Zona Sul de São Paulo – O Jardim Santa Lúcia, fundão do Jardim Ângela, periferia de São Paulo, vive dias críticos e secos. A água, recurso essencial à vida, tornou-se uma miragem para as quase mil famílias da região, que lidam com a ausência contínua do suficiente. São muitos dias sem uma gota cair da torneira na Rua Afonso Rui.
A indignação cresce à medida que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) não apresenta soluções imediatas, apesar de anunciar projetos futuros.
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Vilma Carla (44), mãe de quatro filhas e avó de 1 neta, expressou sua exaustão: “Não aguentamos mais tanto descaso. Toda vez é a mesma resposta. Já não aguentamos tamanho abandono”.
Já Willian Sales (42), casado e com duas filhas, que tem o sonho de sair do aluguel e está construindo uma casa para sua família, relata que sua obra teve que parar mais uma vez por falta de água. “O pedreiro pediu para parar a obra. É difícil, porque já não temos dinheiro e o pouco que temos não rende. Eles deviam pensar em quem é mais pobre”.
A comunidade, sentindo-se abandonada pelas autoridades, cogita medidas desesperadas como a contratação de um caminhão pipa para aliviar uma situação mais drástica. O preço por 5.000 litros é de 750 reais. Uma contradição, porque segundo o site Nível de Água em São Paulo, nos últimos 30 dias o sistema Guarapiranga ganhou 8,60% da sua capacidade máxima, o que corresponde a 1.471 milhões de litros, que são equivalentes a 73.530 caminhões pipa de 20.000 litros.
A busca por respostas levou um grupo de moradores até a sede da Sabesp. A companhia, no entanto, limitou-se a mencionar um projeto que promete melhorar o abastecimento na região até 2034, uma promessa distante que pouco faz para saciar a sede imediata da população.
A falta de respostas objetivas sobre o problema atual aumenta a incerteza ao cenário já conturbado, exacerbado pelas discussões sobre uma possível privatização da empresa de saneamento, deixando o futuro do abastecimento como uma incógnita.
A crise não é apenas localizada. Dados mostram que a periferia de São Paulo enfrenta desafios de abastecimento muito maiores quando comparados aos bairros nobres. Enquanto regiões como o Jardim Santa Lúcia convivem com interrupções incomuns, áreas privilegiadas raramente experimentam tais inconvenientes.
Uma análise dos serviços da Sabesp revela que, em bairros nobres como Morumbi e Moema, as interrupções no fornecimento de água são pontuais e geralmente associadas a manutenções programadas, com avisos prévios e restabelecimento rápido.
Em contraste, a periferia luta com a irregularidade e a imprevisibilidade não adequada, evidenciando uma disparidade que reflete desigualdades sociais e econômicas.
A situação do Jardim Santa Lúcia é um microcosmo de crise hídrica que afeta diversas outras comunidades periféricas, onde a água, um direito humano básico, é transformada em artigo de luxo.
Os moradores, entre a denúncia e a revolta, aguardam ações concretas que possam trazer alívio imediato e garantir a segurança hídrica.
O olhar atento da sociedade e a pressão contínua sobre os responsáveis são essenciais para garantir que o direito à água não seja apenas uma promessa distante, mas uma realidade para todos, independentemente do CEP.
A questão permanece: até quando o Jardim Santa Lúcia e tantas outras comunidades terão que esperar por água?
O relato de Vilma e a luta dos moradores do Jardim Santa Lúcia não são apenas um apelo por água, mas um chamado por justiça social e equidade sem acesso aos recursos básicos.
A Sabesp e as autoridades competentes devem considerar e responder com urgência à sede dos direitos que a periferia reivindica, antes que a seca física se transforme em uma seca de esperança.
Nota: A Sabesp foi contatada para comentar a respeito das ações imediatas e dos planos a longo prazo para o Jardim Santa Lúcia, mas até a publicação da coluna não houve retorno.