Entrevista

Criadores de conteúdos contam como é trabalhar com as redes sociais sendo periféricos

Por:
Flávia Santos
Edição:
Evelyn Vilhena

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Nos últimos anos, criadores de conteúdos online têm ganhado visibilidade como mercado de atuação profissional. Para um criador de conteúdo de um território periférico, influenciar e usar as redes sociais como seu espaço de trabalho passa por lugares diferentes, como conta Glaydson Nunes, morador do Jardim Aracati, bairro localizado no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo e que produz conteúdos para a internet há mais de 10 anos. 

“Meu conteúdo é tudo e qualquer coisa que me torne real, que mostre meus sentimentos e a verdade de quem eu sou”, conta Glaydson, que começou a trabalhar com as redes a partir do Snapchat, onde postava seu dia a dia.

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As publicações de Glaydson estão concentradas em redes como Instagram, Youtube e TikTok. Ele conta que o intuito dos seus conteúdos é mostrar sua rotina de forma dinâmica e animada. Além disso, ele também se dedica à escrita de músicas, e inclusive irá lançar sua primeira faixa, chamada Recºmeço, ainda este mês. “Tudo e qualquer coisa que mostre meus sentimentos e a verdade de quem eu sou e de tudo que eu vivo é um conteúdo”, coloca Glaydson.

Glaydson (na foto de regata preta), além de trabalhar com a internet. possui o sonho de viver da música, que é uma, senão a maior de suas paixões. (Foto: Acervo Pessoal)

Ygonna Amaro, mulher trans de 22 anos, trancista, moradora do bairro Jardim Elisa Maria, região da Brasilândia, zona norte de São Paulo, teve seu primeiro contato com a criação de conteúdos online no início de 2020, quando foi convidada para participar de um ensaio fotográfico. 

“Meu público me dá bastante retorno, o que é muito difícil para uma mulher na minha condição. As pessoas se inspiram, eu sinto que sou uma motivação para quem está atrás da tela”, comenta.

Ygonna publica conteúdos sobre beleza, moda, lifestyle e cabelo. Ela conta que a partir dos conteúdos que produz, busca falar sobre o que gosta e não o que as pessoas querem ouvir. “é muito difícil encontrar uma mulher trans, que trabalhe com o que gosta e bem sucedida hoje em dia”, relatou.

Ygonna é influenciadora e atualmente trabalha com as redes sociais, fazendo divulgações, parcerias como modelo e também atua como trancista. (Foto: Acervo Pessoal)

Para Larissa Look, 23 anos, psicóloga, moradora do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, a internet é um espaço de troca e ensinamentos para os criadores de conteúdo. 

“Quando iniciei com o Instagram eu não me reconhecia como uma mulher gorda, eles [seguidores] viram todo o processo, pois eu tentava seguir um padrão inalcançável, e foi lindo me libertar, foi o que eu precisei”, contou a psicóloga sobre como sua presença nas redes sociais também contribui na sua vida pessoal. 

Larissa Look contou suas perspectivas em trabalhar com a internet, e conta que apesar do grande desafio, existem também muitos seguidores que a apoaim. (Foto: Acervo Pessoal)

Influenciador de quebrada

Glaydson conta que utiliza as redes sociais para criar  também uma comunidade de trocas. Ygonna entende que mulheres são seu maior público, e Larissa busca abordar pautas sobre a autoestima de mulheres gordas e cabelo. Cada um com sua característica, mas todos com uma meta: serem reconhecidos por serem de onde são.

“A diferença de um influenciador rico e um pobre são as possibilidades. É poder ganhar 1 mil reais com publicidade e guardar, investir, ao invés de pagar conta. Isso nos atravessa. E quanto aos ricos, não há problema, porque eles têm dinheiro”

Larissa Look.

As vivências do cotidiano fazem parte dos conteúdos de Glaydson, que já usou suas redes para compartilhar como criar uma luz elétrica com cano PVC. “O periférico não pode pensar em investir num cenário, equipamento e um ambiente adequado de trabalho por falta de oportunidades. A dificuldade é dar conta, por ter que pensar em tudo: no antes, no depois e no que pode vir”, conta o influenciador. 

O fato de ser periférico não é o único fator que impacta na busca de relevância online, segundo Ygonna, que costuma publicar suas produções principalmente no Instagram, a própria plataforma costuma ser um impasse no processo de criação e distribuição.

“Ser periférica e ser influenciadora é uma via de mão dupla. É legal a gente ver que as pessoas se inspiram, mas por outro lado é muito julgamento. Querendo ou não existe muito preconceito com isso”

coloca Ygonna, que além de criadora de conteúdo é trancista.

Larissa, que além de criadora de conteúdo é psicóloga, conta que tem a meta de viver somente do retorno que as redes sociais possibilitam e usufruir das mesmas coisas que grandes blogueiras podem, mesmo sendo da quebrada.

“Se não tem oportunidade, como você é olhada? Sei que meu trabalho é bom, sei que sou boa no que faço, mas eu não sou vista. Para ser influenciador basta ser você”, diz Larissa.

A busca de Glaydson, Ygonna e Larissa, se cruzam: trabalhar com o que gosta tendo renda suficiente para viver, e fazer com que o mercado de influenciadores periféricos seja de fato possível.

“Tem muita marca grande que poderia olhar para a periferia como um lugar de potência. Tem muita gente incrível que quer criar, quer espaço para falar, expressar sua arte e viver do que gosta”, finaliza Glaydson. 

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