“A gente é indígena onde estiver”, diz Ketelyn Andrade, indígena do povo Pankararu

Jovem conta como as trocas com os mais velhos influenciam na preservação dos saberes dos povos indígenas em contexto urbano.
Por:
Gabriel Nascimento
Edição:
Evelyn Vilhena

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Ketelyn Andrade, 20, moradora do Grajaú, na zona sul de São Paulo, é indígena do povo Pankararu, que assim como muitos do seu povo vieram de Pernambuco para São Paulo, por questões socioeconômicas envolvendo o território. A jovem foi uma das participantes do Encontro Anual Pankararu 2024, realizado em agosto, no bairro do Real Parque, distrito do Morumbi, na zona sul de São Paulo.

Através do que aprende com os mais velhos, Ketelyn conta que está comprometida em passar os ensinamentos ancestrais para as próximas gerações de Pankararus, assim como já faz com seu irmão e primos. 

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Em qual papel você se vê na continuidade da sua cultura?

Quando tem alguma representatividade em algum outro local eu procuro sempre estar ajudando. Também representando, porque eu levanto muito a pauta de sermos [indígenas] do contexto urbano, porque algumas pessoas desconsideram ser indígena e ser Pankararu por conta de morar no contexto urbano, no meio da cidade de São Paulo. Então isso é uma das coisas que a gente representa muito, que não é só porque estamos no meio da cidade que deixamos de ser indígenas. A gente é indígena onde estiver.

Como enxerga a interação cultural entre os mais novos?

A gente sempre preza e procura falar mais com os mais novos. Explicar para eles as nossas culturas, eu me considero uma mais nova, né? E cada dia que passa eu aprendo bastante, mas também tem meu irmão que as coisas que aprendo também procuro passar para ele, tem meus primos. A gente sempre preza bastante para eles terem o entendimento e conhecimento, porque um dia não estaremos aqui.

Como esse evento, os rituais e tradições reforçam essa relação?

Aqui é uma forma da gente agradecer. O evento é super importante, porque é uma forma de se conectar com a nossa espiritualidade. Durante o ano todo a gente pede proteção, saúde, esse é o momento que a gente pode estar agradecendo. [Também ter] nosso momento de ritual, de espiritualidade, coisas que a gente não consegue fazer com frequência, e isso é super importante, [com o encontro] a gente consegue ter essa conexão, graças a esse evento que a gente faz todo ano.

Como enxerga o futuro dos povos indígenas em relação ao território?

Eu vejo um povo com muito mais força, a gente conquistou bastante coisas, mas ainda creio que tem mais coisas para conquistar. Vejo nossa população crescendo, vejo mais Pankararus, mais indígenas e eu vejo uma uma força maior onde a gente possa lutar com os nossos parentes, onde a gente possa ter voz, poder falar e ter [nossa] voz escutada.

O que mantém essas tradições tão vivas ao longo do tempo?

[Passar] para os mais jovens e [praticar] nossos rituais, nossas crenças, a gente permanecer. Mesmo longe da aldeia, mas que continue agradecendo, continue acreditando, crendo, tendo fé. Passar para eles todas as nossas histórias, para que eles tenham consciência de ‘poxa, [são] meus ancestrais, né?’. Os povos mais experientes passaram por uma dificuldade [que] antigamente foi uma luta imensa só para poder ter o que tem hoje, então é sempre procurar melhoria para o seu próprio povo.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação da 8° edição do Você Repórter da Periferia (VCRP), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2013, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

       

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