Psicóloga Verônica Rosa fala sobre os impactos das apostas online nas periferias

Apostas podem consumir até 5% da renda familiar, afetando diretamente necessidades básicas como a alimentação.
Edição:
Aline Macedo

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Confira o resultado dessa conversa no terceiro episódio da nova temporada do Desenrola Aí.

Engana-se quem pensa que os efeitos das apostas no Brasil se limitam aos impactos econômicos. Os jogos de azar também afetam o psicológico e as relações sociais de muitos brasileiros.

A facilidade de acesso, impulsionada pela ampla divulgação em espaços como novelas, filmes, transmissões de futebol e pelas redes sociais, transforma as apostas em um meio de interação para um novo grupo social: os apostadores das periferias.

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Geralmente, as pessoas querem fazer parte desses grupos de jogos de azar para compensar aspectos da vida — como a falta de oportunidades de trabalho, a precarização desse ambiente ou mesmo como uma forma de lazer.

Quem nos ajuda a fazer uma análise profunda sobre esse assunto é a psicóloga e psicanalista Verônica Rosa da Silva, convidada do terceiro episódio da nova temporada do Desenrola Aí.

Para Verônica, que concentra seu trabalho na escuta e análise dos contextos periféricos, o hábito de apostar online se intensificou durante a pandemia, quando todas as interações migraram para o ambiente virtual. Esse novo modo de socialização abriu espaço para o crescimento de mercados como o das apostas.

“A pandemia transformou o celular no principal meio de socialização. Para muitas pessoas, o aparelho se tornou uma extensão do próprio corpo. Nesse contexto, os jogos — incluindo os de apostas — ganharam um novo significado, tornando-se um espaço onde a interação social, a busca por reconhecimento e a promessa de geração rápida de renda se misturam em um cenário de entretenimento e glamour”, disse.

Psicóloga e psicanalista Verônica Rosa durante a entrevista ao Desenrola Aí. Foto: Maxuael Melo | Fluxo Imagens.

De acordo com o Datahub, o segmento de apostas online cresceu 360% entre 2020 e 2022. Esse avanço incentivou o governo a criar formas de regulamentar o setor, que hoje movimenta bilhões para os cofres públicos.

O Ministério da Fazenda, por exemplo, arrecadou cerca de R$ 1,5 bilhão em 2024 e pretende arrecadar R$ 1,866 bilhão ao ano com a taxa de fiscalização sobre as apostas.

Perfil dos apostadores

É cada vez mais comum que homens, jovens e pessoas de baixa renda estejam entre os apostadores, segundo estudo da Panorama Mobile Time/Opinion Box. Cerca de 30% dos jogadores são das classes D e E.

A pesquisa também revela que 60% dos apostadores reconhecem ter perdido mais dinheiro do que ganharam — o que evidencia o risco de endividamento e prejuízo financeiro.

E os problemas não param por aí. De acordo com o relatório do Banco Central de 2024, as famílias de baixa renda são as mais afetadas pelas apostas, acumulando dívidas que comprometem o orçamento familiar.

Esse mesmo levantamento mostra que as apostas podem consumir até 5% da renda familiar, afetando diretamente necessidades básicas como a alimentação.

Os impactos negativos das apostas nas periferias somam-se a outras mazelas já existentes, como o desemprego, a baixa escolaridade, a falta de oportunidades de geração de renda e a escassez de opções de lazer.

Desenrola Aí

O Desenrola Aí é um programa quinzenal que promove conversas com especialistas da quebrada, descomplicando temas relevantes que impactam o cotidiano da população negra e periférica, além dos direitos humanos — que são a base da nossa existência e convivência em sociedade. O programa é uma realização do Desenrola e Não Me Enrola, Fluxo Imagens e Portal Kintê Notícias, com fomento da Lei de Fomento à Cultura da Periferia, da cidade de São Paulo.

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