Envolvida com a prática da capoeira desde os 7 anos, e com a dança vogue a partir do 13 anos de idade, Krystal Fokatrua, 26, uniu as duas linguagens, e a partir dos seus estudos passou a dar aulas de Capoeira Vogue na USP (Universidade de São Paulo). Além de instrutora da prática, Krystal é chef de cozinha e atualmente trabalha em um restaurante no centro de São Paulo.
Nascida em Além Paraíba, município de Minas Gerais, após passar por muitos estados, a artista se mudou para São Paulo aos 17 anos, mas conta que foi em 2022, que decidiu superar as estatísticas que limitam a existência de pessoas trans e indígenas.
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Krystal compartilha sobre as dificuldades desde a infância, incluindo viver em situação de rua ao retornar para São Paulo, e como se envolveu em atividades culturais, como produção de festivais, eventos artísticos e a influência da capoeira vogue na construção de sua identidade.
Como você começou a se envolver com a Capoeira Vogue e como isso conecta a sua trajetória?
A capoeira eu comecei a estudar de sete para oito anos de idade e o Vogue eu comecei a estudar com 13 anos. Desde que eu comecei a estudar o Vogue também conhecia a dança contemporânea que me trouxe uma possibilidade de mesclar ritmos [e] culturas. Minha mestra me [mostrou] um vídeo de [outro] mestre de capoeira [que juntava] capoeira com dança contemporânea [aí] me veio a ideia de trazer a Capoeira Vogue também. Entendendo que era a corporeidade que o meu corpo se expressava, que as pessoas apontavam ‘você está fazendo Capoeira Vogue’, que não é só Capoeira e não é só Vogue, tem uma conexão, uma junção, uma fluidez entre uma coisa e outra que é nítida de se ver.
Como a estética e o ritmo da Capoeira e do Vogue se complementam em uma apresentação?
Quando as batidas tocam. Acredito que quando o movimento vem de dentro ele só acontece quando a gente sente tanto [o] feeling de um, como outro. E como também os instrumentais se conectam de uma forma que faz com que o corpo se mova.
De que forma a capoeira vogue está ligada a outras lutas sociais e políticas da comunidade LGBTQIAPN+ nas periferias?
No grito por existência, por pertencimento, por se entender em um lugar de que você resgata a sua ancestralidade através da sua corporeidade, através daquilo que você é, não através daquilo que te atacam para ser e todas essas culturas elas trazem isso à tona em todos os seus gestos, movimentos, histórias e fundamentos. Como elas foram fundamentais com gestos de resistência, de luta e de pertencimento à própria existência.
Como essa prática pode ser uma forma de resistência e empoderamento para a comunidade LGBTQIAPN+?
Como estratégia de jogo, de marketing, de ser malandra, de ser fluída, sensível, mas também de ser bruta, de saber quebrar o aço, se defender quando necessário. Então é importante no empoderamento social, onde a gente vive um país que mais massacra tanto pessoas periféricas negras, trans, indígenas. É parte dessa pluralidade de entender que você não está só, que você tem a possibilidade e a capacidade de se manter existindo.
Como a presença da capoeira vogue em eventos periféricos pode abrir discussões sobre raça, gênero e sexualidade?
Com certeza a partir do momento que a gente pensa e aceita que cada ser é um ser. Tanto na Capoeira como no Vogue a gente aprende que você tem o seu jogo, o seu gingado, o seu Kant. É aquilo que você desperta em você, aquilo que você vai acordando em você de acordo com a sua convivência social, de acordo com aquilo que a gente pode estar coletivamente criando estratégias para poder estar resistindo e prevalecendo no sentido de só existir.