Alegrias e desafios da maternagem são temas do novo livro de Juliana da Paz

Edição:
Evelyn Vilhena

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 “Seria cômico se eu não fosse a mãe”, lançado pelo Selo Sarau do Binho, relata as experiências de gerar e cuidar de crianças, explorando a multiplicidade de emoções e descobertas da autora sobre o cuidado diário com seus filhos.

 Com uma série de crônicas sobre como é ser mãe, mulher afroindígena e de periferia, o livro “Seria cômico se eu não fosse a mãe”, de Juliana da Paz, será publicado por meio do Selo Sarau do Binho durante a programação Intercâmbios Culturais da FELIZS – Feira Literária da Zona Sul deste ano. O lançamento será no dia 27, às 19h, durante a realização virtual do Sarau do Binho.

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A ideia da publicação é compartilhar as experiências de maternidade, vivências ligadas à gestação e ao parto, e também da maternagem, termo que abrange os cuidados com a criança depois do parto e que também pode envolver outras mulheres. 

O projeto gráfico, a diagramação e as colagens de “Seria cômico se eu não fosse a mãe” foram feitas pela Kacili Zuchinali e o texto foi revisado pela Sônia Bischain.

“Quem vê de fora, elogia, acha legal. Ou depois que a história passa, a gente acha graça de determinadas situações. Mas no momento que a gente vivencia é tudo dolorido e pesado”, afirma a autora Juliana da Paz, 37, mãe, pedagoga e moradora do Capão Redondo, zona sul de São Paulo.

Ela relata que a ideia de contar suas vivências neste formato de livro surgiu em 2015, quando engravidou do seu primeiro filho, Joaquim. Em 2021, nasceu Vicente, seu segundo filho, e o desejo de compartilhar suas vivências se fez ainda mais presente. 

Ser mãe na sociedade que a gente vive inclui sentir culpa por não conseguir fazer tudo. E quanto mais você estuda, mais culpa você sente por não ser uma mãe perfeita. Inclui medo de errar, de cometer enganos. É um lugar de muita tomada de decisão. E também tem uma sobrecarga emocional, psicológica e física imensa. Isso porque, geralmente, tudo que dá errado é culpa da mãe.

“A criança é um sujeito forjado na sociedade, no meio, na família” 

Além de pedagoga, Juliana é pesquisadora na área da infância e conta que a maternidade e a maternagem, surgiram também como uma possibilidade de vivenciar seus estudos a partir de outra perspectiva. “Eles [filhos] enriqueceram meu repertório muito mais do que eu consegui aplicar o que eu estudei”.

As alegrias da maternagem convivem com a sobrecarga física e emocional, além da constante preocupação de criar crianças em uma sociedade machista. A partir da perspectiva feminista, a autora também sente a responsabilidade de quebrar os padrões machistas no dia a dia da educação de seus filhos.

Na nossa conjuntura social, geralmente quem cuida é a mulher, é a mãe ou a mãe da mãe. Essas pessoas deveriam ter mais tempo ou serem remuneradas para realizar esse trabalho. Porque, no final das contas, nós estamos produzindo a mão de obra para o capital, cidadãos para a nossa sociedade. Somos nós que estamos criando e cuidando dessas pessoas. Isso é muito pouco valorizado

Juliana ainda grávida de Vicente ao lado de Joaquim, seu filho mais velho.

Intensa produção literária 

A ligação com a escrita vem de muito tempo em sua vida. Incentivada por amigos e professoras, ainda na pré-adolescência, Juliana participou da criação do jornal da escola, onde publicou sua primeira poesia. “Tinha muita vergonha de assumir que quem escreveu fui eu e criei um pseudônimo para a autoria do poema que foi Luciana Viana”, lembra a autora com carinho de sua conquista aos 13 anos.

Alagoana, Juliana esteve em São Paulo pela primeira vez entre seus 12 e 17 anos. Neste período, morava no Jardim Monte Azul, zona sul de São Paulo e teve contato com a literatura por meio da escola pública que estudava e de organizações do território, como a Associação Cultural Monte Azul e a Tropis, na qual ajudou a fundar. Foi frequentando estes espaços que a autora conheceu o Sarau do Binho.

Mesmo voltando para Maceió, a autora participou do Sarau do Binho e das atividades da Felizs quando vinha de férias a São Paulo. Há alguns anos, retornou definitivamente para a capital paulista e estreitou seus vínculos com o movimento literário, atuando na equipe de produção da Felizs durante alguns anos. “O Sarau do Binho está na minha trajetória como este espaço de estímulo à produção da literatura na periferia. E também vejo ele engajado com muitas causas sociais”, afirma.

Seja por meio da escrita artística ou da produção literária acadêmica, Juliana se manteve sempre escrevendo. Participou da organização de livros lançados pela EDUFAL – Editora da Universidade Federal de Alagoas, universidade na qual fez sua graduação em Pedagogia, além do mestrado e doutorado em Educação.

Em 2020, Juliana ajudou a fundar o blog “Elas contra Tebas”, que publicava textos produzidos por diversas mulheres, entre eles, textos inéditos de sua autoria. Durante o processo de produção de textos para o blog, as autoras compartilhavam entre si os desafios da escrita enfrentados por mulheres, principalmente em livros impressos.

Dessa troca, surgiu a ideia de criar a editora Vicença Editorial e convidaram Juliana para lançar o livro de estreia. “O principal mote da editora é lançar livros de mulheres com trajetórias parecidas com a minha, que moram na periferia, que são mães, trabalhadoras e que têm dificuldade de encaixar uma obra no mercado editorial, em editoras maiores”, conta.

A editora é formada por Arlete Mendes, Jesuana Sampaio, Carol Tomoi, Ana Karina Manson, Juliana da Paz e Celane Tomaz. A publicação “Um ano sem roupa: textos sobre como amar é difícil e bom” é o livro que abre os trabalhos da editora e nele Juliana reflete sobre as questões das mulheres, autoconhecimento e amor próprio.

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