Entrevista

“Sarau do Binho, Sarau da Suzi”: o protagonismo da produtora que há 20 anos atua na cultura periférica

Através do Sarau do Binho, a produtora cultural, Suzi Soares, fomenta a arte e a literatura nas periferias da zona sul de São Paulo.
Edição:
Evelyn Vilhena

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Conhecida no cenário cultural, principalmente na zona sul de São Paulo, como a Suzi do Sarau do Binho ou da Felizs, para quem convive com ela de perto, Suzi Soares, 57, é conhecida também por ser uma boa cozinheira. “Eu tenho essa preocupação de estar alimentando as pessoas”, comenta a produtora ao contar que herdou esse hábito dos pais.

Suzi é produtora cultural e co-fundadora, junto com seu companheiro Binho, do Sarau do Binho. O coletivo literário foi um dos primeiros movimentos culturais do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, e existe oficialmente desde 2004. Território que faz parte da história do sarau e também da Suzi.

Eu nasci, cresci eestudei aqui [Campo Limpo]. A gente já fez sarau na escola onde eu estudei, eu e o Binho estudamos na mesma escola. A gente se conhece há 40 anos [e desde então] a gente está junto

Suzi Soares, moradora do Campo Limpo, produtora cultural e cofundadora do Sarau do Binho.

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Suzi e Binho, na Praça do campo Limpo com o grupo Candearte. (foto Sheila Signário)

As primeiras articulações em que Suzi passou a atuar começaram em 1993, ano no qual ela e o companheiro Binho montaram o primeiro bar, que funcionou por 10 anos, em frente à Escola Presidente Kennedy, onde os dois estudavam, no bairro Vila Pirajussara, distrito do Campo Limpo, São Paulo.

Depois, eles abriram outro bar, no bairro Jd. Campo Limpo, também no Campo Limpo. “Ficamos ali mais nove anos, e a gente começou a fazer o sarau. Começamos esse movimento na zona sul, conhecemos muita gente da literatura e de outras artes através do bar”, conta Suzi.

“O bar não tinha nome, mas como o Binho era a pessoa do bar, ficou o Bar do Binho, aí por ser o bar do Binho, ficou Sarau do Binho”, relata Suzi sobre a criação do nome do coletivo que tem origem da época em que realizavam atividades no bar. Desde 2012, o Sarau do Binho acontece sempre às segundas-feiras, na segunda semana do mês, no espaço Clariô, em Taboão da Serra.

Suzi com a equipe do Sarau do Binho, durante a Felizs de 2022, no espaço Clariô (foto: Viviane Lima)

Mesmo sendo uma das responsáveis pela construção do sarau, que se tornou inspiração no cenário da literatura, Suzi não se identificava como uma referência. “Quando o sarau começou a ficar um pouco conhecido, às vezes as pessoas queriam me entrevistar, e eu sempre passava para o Binho, né!? Não considerava o meu lugar de fala”, menciona Suzi.

“De um tempo para cá algumas pessoas têm falado isso: Sarau do Binho, Sarau da Suzi. Eu passei a tomar a frente também, porque quando algumas pessoas me ligavam para saber do Sarau, às vezes o Binho não podia atender. Então, as pessoas acabam vindo falar comigo. Aí eu pensei: ‘isso tudo que você está perguntando eu sei, porque que eu não vou responder, né?’. E aí eu comecei a protagonizar um pouco mais.”

Antes de ser produtora cultural, Suzi trabalhou 20 anos como cozinheira e também já foi professora de inglês na rede estadual de São Paulo.

Foi com o fechamento do segundo bar, em 2010, que Suzi passou a se reconhecer como produtora cultural. “Quando o bar fechou eu tive que me mexer para ganhar algum dinheiro, porque a gente não tinha outra fonte de renda. Então, a partir disso eu me tornei uma produtora cultural. Não fiz cursos, fui aprendendo na raça, mal sabia mexer no computador. Eu tive que aprender por necessidade”, conta.

Ela menciona que a rede de profissionais que trabalham com arte e cultura, que se formou através dos encontros que aconteciam no bar, foi fundamental no desenvolvimento de sua profissão como produtora cultural. Suzi também conta que as dificuldades para viver de arte na periferia, era e ainda é uma questão para grande parte dos artistas.

“Eu via que as pessoas que frequentavam o sarau não conseguiam vender os seus trabalhos. Não conseguiam chegar nos espaços culturais e serem remunerados. Não conseguiam acessar os editais. A gente não tinha muito acesso a essas informações. Eu acho importante que o sarau conectou pessoas que foram trocando informações para que conseguissem chegar nesses lugares”, comenta Suzi sobre algumas das conquistas nesses anos de coletividade.

Entre as conquistas, nesses anos de vivência e atuação no cenário cultural, está a articulação com novas gerações que passam a atuar no meio cultural, principalmente entre mulheres.

“A Nicole estudava numa escola que a gente fazia sarau. Hoje, ela trabalha com a gente na produção da Felizs. E as meninas das escolas [em que nos apresentamos] são tietes da Nicole”, comenta Suzi com um exemplo de jovens que passaram a vivenciar o cenário cultural a partir do encontro com o Sarau do Binho.

Suzi também aponta que a participação de mulheres em saraus cresceu nos últimos anos, apesar de ainda não haver uma equivalência. “É importante ter as mulheres [em saraus], principalmente essas meninas mais novas, para tentar influenciar positivamente as outras”, destaca.

Suzi não se considera uma artista, mas gosta de fazer trabalhos manuais em seu tempo livre. (foto: arquivo pessoal)

Sobre os planos atuais e futuros, Suzi conta que deseja ter mais tempo livre para aproveitar a vida, viajar, cozinhar, cuidar de suas plantas, fazer e presentear pessoas com cachecóis, que é o que ela gosta de fazer. Profissionalmente, a meta é manter a qualidade dos projetos que já realiza.

Entre esses projetos está a Feira Literária da Zona Sul (Felizs), realizada pelo Sarau do Binho, que, em 2023, acontecerá entre os dias 18 a 23 de setembro. Este ano a temática da feira é Arte, Educação, Travessias e Outras Margens. “A gente vai homenagear duas mulheres educadoras aqui do nosso território que é a Solange Amorim e a Marilu Cardoso”, conta Suzi.

Suzi durante a Felizs de 2022, na Praça do Campo Limpo (foto: arquivo pessoal)

Durante a Felizs o coletivo circula em espaços culturais e educacionais com atividades, conversas, encontros com autores, contação de histórias e encerra com um evento na Praça do Campo Limpo. “Um evento grande com shows, espetáculos e venda de livros”, finaliza Suzi, deixando o convite para a próxima Felizs.

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