Sem integração gratuita moradores de Taboão da Serra e região pagam mais caro no transporte

Edição:
Evelyn Vilhena

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Dos cinco moradores entrevistados na reportagem, três deles recebem até um salário mínimo, sendo que o valor gasto com passagens compromete mensalmente mais de 10% da renda familiar.

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Ônibus da linha 300 Jd. São Judas, Taboão da Serra com destino ao metrô Vila Sônia | Foto: Rebeca Motta

Desde maio de 2022, os moradores que utilizam ônibus intermunicipais que circulam nas cidades de Taboão da Serra, Embu das Artes, Itapecerica, Juquitiba e São Lourenço tiveram seu trajeto alterado. Com a inauguração da estação Vila Sônia da ViaQuatro amarela, os passageiros perderam o direito de desembarcar em Pinheiros e reclamam que o novo terminal não aderiu ao sistema de integração gratuita como acontece em outras linhas da rede metropolitana de São Paulo.

Antes da inauguração os moradores podiam embarcar nessas cidades e ir até Pinheiros pagando uma única passagem, depois da mudança, as linhas passaram a finalizar as viagens na Estação Vila Sônia, não deixando outra opção senão concluir o trajeto de metrô.

Elisabete Barbosa, é moradora do bairro Jd. Saporito, em Taboão da Serra, Região Metropolitana de São Paulo e conta que foi pega de surpresa ao ter que desembolsar mais uma passagem para chegar ao médico, na região da Faria Lima. “Se eu fiquei irritada, imagina a população que passa por isso todo dia. Eu acho que se o trabalhador parar pra analisar o quanto tá saindo do bolso ele vai se manifestar”, afirma a cuidadora de idosos.

Com a alteração na região, o transporte coletivo deixou de atender os quase 4 km que correspondem a oito pontos de ônibus das avenidas Eliseu de Almeida e Professor Francisco Morato. Atualmente quem tem compromisso nesta região vai a pé ou paga mais uma passagem para chegar ao destino final.

Situação parecida com a de Elisabete aconteceu com Wesley Melo, que precisou levar a filha para fazer exames no Hospital Infantil Darcy Vargas, que fica na região do Morumbi. O morador do bairro Barnabé, em Juquitiba, relata que fez o trajeto de 2 km a pé com a filha pequena, pois naquele dia não tinha como desembolsar o valor de mais uma condução.

Para quem mora na Região Metropolitana de Juquitiba e São Lourenço a situação é ainda mais complicada. O valor para acessar a cidade pode chegar a R$ 30 reais por dia. Com a falta de uma linha direta para o centro, os trabalhadores precisam desembarcar no município vizinho, Itapecerica da Serra, e de lá pegar outro ônibus para o metrô. 

“Por isso que estou indo para o Campo Limpo. É horrível pagar duas ou três conduções, sendo que lá só pago uma; o trajeto é bem mais longo, comecei a sair de casa 50 minutos mais cedo, mas é o que consigo fazer no momento”. 

conta Pedro Henrique, morador do bairro Jd. Salete, em Taboão da Serra

Pedro Henrique trabalha na Faria Lima e conta que antes das alterações nas linhas pegava um ônibus só, mas agora precisou mudar toda a rotina para chegar ao trabalho, pois a empresa não arcou com o valor de mais uma condução. O jovem conta que chegou a pedir transferência para Santo Amaro para facilitar o percurso.

A prefeitura de Taboão da Serra em parceria com a ViaQuatro, concessionária que administra o metrô, colocou em circulação nove ônibus do tipo “Vai-Vem” que faz o percurso do Largo do Taboão até o Metrô Vila Sônia gratuitamente. Segundo os próprios passageiros, essa medida só beneficia quem mora no centro, pois quem vive em bairros periféricos ou em cidades vizinhas continua pagando mais caro, porque ainda precisa pegar um ônibus para chegar até o largo do Taboão.

“Eu trabalho mais pro lado de Pinheiros, o único ônibus que está passando por aqui é o 459 – Itaim Bibi. Chego na estação Vila Sônia às 06h30, do ônibus até o metrô são quase 10 minutos andando, acho muito longe. Caso tenha trânsito é impossível não chegar atrasada”.

relata a moradora do Jd. Santa Tereza, em Embu das Artes, Giovanna Ambrosio, que também teve sua rotina alterada

Ônibus vai-vem realiza viagens gratuitas do Largo do Taboão até o metrô Vila Sônia | Imagem: Eduardo Toledo
Muitos moradores desses municípios trabalham em outras regiões de São Paulo, passam o dia fora e só voltam para casa para dormir. Vários destes também procuram atividades culturais e de lazer em outras regiões, mas com o valor da tarifa esse direito também é violado. 


