Moradora de Parelheiros conta sobre novas perspectivas de vida a partir do acesso à educação 

Ao iniciar o processo de alfabetização aos 52 anos, Roseane da Silva aponta como a educação mudou o entendimento sobre sua trajetória de vida e projeção de futuro.
Por:
Miguel Pires
Edição:
Evelyn Vilhena

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Natural do município de Garanhuns, Pernambuco, e atualmente moradora de Parelheiros, zona sul de São Paulo, Roseane da Silva, 52, é empreendedora e estudante do Cieja Lélia Gonzalez. Com uma barraca de doces e pano de pratos, ela foi uma das comerciantes presente no aniversário de 20 anos da unidade educacional, realizado em parceria com o coletivo Sertão Perifa, na Praça do Trabalhador, em Parelheiros, no mês de setembro.

Roseane conta que não teve a oportunidade de estudar na infância. Após um processo de abandono do pai e da mãe, o que a levou a morar com a avó, a comerciante começou a trabalhar aos 12 anos, e aos 17 anos se mudou para São Paulo. Somente aos 52 anos que Roseane encontrou a possibilidade de estudar e iniciar a alfabetização, o que segundo ela representa um recomeço em sua trajetória e a chance de novas perspectivas sobre sua vida ao olhar para si.

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Quais são as lembranças mais marcantes da sua trajetória?

Eu nasci em Pernambuco, Garanhuns, perto de Recife. A minha infância não foi fácil. Fui criada com a minha avó, minha mãe veio embora para São Paulo e depois quando eu estava com 17 anos foi me buscar, não tive estudo. Comecei a estudar agora com 52 anos. Casei nova, [aliás] não casei, minha mãe falou ‘aprontou vai embora daqui de casa’. Então me enviou [para] um casamento também [com] sofrimento. Se eu falar que minha infância foi boa eu estou mentindo. Foi muito sofrimento, muita tristeza, porque eu cresci lá sem pai. Eu me separei. Fiquei quatro anos na cadeira de rodas [e] voltei a andar. Passei [por] momentos difíceis de saúde e agora comecei a estudar. Agora que estou começando a engatinhar, ser feliz, ter oportunidades.  

Você pode nos contar um pouco sobre sua vida antes de voltar a estudar? O que fazia e como eram os seus dias?

Eu era do lar. Eu vivia num casamento de sofrimento, eu era escrava num casamento que não existia, por isso que eu falei para você que muitas coisas mexeram no passado, é como abrir uma ferida, né? Eu estou abrindo agora.

O que te motivou a voltar para escola nesta fase da vida? 

[É um desejo] muito antigo, porque agora eu estou vivendo para mim. [Tem] 7 anos que eu estou separada. Estou vivendo para mim agora. Eu posso, trabalho por conta, vendo pano de prato, recebo dinheiro do governo, mas eu faço aquele dinheiro do governo multiplicar na minha vida, porque tenho problema de saúde. Eu tenho diabetes [e] reumatismo, através do trabalho da infância que eu tive que hoje carrego esse problema de saúde, [momento] que eu poderia ter brincado, curtido a vida como adolescente ou como criança e eu não sabia o que era aquilo. A minha infância foi trabalhar e hoje eu sou feliz porque eu tenho minhas netas, minha filha, um filho que eu vivi para ele, mas ele não [viveu] para mim.

Como você ficou sabendo sobre o Cieja e o que te fez escolher essa escola para retornar aos estudos?

Foi através de uma pessoa, eu estava fazendo pano de prato e ela me indicou aqui, fiquei na fila de espera e Deus abriu a vaga para mim e eu sou feliz, nunca é tarde para recomeçar.

E agora que está estudando, quais são os seus próximos sonhos e objetivos?

Enquanto eu tiver esperança eu quero ir [o] mais longe que Deus permitir, que nós podemos fazer para as pessoas os planos de Deus, então ele aprovando fazer isso hoje, amanhã Deus faz outra coisa na nossa vida, mas eu estou feliz de estar aqui na escola.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação da 8° edição do Você Repórter da Periferia (VCRP), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2013, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

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