“Eu tinha um candidato cadeirante”: moradoras votam pelo direito à acessibilidade

Edição:
Ronaldo Matos

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Nas periferias de São Paulo, moradoras compartilham a importância de buscar por candidatos sensíveis aos direitos da população portadora de deficiência.

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Ana Paula da Silva, de camisa xadrez, participando de um evento voltado para pessoas com deficiência física realizado por um Centro de Reabilitação (Foto: Arquivo Pessoal)

 Nas eleições de 2018, Daniela Seixas, 41, cadeirante, aposentada e empreendedora, residente no bairro Vila Gilda, zona sul de São Paulo, se esforçou para exercer o direito de votar, mas a escola pública onde está localizada a sua cessão eleitoral não possuía estrutura de acessibilidade, impedindo a eleitora de chegar até o andar da sala de votação.

“Eu queria votar, eu tinha um candidato, ele era cadeirante também, queria votar nele, e aí chegou na hora da votação e minha sessão era lá em cima”, compartilha Daniela, demonstrando frustração sobre a última experiência de tentar votar.

A aposentada afirma que mesmo com essas dificuldades de locomoção, quando está indo ou quando chega no local de votação, ela tenta fazer o máximo para que não volte para casa sem conseguir votar, e se tiver uma forma de alguém ajudar, para subir para sua sessão, ela aceita, mesmo nem sempre tendo pessoas dispostas ou treinadas para ajudar.

Outra cadeirante que vive essa realidade é Ana Paula da Silva, 50, moradora do Vila Gilda, mesmo bairro onde mora Daniela. A rotina dela é repleta de dificuldades de locomoção. Quando o assunto é ir até o local de votação, ela se prepara para passar por situações difíceis, para exercer seu papel de eleitora.

Em seu bairro os problemas de mobilidade são tantos que em uma destas situações, a moradora já chegou a desistir de votar. “Chegando na minha zona eleitoral, os agentes da sessão tiveram dificuldades em encontrar meus documentos, falaram que minha zona eleitoral não era lá, me mandaram para outro lugar e aí eu fiquei nervosa e resolvi não votar”, desabafa Ana Paula.

Ela diz que se sente muito bem quando consegue votar, pois sabe que está contribuindo para que mudanças sejam feitas, mesmo que por muitas vezes o candidato de sua escolha não seja eleito, segundo Ana Paula é bom saber que está fazendo a sua parte. 

Desinformação e direitos sociais 

 Uma das frustrações de Daniela com a política é o fato de os candidatos só aparecem em período eleitoral e mesmo assim, nenhuma mudança positiva é identificada em seu bairro, avalia ela.

“A gente ouve falar de política só em época de eleição, e aí você consegue conhecer os políticos de verdade. Mas o que eu posso falar é que aqui no bairro eu vejo que eles não fizeram nada para os cadeirantes que moram aqui, é um bairro inacessível”

Daniela Seixas, moradora do Vila Gilda e cadeirante. 

Ela acompanha as notícias sobre os partidos políticos e candidatos pela internet e televisão, mas hoje em dia, a moradora só compartilha uma informação sobre política se tiver certeza que ela fará alguma diferença significativa no cotidiano da população.

Essa atitude de pensar duas vezes antes de postar alguma publicação nas redes sociais surgiu após Daniela compartilhar uma notícia falsa em suas redes sociais, uma situação que gera preocupação para ela até hoje, pois nem sempre ela consegue distinguir quando a informação é confiável ou não.

“Antes de compartilhar procuro ver a veracidade dos fatos, tento buscar mais informações em um site que seja conhecido e confiável”, conta ela.

Para não reproduzir fake news, Ana Paula pede auxílio aos seus filhos, para não entrar em sites duvidosos e buscar informações confiáveis. Segundo ela, o acesso à informação ajuda principalmente o portador de deficiência a compreender melhor os seus direitos e corres atrás de benefícios quando for possível.

“Eu já passei por uma situação que estava no ponto e o motorista não parou, eu tive que esperar outro ônibus aparecer, mas estava chovendo, eu achei um desrespeito, não só comigo, porque vejo os cadeirantes nos pontos de ônibus e nunca sei se é o motorista que não quer parar”

Ana Paula, mulher cadeirante de 50 anos, e moradora do Vila Gilda, bairro localizado na zona sul de São Paulo. 

Ela ressalta que existem direitos sociais para as pessoas portadoras de deficiências, mas muitas vezes o povo periférico é colocado de escanteio, não é auxiliado da forma correta, não possui local de fala e não é atendido como deveria, só por ser cadeirante ou deficiente.  

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