Opinião

Desculpa, estou atrasado

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Escrevi esse texto dentro de um ônibus pois estava atrasado para entregá-lo. Ao começar a escrita, me veio a reflexão: o tempo está passando rápido ou nós que estamos apressados?

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Segundo Pesquisa de Mobilidade Urbana de 2018, moradoras e moradores da cidade de São Paulo gastam 2h43 por dia para se deslocar para todas as suas atividades. Estamos perdendo tempo?

Quando estava na faculdade, uma professora indicou um documentário para a turma assistir: “Quanto Tempo o Tempo Tem”. Eu, sem tempo, não assisti. Esses dias, falando sobre os mistérios do tempo com um amigo e que tudo está muito corrido, indiquei o documentário para ele. Será que ele vai assistir? Bom, espero que ele tenha tempo.

Esse primeiro parágrafo na verdade foi uma certa enrolação. Eu não sei muito bem como começar a escrever minha coluna “deste mês”. Talvez pedindo desculpas? Sou tão entusiasmado com os mistérios do tempo que me perco muito nele. Sendo jornalista, entendo como funciona as relações de uma redação: pesquisa de pauta, marcação de entrevistas e uma coisa muito importante: o deadline, que é o tempo limite para o texto ser entregue. Eu vou abrir aqui para vocês, mas espero que só fique entre a gente, hein? O meu deadline nesta coluna é todo dia 30 de cada mês. Estou escrevendo no dia 4… Do mês seguinte.

Também na faculdade, enquanto pensava em temas para meu Trabalho de Conclusão de Curso, o famoso TCC, isso ainda no meu segundo ou terceiro ano (ora ora, eu estava adiantado), anotei no bloco de notas do celular – que é a mesma ferramenta que utilizo agora – a seguinte ideia: “Dormitórios: a periferia que não tem tempo pra sonhar”. Esse tema não foi esquecido, ele foi desdobrado, aprofundado e virou “Quebrada de corpo e alma: a visão periferiana da comunicação e cultura no extremo sul da cidade de São Paulo”, meu trabalho de conclusão de curso apresentado no final de 2019 e que deu origem a esta coluna.

Nas correrias da vida, escutamos a todo instante: “sem tempo, irmão”, “estou com pressa”, “estou atrasado”. Em um dia qualquer, aproveitando o tempo livre, estava assistindo a série “Dark”, da Netflix, que acabou virando minha série favorita, e refleti sobre a seguinte frase da série: Por que a gente fala isso, ter tempo? Como podemos ter tempo quando é ele que nos tem?

Cheguei em uma conclusão: Somos apressados, mas reféns do tempo. A falsa ideia de ser donas e donos do tempo causam alguns problemas indiretos, como ansiedade, doença que afeta cada vez mais as juventudes e está muito presente também nas periferias. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país que mais sofre de ansiedade no mundo: 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população). 

Nas bordas principalmente, somos pressionados a correr contra o tempo. Nas quebradas, sobretudo as mulheres, se desdobram para trabalhar o dia todo, chegar em casa e ainda ter tempo para cuidar do lar, dos filhos e talvez dormir, isso ainda muito efeito de uma sociedade machista, que vê o homem culturalmente apenas como provedor ou a figura do homem não existe nesses lares, mas isso é uma conversa para um futuro texto. Jovens saem de madrugada para trabalhar depois correm direto para a faculdade. As vezes, chegando em casa, precisam preparar a famosa marmita para o outro dia, ou até mesmo estudar um pouquinho para não ficar para trás, perdido no tempo. O quão complexo é não ter tempo para descansar?

Eu, que sou cheio dos clichês, deixo aqui mais um: aproveite o seu tempo (com responsabilidade), repense suas prioridades e saia um pouco do celular. Assim que a vacina do coronavírus chegar, faça um favor para si mesmo: VIVA! Não sabemos o tanto de tempo que temos, mas sabemos o tanto de tempo que já passou. 

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3 COMENTÁRIOS

  1. me pego pensando sobre isso as vezes, e nas outras vezes também, na tentativa de saber lidar com ele, que para quem tá aqui na periferia o tempo é outro, é tudo contato na pressa, mas anseio continuar aprendendo a aproveitar já que é ele, o tempo, que me tem.
    obrigada por compartilhar tudo isso?

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