Cantoras como Elza Soares, Dona Ivone Lara, Margareth Menezes, Sandra de Sá, Leci Brandão, entre outras, se destacaram e resistiram aos desafios através da arte, numa época onde o racismo trazia maior invisibilidade e preconceito aos corpos e talentos de mulheres negras. Por meio da música e suas trajetórias de vida, essas artistas têm sido uma inspiração para que outras mulheres negras possam compreender e reconhecer sua negritude, ancestralidade e liberdade.
Inspiradas por essas cantoras, Luana Bayô e Susi Nascimento, duas mulheres negras da periferia de São Paulo, encontraram na música uma maneira de descobrir sua potência e quebrar barreiras para conquistar o sonho de viver da arte. Luana Bayô, 35 anos, moradora do Campo Limpo, possui uma carreira de 20 anos como cantora e enfatiza a importância de destacar mais mulheres negras no cenário musical, trazendo suas vozes e experiências para o centro.
“Tem um monte de cantora preta maravilhosa, mas o sistema quer que só suba uma para representar todo mundo, e não dá para representar todo mundo […] a gente quer que uma suba, mas a gente quer trazer outras também, precisa que tenham outras. E cada uma vai ter o seu o seu jeito de ser, mesmo todas sendo do samba, porque nesse universo branco isso acontece, tem várias, por que em relação às pessoas pretas não podem ter várias?”
Luana Bayô, cantora e compositora
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Com 54 anos, Susi Nascimento é uma compositora talentosa, suas melodias refletem suas vivências e perspectivas únicas. Ela ressalta a relevância de espaços como a Casa Delas, localizada na periferia da Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, que, em 2022, auxiliou no seu processo de se reconhecer como artista. Para Suzi, projetos como esse, valorizam a produção musical das mulheres negras, proporcionando um ambiente acolhedor e propício ao crescimento artístico.
“Espaços como esse, é muito importante para mulher preta e periférica, para quem quer realmente encontrar o seu caminho e colocar para fora a sua arte, seja ela qual for, principalmente a arte de cantar, porque foi através desse espaço que eu consegui gravar duas músicas autorais”
Susi Nascimento, cantora e compositora
Gabriela Francisco, produtora cultural do espaço Casa Delas, chama a atenção para a urgência de quebrar o ciclo de invisibilidade enfrentado pelas artistas negras. Muitas vezes, essas mulheres precisam se dedicar a outras ocupações para se manterem, ao mesmo tempo em que buscam o sonho de viver da música. Para ela, o caminho trilhado por mulheres como Luana Bayô e Susi Nascimento, assim como o legado deixado por cantoras negras icônicas, evidencia a importância da música como um instrumento poderoso de resistência, empoderamento e transformação social.
“Quando pensamos nessas mulheres artistas, mulheres produtoras, a gente tem que pensar primeiro no cenário social, investimento na arte periférica, nas produções periféricas, que vai ressurgir e repercutir diretamente nessas mulheres e esse protagonismo”
Gabriela Francisco, produtora cultural