“Esses dias fiquei indignada ao ir no shopping Butantã e descobrir que agora necessito pagar duas conduções para chegar lá. Uma família que tem 4 filhos, por exemplo, chega a pagar quase R$100 só com passagem. É um absurdo”,  reclama Cleia Oliveira, moradora do bairro Jd. Trianon, em Taboão da Serra.

Mobilização popular 

A professora Márcia Regina é ex-vice Prefeita de Taboão da Serra, ativista do movimento pela integração gratuita e conta que a chegada do metrô é uma promessa antiga e muito usada como pano de fundo para campanhas eleitorais na região. Para ela é importante que o metrô chegue nos municípios da Grande São Paulo, mas isso não pode afetar negativamente a vida e a rotina da população.

“Faltou planejamento entre as prefeituras e a EMTU. Tem gente sendo despedida ou com dificuldades de conseguir emprego porque as empresas não querem pagar todo esse valor com passagem. O trabalhador tem pagado de R$90 a R$180 reais a mais por mês. A soma disso é praticamente o valor do décimo terceiro indo pelo ralo”.

afirma Márcia Regina.

Ativistas, moradores e movimentos sociais dos cinco municípios afetados pelas alterações do transporte coletivo, se uniram e criaram o Fórum Regional pelo Transporte Digno, com objetivo de levantar discussões e estratégias de pressão contra o poder público para solucionar essa demanda da população.

Reunião do Fórum Regional pelo Transporte Digno realizada no Jd. Saporito, em Taboão da Serra | Foto: Arquivo

“Não é justo a população sofrer, ainda mais por algo que deveria facilitar e garantir seu direito de ir e vir sem ser penalizado com o custo maior de passagens que temos que tomar. Pedimos a real integração das linhas intermunicipais a estação Vila Sônia, com gratuidade aos seus passageiros ao entrar na estação, em vez de pagar a passagem do metrô”, defende o Fórum em um trecho da carta pública.

O movimento tem realizado ações para conscientizar os trabalhadores e moradores a reivindicar o direito à cidade que tem sido perdido. Até o momento criaram um abaixo-assinado, uma página no facebook e planejam uma manifestação como próximo passo.

Mudanças na bilhetagem 

Também recentemente, os moradores de Taboão da Serra e Região Metropolitana de São Paulo, se depararam com mais uma alteração nas linhas de ônibus, desta vez, no sistema de bilhetagem. Em abril de 2022, os ônibus intermunicipais administrados pela EMTU deixaram de aceitar o cartão BOM.

A confusão se dá porque os ônibus circulares que rodam dentro do município aceitam o BOM, mas os ônibus que vão para o metrô só aceitam o TOP, novo cartão que substitui o seu antecessor. Na cidade de Taboão da Serra não há postos de atendimento para o novo cartão, o que gera reclamação e transtornos, sendo mais uma das dificuldades que os moradores enfrentam para ir e vir todos os dias.

Desde o final de 2020, o Governo de São Paulo vem promovendo a modernização do sistema de bilhetagem em ônibus, trens e metrôs. A mudança, porém, tem deixado os usuários confusos.

Do outro lado 

Em resposta ao contato realizado para a produção desta reportagem, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU) afirmou que os usuários que se deslocavam de ônibus até a região de Pinheiros, agora devem desembarcar no Terminal Vila Sônia ou Butantã, e passaram a ter desconto de R$ 1,50 na integração ao sistema com o cartão TOP, pagando R$ 2,90 na passagem do metrô. 

A EMTU aponta que os passageiros que utilizam o formato Vale Transporte devem atualizar o percurso diretamente com suas empresas. Além disso, a empresa diz que três linhas que passam em Taboão da Serra com destino à capital seguem com itinerário mantido e são alternativas a depender do trajeto do passageiro.

Das três linhas citadas pela empresa que ainda têm destino à capital, existem diferentes questões sobre seu itinerário e custo, desde não atender a todos os bairros, até o valor da tarifa de uma delas, que chega a custar R$ 10,20.

As Secretarias de Transporte dos cinco municípios envolvidos – Taboão da Serra, Embu das Artes, Itapecerica, Juquitiba e São Lourenço – foram contatadas, mas até a finalização desta reportagem não deram nenhum retorno. 

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