Pai de santo aponta a educação como instrumento de combate à intolerância religiosa

Ao compartilhar sua trajetória educacional e religiosa, Fernando Oliveira, pai de santo e presidente de um grêmio estudantil, ressalta o papel emancipador da educação.
Por:
Zaya da Silva
Edição:
Evelyn Vilhena

Leia também:

Setembro é um mês encantado em vários territórios. Mês em que é celebrado o dia de São Cosme e Damião, momento no qual muitas comunidades afro-religiosas comemoram as crianças encantadas, os erês e ibejis. Exatamente em setembro, dia 28, no evento de 20 anos do CIEJA Lélia Gonzalez, localizado no Parque Maria Fernandes, em Parelheiros, zona sul de São Paulo, que encontramos Fernando Oliveira, 51, com sua encantaria, ao contar sobre sua relação com a educação e religiosidade. Morador do bairro Jardim São Rafael, na Cidade Dutra, zona sul de São Paulo, ele é estudante, pai de santo e presidente do grêmio estudantil da instituição.

A figura de Seu Fernando carrega muitas referências visuais. Com seu chapéu panamá de cor branca e fita vermelha, os dedos das mãos enfeitados com anéis de búzios e tridentes, e no pescoço sua corrente de São Jorge, é possível identificar a religiosidade como algo importante na sua vivência. Após ter migrado de Pernambuco para São Paulo, aos 15 anos, ele conta que ter voltado a estudar, já adulto, contribuiu para potencializar o papel que exerce enquanto liderança no território. 

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Cadastre seu e-mail e receba nossos informativos.

O presidente do grêmio estudantil fala do papel emancipador que a educação tem dentro da sua comunidade religiosa afro-diaspórica.

Qual é a sua trajetória na educação?

Na juventude eu não pude estudar porque nós viemos para São Paulo, minha mãe passou por dificuldades, então nós tivemos que trabalhar para ajudar em casa. Agora, depois de adulto, vim procurar uma escola para aprender a ler e escrever por que o ser humano no Brasil se não tiver estudo ele não é ninguém. Tem muitas portas que são fechadas, aí quando você começa a estudar é que você começa a entender e a procurar boas melhorias para sua vida. É o que eu estou fazendo hoje.

E qual a função que a educação tem na potencialização do seu papel de liderança?

Um zelador de santo tem que saber ler, tem que saber escrever. Se você não souber uma cultura e não buscar conhecimento você não tem como passar isso para um filho de santo. Ter acesso a essa educação institucional, principalmente o estudo, para [nós] que não [sabemos] ler, abre uma porta espiritual, porque se você não está bem contigo mesmo, você não consegue estar bem com outras coisas. Então com isso tudo eu vivia muito deprimido. Cheguei em tempo de depressão e ansiedade, então eu voltei a estudar. Eu voltei a viver de novo.

Você acha que as religiões de matriz africana devem ser abordadas na educação a fim de combater o racismo religioso?

Sim, mas principalmente ter representantes nossos em Brasília, né? Porque tendo mais gente lá é garantido que vamos ser mais respeitados.

Qual o papel educacional que uma comunidade religiosa tem dentro de um território periférico?

O papel principal é tirar da cabeça dos outros que é coisa do diabo. Diabo para nós não existe, a religião cura e benze. Nós não pregamos mentiras. Minha espiritualidade veio da África, da senzala, foram os negros que trouxeram e isso não é coisa do diabo.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação da 8° edição do Você Repórter da Periferia (VCRP), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2013, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

Autor

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Cadastre seu e-mail e receba nossos informativos.