Algumas experiências ambientais emergem na periferia e estão se tornando alternativas para cuidar do meio ambiente, além de impactar no bolso em tempos de custo de vida alta e de energia tão cara.
A depender do Estado podemos dizer que a questão ambiental na periferia parece não ter muita importância. É possível tropeçar em lixo jogado nas ruas ou em lixeiras escassas e mal geridas pelos órgãos públicos; rios e córregos em vez de levar água, carregam esgoto de resíduos domésticos ou industriais; as moradias avançam sobre as matas e sobre o manancial com aval do poder público; coleta seletiva é luxo e ecopontos inexistem por aqui, hortas são raras e pouco incentivadas.
Mas aqui na zona sul, algumas experiências ambientais emergem na periferia e estão se tornando alternativas para cuidar do meio ambiente, além de impactar no bolso em tempos de custo de vida alta e de energia tão cara.
Uma dessas experiências é o Periferia Sustentável, desenvolvido na Favela da Paz, no Jardim Nakamura. Essa quebrada sedia o Instituto Favela da Paz, que entre tantos trabalhos, desenvolve o Periferia Sustentável, projeto que tem muito a ensinar a todos nós sobre tecnologias ambientais funcionais e sustentáveis.
Sob a coordenação de Fábio Miranda, um grande ambientalista da quebrada, o espaço funciona como uma espécie de universidade popular do meio ambiente, com consultorias, cursos e oficinas ambientais e de culinária, articulando parcerias com escolas e faculdades.
Esse espaço também é a casa da família Miranda, onde quatro famílias convivem de maneira sustentável, reaproveitando água da chuva, cultivando hortaliças e temperos em hortas verticais feitas em canos de PVC, aproveitando os alimentos em sua totalidade, produzindo gás de cozinha por meio de um biodigestor, reciclando e reaproveitando o lixo, aproveitando a ventilação natural cruzada nos ambientes e móveis com paletes e outros materiais.
O Periferia Sustentável tornou-se a primeira Micro Geradora de Energia Solar em região de favela no estado de São Paulo, a segunda Micro Geradora em favela do Brasil. Com 22 módulos ligados à rede elétrica pública, é capaz de produzir a energia total do prédio do Instituto Favela da Paz, uma energia limpa e totalmente sustentável.
Se levarmos em conta que atualmente no Brasil temos milhões de pessoas passando fome e vivendo uma insegurança alimentar, enquanto milhões de toneladas de frutas, legumes e verduras são jogados fora todos os anos, colocando o Brasil entre os países que mais desperdiçam alimentos no mundo.
De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), se evitasse o desperdício, o Brasil poderia reduzir a fome em até 30%.
Justamente isso que é feito no Periferia Sustentável, seja na Cozinha Vegearte, incentivando uma alimentação saudável e nutritiva, baseada em legumes, frutas e vegetais, quanto no reaproveitamento dos restos orgânicos para produzir gás em um biodigestor. Essas experiências podem ajudar as famílias mais carentes da quebrada tanto na alimentação quanto no acesso ao gás, que nunca foi tão caro.
Na verdade, gás, combustíveis e energia estão tirando o sono da classe trabalhadora. Subindo mais que os salários e a inflação, a energia elétrica acumulou alta de 114% nos últimos em sete anos, segundo os dados da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia).
Muitos brasileiros não estão conseguindo pagar a conta de energia, só no ano de 2021, 39.43% das famílias de baixa renda atrasaram a fatura por pelo menos um mês, aponta os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O aumento dos valores na conta de energia elétrica está ligado com a crise hídrica permanente no Brasil, fruto da má gestão política.
Precisamos repensar as fontes de energia, em especial na Periferia. E esse debate o Periferia Sustentável está enfrentando com tecnologias funcionais e recentemente com a Micro Geradora de Energia Solar.
Hoje a energia solar ainda é cara, mas o debate e os ganhos econômicos e ambientais estão comprovados, cabe lutarmos para redução dos custos de instalação.
O Periferia Sustentável também vem construindo com a Educação Ambiental na quebrada. Fábio Miranda é parceiro de muitas escolas públicas, do SESC, de ONG’s Ambientais, das UBSs. Pensar em um futuro sustentável passa por educar toda a sociedade, mas, sobretudo, as crianças.
Desta forma olhar para as experiências ambientais gestadas no Periferia Sustentável devem ser vistas como luz para pensarmos em alternativas para superar essa crise ambiental, econômica e social. É uma oportunidade para pensarmos as questões ambientais para além da questão estética. É uma forma de aproximarmos mais pessoas para valorizar o meio ambiente.
Ademais, o trabalho do Fábio Miranda e do Periferia Sustentável se soma aos esforços de tantas pessoas do Brasil, do Mundo e da nossa região que estão lutando em favor do meio ambiente!
Aproveitamos aqui para lembrar Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips, que trabalhavam e lutavam em favor dos povos indígenas e da floresta amazônica e foram assassinados no início de junho deste ano.