“Eu tento dar o melhor pro meu filho”, diz Luana Ribas, artista e mãe solo

Edição:
Ronaldo Matos

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 Mãe aos 17, Luana contou ao Desenrola quais foram os principais obstáculos enfrentados por ela sendo artista, mulher preta e mãe solo na periferia. 

Cria da Cidade Ipava, bairro localizado no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, Luana Ribas, de 20 anos, além de mãe, é uma multiartista, atuando com artes visuais e na música. Ela passou a infância nessa quebrada da zona sul, onde colecionou vivências e construiu quem é no dia de hoje.

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Luana desenha desde aproximadamente 3 anos de idade, e sua paixão por essa arte é tão grande que na escola, sempre que tinha tempo, estava rabiscando em algum papel. “Eu sempre gostei de desenhar, desde sempre mesmo! Desde que eu era criança. Na escola eu vivia desenhando”, relembra.

Uma de suas metas de vida é ter o corpo todo tatuado, mas isso não é por acaso, Luana diz ter se encontrado na arte um pouco depois da vinda de seu filho Anthony Ribas, de 3 anos, que nasceu em maio de 2018.

Nessa época, ela não conseguia encontrar emprego e precisava buscar o melhor para si e seu filho. E com isso veio a ideia de usar sua habilidade de desenhar para gerar renda, foi quando ela decidiu vender seus desenhos e começou a tatuar.

“Um rapaz que eu tinha no meu Facebook, era tatuador, e aí ele viu e me chamou pra ser meu ‘padrinho’ na arte. Aí ele começou a me ensinar, eu aprendi e comecei a ganhar dinheiro com a minha arte”, explica ela.

Luana Ribas é mãe de Anthony Ribas, de 3 anos. (Foto: Flávia Santos)

Saúde mental 

Se tornar mãe foi um passo grande que Luana não estava esperando que viria tão cedo, mas trouxe de volta a vontade de viver, fazer o melhor, pois sabia que em algum momento seu filho iria começar a se espelhar nela, e o que queria era mostrar o melhor de si para Anthony.

Seu tempo se tornou limitado após toda sua rotina ter sido construída nessa correria, na semana o tempo é curto e na maioria das vezes, o que ela precisaria resolver na semana, acaba deixando para o final de semana, pois sua prioridade sempre é dar mais atenção para seu filho.

“É meio difícil porque no final de semana faço coisas que não dá pra fazer na semana, tenho que dar atenção pro Anthony. Mas de pouquinho em pouquinho eu vou conseguindo conciliar”, pontua Luana.

Ela terminou os estudos ainda com Anthony na barriga, diz ter se esforçado bastante para ir o máximo de dias que podia, pois queria concluir o terceiro ano do ensino médio de toda forma, imaginou que teria problemas e ainda mais dificuldades se deixasse de estudar, e que isso pioraria mais sua qualidade de vida e entrada no mercado de trabalho.

O pequeno Anthony ajudou Luana a se motivar para combater a depressão. (Foto: Flávia Santos

“É meio difícil porque no final de semana faço coisas que não dá pra fazer na semana”

Luana tem uma jornada tripla, pois trabalha em diversos lugares para complementar a renda da família.

A gravidez em aspectos de acompanhamento foi relativamente saudável, o que realmente passou a preocupar bastante a jovem foi o fato de sempre ter tido problemas psicológicos, como a depressão, doença que já a fez tentar tirar sua própria vida mais de uma vez. inclusive quando ainda estava em período gestacional.

“Foi bem difícil, fiquei muito mal. Eu já tinha depressão, pensei várias vezes em tentar suicídio, mesmo grávida”, relata Luana.

A jovem lembra que descobriu a depressão quando era mais nova e explicou que até hoje ela sente ainda marcas da doença, onde o medo de cuidar de uma outra vida era grande.

“Teve uma época da minha vida que eu estava com depressão e tudo mais, não tinha muita perspectiva de vida. Depois que o Anthony nasceu, eu me vi obrigada a tentar melhorar, eu tinha que além de cuidar de mim, cuidar de outra pessoa. E aí comecei a ter meus objetivos como artista”, reforça.

Viver de arte

No início de 2020, mesmo Luana tendo tido um reconhecimento por parte desse profissional da área, ela afirma já ter pensado em se tornar tatuadora antes, pois amigos e colegas próximos notavam seu talento e sempre a questionavam o porquê de ela não trabalhar com isso.

Essa fase foi complicada, pois Anthony ainda estava para completar 2 anos, Luana já tinha iniciado seus trabalhos como tatuadora e se esforçava para conseguir tempo para tudo. Além disso, a vaga na creche estava difícil de conseguir, não tinha com quem ela deixar seu filho, pois sua família também trabalhava, e a preocupação tomou conta da mãe.

“Depois disso eu tive certeza de que queria tatuar. Mas aí não estava sendo o suficiente no momento, precisava de mais dinheiro. Eu era iniciante, tatuagem dá dinheiro, mas é preciso estar ali no ramo há um tempo”, diz a artista.

Com todos esses receios que ainda ocupavam espaço na mente de Luana, ela passou a procurar emprego para conseguir um dinheiro extra para dentro de casa, foi quando conseguiu uma vaga como atendente de telemarketing, trabalhando de segunda à sexta e mesmo assim continuou tatuando nas horas vagas.

Mesmo trabalhando fora, ela tinha certeza de que queria viver da arte, mesmo que isso exigisse um foco ainda maior vindo dela.

Os planos de Luana para atuar somente com arte em 2022 foram afetados pela pandemia. (Foto: Flávia Santos)

“Viver da arte e ter minha própria independência é meu maior objetivo. Quero fazer acontecer”

Luana atua com produção de desenhos, faz tatuagens e pretende lançar seu primeiro álbum musical.

Além de mãe solo, ela afirma ser uma artista acima de tudo, tanto que comentou com o Desenrola o fato de ter em mente futuros projetos musicais, por ter a habilidade também de escrever e compor letras baseadas em suas vivências. E é por se encontrar na arte, que seu sonho é viver dela.

“Me vejo como uma pessoa que passou por coisas bem pesadas. Eu só quero passar por cima de tudo isso, me tornar uma artista, viver da minha arte e dar uma vida minimamente decente pro Anthony”, desabafa.

Com a chegada da pandemia esses sonhos ficaram ainda mais distantes. Mas Luana tem tentado seguir adiante, dando máxima atenção como mãe e sempre correndo atrás do melhor pro Anthony.

“Viver da arte e ter minha própria independência é meu maior objetivo. Quero fazer acontecer”, concluiu ela.

Hoje, Luana mora com sua família materna, sua mãe, avó, tia e tio. Isso facilita para que não fique tão pesada a divisão de valores e gastos na casa, e ajuda no que pode todo mês.

Ela continua trabalhando fora, fazendo tatuagens e trocando serviços em busca de novos clientes e divulgação do seu trabalho. Seus planos para o próximo ano é conseguir trabalhar e viver somente da arte, conseguir um espaço só seu, mais tempo com seu filho e estabilidade. “Pretendo estudar muito, para até o meio do ano que vem estar trabalhando somente com arte”, enfatiza.

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