Antes da pandemia José Luís Fernandes, 28, morador do Jardim São Bernardino, localizado no município de Suzano, trabalhava como animador de festa se fantasiando de super-heróis, porém com as medidas de isolamento da covid-19, ele ficou sem opções de trabalho e renda.
Ao ver os boletos chegarem, José começou pensar em algumas alternativas para usar seu talento como animador de festa para conseguir sobreviver durante a pandemia. Ao perceber que muitas crianças estão em casa sem poderem ir à escola, tendo as telas do celular com uma das suas maiores fontes de entretenimento, o morador optou por improvisar, e se conectar com essa turminha do barulho, por meio de videochamadas no WhatsApp.
“A videochamada eu já vi outras pessoas que fazem, mas eu vi em outros estados como no Rio de Janeiro, mas não tem muito né, aqui pra São Paulo ninguém faz, só eu que faço né”, conta Fernandes.
Por se caracterizar como um personagem que a criança deseja, e conversar com ela durante 10 minutos, os pais acabam investindo no trabalho do animador de festas. Os valores variam de acordo com a complexidade para usar e adquirir a vestimenta dos super-heróis.
Os personagens mais pedidos pelas crianças são o Hulk, Batman, Capitão América e Mickey, essas fantasias custam 20 reais, já o Homem-Aranha custa 10 reais.
“Tem criança que faz xixi na cama, e a mãe pede minha ajuda pra dar uns conselhos”
José Luís, animador de festas que mora em Suzano
“A diferença dos preços dos heróis é que o homem aranha é mais fácil de fazer, agora o Hulk, Batman, Capitão América e o Mickey são mais difíceis, pois dá mais trabalho e precisa de duas pessoas para me ajudar a se vestir”, justifica José Luiz, demonstrando como ele cobra os preços pelas videochamadas.
Com o seu trabalho em alta, ele revela que já chegou a fazer 10 videochamadas. “Tem dias que eu faço 10, tem dias que faço 5, tem dias que faço duas videochamadas”, afirma o animador de festas, contando que muitos pais chegam até eles em busca de um diálogo diferenciado com seus filhos, visando auxiliar as crianças nas tarefas diárias, que muitas vezes os pais não conseguem entrar em acordo com os filhos.
“Nas videochamadas eu já conversei com muita criança, até com criança especial, criança que não come comida, não obedece, tem criança que faz xixi na cama, e a mãe pede minha ajuda pra dar uns conselhos”, revela.
Para mostrar como o seu cotidiano de trabalho e realização de videochamadas é diverso, o morador de Suzano relata uma história que já vivenciou durante uma conversa com uma criança. “A história mais legal é de um menino que não tomava remédio para a garganta, ele estava com a garganta inflamada, estava ruim, aí eu liguei pra ele vestido de Homem-Aranha falando que tinha que tomar o remédio para ficar forte, pra ele me ajudar a lutar com os vilões, aí ele foi lá e tomou o remédio, tomou o remédio na mesma hora”, diz Luís.
Atualmente o animador divulga seu trabalho e obtém seus contatos por meio de conteúdos que ele mesmo produz e posta em seu perfil no Facebook, mas ele conta que enfrenta constantemente o desafio da internet de baixa qualidade, quando o tempo está chuvoso em Suzano.
“A videochamada não é minha única renda não, eu também faço festa infantil, só que festa infantil está meio devagar”, revela ele, fazendo uma referência para o impacto da pandemia na sua atividade profissional.
Ele finaliza enfatizando o seu amor pela profissão de animador de festas infantis. “Eu gosto é de trabalhar com festa infantil e com heróis, eu gosto mais desse trabalho do que outros empregos que eu já tive”, conclui.