se via tantas mulheres, lgbtq, não bináries, pessoas negras, que praticamente a gente não via, principalmente no mercado de cultura pop. Eram 10 homens, para 1 mulher e olhe lá, então hoje em dia a gente consegue ter uma voz, fazer algumas coisas, tem muito mais coletivos de mulheres pensando no mercado pop.

O que te motivou a fazer o livro Brazineiras? 

Necessidade! Pensei que quando eu comecei eu não conhecia mulheres que faziam, e ainda hoje quando vou dar palestras, quando eu circulo, as pessoas falam: ‘Nossa eu não sabia que tinham tantas mulheres fazendo tantas coisas’. Mesmo a gente estando em um mundo tecnológico, o impresso é necessário, ele dialoga de uma maneira que é um registro, de saber a história dessas mulheres, porque está sendo apagado. Estamos morrendo, estamos fazendo outras coisas e a trajetória que a gente está fazendo está sumindo.

Quando você entendeu que a arte do fanzine seria o seu trabalho?

Eu entendi em um momento bem complicado. Eu me separei do meu primeiro marido e eu precisava trabalhar, e eu entendi que não gostava de outra coisa. Aí um dia uma ONG me ligou, [falaram] que eles estavam precisando de pessoas para dar oficina de fanzine, nesse período meus filhos estavam na adolescência, eu banquei a casa, estudos, e ali eu percebi que eu tinha virado a chave. Uma oportunidade que era um trabalho sério. Você [sendo] mãe solo, principalmente artista e periférica, a gente tem várias dificuldades que te colocam mais pra baixo da escala.

Como é para você, como mãe, estar ativa nos eventos para divulgar seu trabalho?

É difícil, você tem que começar uma semana antes a se programar, tem que ter uma rede, é a pré-produção para um evento. Arrumar uma mala com roupas, comida, livrinhos, brinquedos, mas eu acho importante inserir a criança, não só eu como artista, mas como mãe eu traria, principalmente aqui, um evento voltado a literatura também, algo que a gente não tem na região.

Como é para você ver esse tipo de evento dentro de um equipamento cultural público?

Eu brigo por isso há anos, inclusive eu sou conselheira setorial geek, aqui em São Bernardo, e a nossa maior briga é política pública. Se a gente não tem o hábito, as pessoas não têm pertencimento, pois elas acham [que] é uma coisa nerd, a biblioteca vive vazia porque acham que não pertencem a esse lugar, então eventos assim não trazem só a multidão, mas plantam a semente.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação da 8° edição do Você Repórter da Periferia (VCRP), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2013, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

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