Educação popular em tempos de crise alimentar

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O problema, sabemos, é que a fome continua sem esperar e segue afetando as periferias, favelas, classe trabalhadora, negros e negras.

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Cozinha solidária criada pela Rede de Cursinhos Ubuntu para oferecer alimentação aos estudantes.

se tem gente com fome
dá de comer
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Solano Trindade

O poema de Solano Trindade, poeta negro e referência na literatura nacional, ainda ecoa na realidade atual do Brasil, mesmo sendo escrito em 1944. Em 2021, o nosso país se vê diante de quase 120 milhões de pessoas com algum grau de insegurança alimentar, conforme dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN). Ou seja, mais da metade da população ainda não consegue garantir um dos direitos mais básicos de uma existência digna.

Durante a atual pandemia, diversas iniciativas coletivas e públicas tentaram combater o cenário de fome, mas com o processo de reabertura, a solidariedade vista naqueles tempos já não é mais a mesma. O problema, sabemos, é que a fome continua sem esperar e segue afetando as periferias, favelas, classe trabalhadora, negros e negras.

Nessa situação, a educação popular também tem papel para seguir lutando por mais um dos direitos que nos são negados. É nesta perspectiva que a Rede Ubuntu de Cursinhos Populares vem atuando em nossas quebradas.

Desde 2013, as raízes da Rede Ubuntu de Cursinhos Populares são vistas na zona sul de São Paulo. De fato, o trampo feito pelos cursinhos nas quebradas tem sido transformador, pois vem resgatando a autoestima periférica através de uma educação feita pela e para as próprias periferias.

Em 2019, a Rede começou um projeto piloto de alimentação para seus estudantes, que consistia em garantir o almoço durante as aulas do cursinho, que funcionam aos sábados.

Essa estratégia foi pensada e articulada com o território, com o objetivo de encher a barriga dos estudantes, livrando cada um da preocupação com alimentação, e também como uma forma de seguir fortalecendo vínculos comunitários.

Durante os anos mais duros da pandemia, essa pauta passou a ser prioridade e a Rede conseguiu garantir cestas básicas, notebook e internet para os alunos. Com essa realidade posta, já não fazia sentido o retorno presencial sem pensar na garantia de comida pra geral.

Em 2022, a Rede Ubuntu vem trabalhando para garantir almoço, café da manhã e lanche para os nossos mais de 300 alunos espalhados pelo Jardim Ângela, Capão Redondo e Jardim Jacira. 

Essa ação é sobretudo política, pois a luta é fruto da potência dos coletivos das quebradas, que juntos constroem políticas feitas por e para a base, enquanto o Estado segue nos dando as costas.  

Sonhos 

Aliado com parceiros que os fortalecem desde da fundação, como a Santos Mártires, CMV, MTST, CDHEP e outros, a Rede Ubuntu está lançando uma Financiamento Coletivo para arrecadar essa grana, de forma coletiva, como a quebra sempre soube e teve que fazer.

Essa ação vai contribuir para Alimentar os Sonhos de centenas de jovens periféricos. Jovens que almejam entrar na Universidade para transformar suas vidas, transformar a vida da família e das nossas periferias!

É dessa forma que em tempos de crise e desesperança, a educação popular segue viva como mecanismo de esperançar. Na ponta do lápis, o fortalecimento mensal para cada aluno é de cerca de 30 reais. 

Chega junto e bora seguir colocando a periferia como nosso centro!

Este texto foi escrito por Rafael Cícero e Saulo Vilanova (Estudante de Letras na USP, poeta e Coordenador da Rede Ubuntu – Polo Dona Edite)

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