O Mẹ́rìndílógún ou Jogo de 16 Búzios, é um oráculo milenar de tradição Yorùbá, no qual sacerdotes e sacerdotisas do culto afrobrasileiro são os intérpretes das 16 caídas e cada uma delas tem uma interpretação, seja ela positiva ou negativa.
Normalmente recorremos a ele para termos orientações quando os caminhos estão fechados. Com perdas de toda ordem, através delas podemos tomar boas decisões para abrir os caminhos e nos recuperar dessas perdas.
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Hoje quero citar o 6 º Odu, conhecido como Obará, que cultuamos no mês de junho, no dia 06/06.
Em um dos mitos sobre Obará, que interpreto como um ensinamento sobre generosidade, humildade e até mesmo acolher aqueles que nos desprezam, pois, no final, as riquezas deste caminho serão certeiras e lhe darão o sucesso no momento certo.
Na filosofia tradicional, a ética é como um código para interpretação e podemos internalizar conceitos sobre boa conduta e bom caráter para que o destino nos devolva bons frutos à nossa colheita. Se apresenta como um aprendizado para a evolução moral e espiritual.
Quando vivenciamos perdas e entendemos que são barreiras, desafios, má sorte, inveja, etc, normalmente pensamos ser algo negativo, o que nos leva, muitas vezes, a desistir de lutar ou de seguir em frente. Às vezes as perdas nos paralisam.
Porém, precisamos esperar o tempo passar, sentir a dor e nos ouvir. Entender quais são as situações que nos afetam nas perdas, se é o apego, o ego, fantasias de que tudo é estável, que estamos no controle e nada vai mudar.
No jogo de búzios, o oráculo é um grande conselheiro e nos ajuda a entender que as perdas ou erros podem ser ganhos ou acertos. Que o tempo é um mestre sábio, que o silêncio é um excelente conselheiro.
Entendo que a vida nos ensina que a dor é o maior professor, porque nos mostra possíveis formas de mudanças. Mostra quem torce por você, lhe estende a mão e também quem não nos quer bem, pois é nas dificuldades que conhecemos as pessoas.
Temos que, diante do caos, organizar e recalcular a rota. Desistir não é uma possibilidade, temos que seguir e continuar, mas espere o tempo, o mestre que nos ensina a descansar, acalmar a mente e o coração para se ouvir.
A perda nos deixa solitários no processo da vida, mas isso não quer dizer que estamos realmente só. Muitas vezes é sobre aprender a ter fé e confiar em si mesmo, seguir sua vida guiado pela sua intuição.
Temos deuses a nos governar e essas deidades, como nos mitos, são protetores. Podemos soltar o controle, o medo e confiar, pois teremos como Xangô e Oyá, deuses da justiça para nos fortalecer e lutar para que tenhamos vitórias sobre as perdas injustas.
Desde que iniciei o caminho da tradição e da vida devotada aos ancestrais, tenho observado que há uma grande filosofia que está por trás de cada conto e mito que se revela a partir dos movimentos do jogo.
São ensinamentos e orientações diante de perdas ou quedas, nos sentimos derrotados, desesperançados, não há caminho e nem vitórias diante da realidade que temos, mas na verdade, me parece uma reeducação. Tiram tudo do lugar, pois estávamos acomodados.
Pois crescemos somente no desconforto que nos faz ter movimentos e desenvolvemos novas estratégias para sobreviver ao caos e vamos colocando a casa interior e exterior em ordem.
Mudamos internamente para vivermos de outra maneira e conduzir a vida ou os relacionamentos de outra perspectiva.
Não estamos sós. Esta é a grande verdade. Nunca estaremos e seremos sempre testados a nos desafiar e crescer pelo nosso bem viver.
Seguir confiando que algo melhor está por vir. Isto não é o fim da linha, mas o fim de um ciclo que irá dar espaço para o início de um novo, com a experiência das quais sem estes desafios não teríamos aprendido grandes lições para avançarmos e crescermos.
Esta é uma filosofia num conceito afrocentrado e não eurocêntrico. É um caminho de grandes aprendizados nesta jornada, pois perceber outro contexto que nos impulsiona a seguir e não desistir, nos abre uma nova visão diante dos caminhos que precisamos trilhar.