As culturas indígenas, com suas diversas tradições e manifestações artísticas, desempenham um papel fundamental na identidade e na preservação das raízes culturais do país. Em entrevista a Hellen Novais, aluna do Você Repórter da Periferia – programa de educação midiática promovido pelo Desenrola e Não Me Enrola, o jovem Lucas Kuaray, 18, estudante do 3° ano do Ensino Médio, conta sobre a importância do grafismo nas tradições dos povos indígenas.
Lucas Kuaray é morador da Tekoá Yvy Porã, localizada na Vila Jaraguá, zona noroeste de São Paulo, e afirma que os grafismos indígenas vão além de desenhos ou símbolos artísticos, que estão relacionados à proteção dos povos.
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O jovem se dedica a manter viva essa herança, a partir do grafismo, como uma ponte entre os não-indígenas e seu próprio povo, para repassar seu conhecimento.
Lucas fala sobre o grafismo como forma de preservação da ancestralidade e cultura do povo Guarani Mbya. Confira:
Hellen – Você Repórter da Periferia: O que os grafismos representam?
Lucas Kuaray: A pintura para nós já tem muito tempo.Tudo é passado de geração para geração. Cada etnia tem suas pinturas, os grafismos e seus artesanatos, então a pintura para nós é uma forma de símbolo também de etnias para reconhecer de qual povo é. Tudo isso é através da pintura.
Hellen – Você Repórter da Periferia: Quando você começou a fazer os grafismos?
Lucas Kuaray: Desde criança eu sempre vejo as pinturas, porque é sempre comum na nossa comunidade. Por exemplo, quando vamos nas lutas do movimento a gente sempre faz pinturas. Não tem símbolos que representam alguma coisa, mas temos pinturas nossas, dos Guaranis e outros povos também têm os deles.
Hellen – Você Repórter da Periferia: Qual o significado para o seu povo?
Lucas Kuaray: Para a gente, ela serve para proteção da floresta, para o nosso espírito. São espíritos maus e não queremos que eles fiquem de olho na gente. A pintura é feita quando o menino ou a menina muda de criança para adolescente. É uma coisa especial e para eles é uma pintura específica.
Hellen – Você Repórter da Periferia: Você enxerga o grafismo como forma de expressão artística?
Lucas Kuaray: Para mim o grafismo indígena é uma arte, é uma cultura. Ainda mais hoje em dia que dá para fazer várias coisas com grafismo indígena, então é uma arte. A tinta preta que a gente usa é sempre jenipapo com carvão, aí a gente extrai o líquido dele e mistura com carvão.
Hellen – Você Repórter da Periferia: A pintura é uma forma de levar as tradições daqui a diante?
Lucas Kuaray: Sim, tanto a pintura, os costumes, e principalmente, nossa língua tradicional, que não se perdeu ainda e vamos passando de geração para geração. O nosso lema é sempre levar isso para frente. Para as nossas crianças que são mais jovens e nossos estudantes, procuramos sempre fortalecer a nossa cultura.