Vai ter milícia 011?

Leia também:

Tarcísio vai trazer a milícia para São Paulo? Se isso acontecer, o que muda na nossa vida? Como é que vai ser quando a milícia encontrar o PCC?

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Cadastre seu e-mail e receba nossos informativos.


Se você quiser uma resposta do tamanho de um tuíte, já pode parar por aqui. Esse buraco é fundo. Precisa de reflexão. Principalmente de história.

A história da milícia fluminense numa casca de noz

Não é por acaso que respeitados estudiosos da ditadura a chamam de ditadura empresarial-militar.

Os militares diretamente responsáveis pelas torturas e perseguições às organizações de esquerda eram elite da tropa. E recebiam mais. Não só do exército como do empresariado que queria os comunistas e seus familiares mortos e torturados.

Cada militante preso valia um prêmio aos agentes. Eles reprimiam e enricavam. Mas a ditadura foi acabando e os direitos políticos voltando… Onde os torturadores foram investir seu dinheiro sujo?

Comandando o jogo do bicho no Errejota

Paulo Malhães, Coronel Guimarães e outros vermes de triste fim dividiram o Rio de Janeiro no melhor estilo Tratado de Tordesilhas: daqui pra cá é meu, daqui pra lá é seu. Da zona sul ao fundão da Baixada Fluminense foi tudo mapeado. Cada região tinha seu barão do jogo do bicho.

O dinheiro jorrava. Os milicos, mal vistos àquela época de redemocratização, tinham achado seu novo lugar na selva. Lavavam dinheiro em postos de gasolina, no carnaval, em tudo que tivesse a ver com sua região.

Mas era muito dinheiro. Muito crime. Com seus reinos alocados nas quebradas do Rio de Janeiro, nossos vermes de triste fim encontraram novos inimigos. Cometeram novos assassinatos e torturas. E como era caro manter seu próprio grupo de extermínio.

Surgiu uma solução! Uma solução econômica. Em vez de manter cada um seu grupo de extermínio, por que não contratar um Escritório do Crime com PMs fora de serviço?

É a startup mais maldita do RJ. O Escritório do Crime se tornou escola de miliciano, “gerindo” territórios com experiência em tortura e assassinato, amizade com a PM e simpatia dos barões da contravenção.

Em nome da segurança, a milícia escraviza comunidades financeiramente e sequestra a máquina pública. Não é fácil ser oposição na Baixada Fluminense ou na zona norte carioca.

Vai ter milícia 011?

Sempre teve, ainda que em escala bem menor. Mas com outra história: os “pés-de-pato” (assassinos de aluguel) dos anos 80, o malufismo…

A verdade é que o crime de SP é muito mais profissional que o fluminense. Gere territórios com grandes acordos com o Estado, possui tribunais próprios que trabalham a todo vapor, coordena uma das maiores rotas do tráfico do planeta.

Mas a forma de agir das milícias parece já ter chegado com Tarcísio: o assassinato em Paraisópolis, seguido de queima de arquivo confessada pelo candidato bolsonarista, é prova disso.

O governador de SP tem 19 mil cargos de confiança. É fato que o forasteiro Tarcísio não possui equipe paulista para isso. Ele importará funcionários. Qual setor do Estado as milícias cariocas, ligadas a sangue com Bolsonaro, irão querer ocupar num eventual governo Tarcísio?

A ver.

(Este texto foi inspirado e consultou a obra “Dos Porões da Repressão para os Subterrâneos da Contravenção”, com autoria de Aloy Jupiara e Chico Otávio. Mas possíveis erros historiográficos ficam por conta do autor do texto).

Autor

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Cadastre seu e-mail e receba nossos informativos.