Opinião

Afetos em pandemia

Edição:
Redação

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Pense num texto que já de início, é um desafio escrever. Refletir e mergulhar em meio a sentimentos tão conturbados e atravessados. Vamos, se achegue aqui comigo, vai que temos algo pra trocar!?

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Campo Limpo, São Paulo, 2015 – Foto: @DicampanaFotoColetivo

Nesses últimos dias tenho percebido a cria bem mais dengosa, manhosa, birrenta. Às vezes é comum do crescimento, construímos e experimentamos variados dramas de controle (pesquisa sobre, é massa) para atender nossas demandas de fome, afeto, prazer, higiene, dentre outras coisas. Então nesse balaio tem choro, tem birra, tem às vezes até uma febre, que alguns ainda adultos também têm, só para termos aquele colinho bom, aquele cuidado e uma atenção maior dedicadas a nós.

Em meio a isso, essa pandemia nos tira do convívio social, da interação tão básica e estruturante de nos tornar humanos, as crianças brincando na rua, a relação com crianças mais velhas e mais novas, nos instigando, provocando a curiosidade, a ousadia, nos levando a experimentações de nós mesmos e de nós com o outro.

Isso tudo nos dá prazer, alegria, ânimo, disposição e para a cria não é diferente. Estar somente com seus pais, as vezes repetidas vezes com as mesmas brincadeiras, brinquedos, ambientes, gera estresse, desgaste. Num momento tão criativo, tão sensível e desejoso de estímulos para compor e nos estruturar no caminho do crescimento.

Por outro lado, o do pai, fico buscando (já que sou autônomo) trabalhar mais na semana que não estou com ele, para que em nossa semana juntos, possa dedicar maior tempo a ele. Mas esse não é o mundo real, as agendas de trabalho não são construídas com base unicamente em nossas necessidades particulares, então sempre tem um demanda, uma agenda, uma reunião para fazer, um cliente para atender e a necessidade do apoio familiar para ficar com a cria, já que ainda não tem creche com todo mundo vacinado e segurança garantida em meio a variações de cepas e humores governamentais, diga-se de passagem.

Moro ao lado da casa da minha mãe, consigo, as vezes, demandar um dia da semana para focar mais no trabalho, mas é engraçado como as dinâmicas me afetam, por exemplo:

  1. Se minha irmã desce para minha casa e me ajuda cuidando dele aqui, metade da minha atenção está voltada para o trabalho e outra metade, senão 70%, aos sons que a cria ta fazendo, chamando papai, chorando, não querendo comer, não querendo tomar banho ou dormir, coisas que você sabe – se eu fizer assim, assado, talvez dê para dar só um pulinho ali e dar uma atenção para ele.
  2. Já se ele sobe e fica na casa da vó, eu consigo focar mais, mas ao mesmo tempo, trabalhando uma parte com a cabeça na cria e outra parte na agenda depois que pegar a cria.

 

Primeiro que eu só tenho a agradecer, que mesmo em pandemia, tenho uma rede de apoio próxima, a menos de um minuto. Sei que uma par de manas, monas e manos estão com suas famílias longes e é maior corre.

Mas seguindo! Por esses dias tenho pensado: “puxa cara, se está com sua mãe, foca, ou mesmo, se está próximo ouvindo, foca, confia, entrega”.

Uma parte é controle, uma parte é culpa de não estar 100% toda hora, outra parte é dengo mesmo rs. Mas há também o que trouxe nas primeiras linhas, em meio a pandemia a criança está mais constante com os pais, cortar o cordão umbilical fica sendo mais difícil. Ouvi de uma amiga: “Dimas, são as crianças da pandemia”. Nossas crianças em sua maioria estão isoladas e restringidas em sua relação com o mundo, isso torna ainda maior e mais intensa a referência pai/mãe/pãe.

Nesse vuco todo, que até o texto ficou muvucado, não tenho conclusão, só um compartilhar de momento e buscando refletir, me dizer que está tudo bem não estar todas as horas do dia voltado a cria, ou ver ele chorando porque tu foi ali comprar uma fralda, faz parte e é necessário, mesmo neste contexto atual, dialogar e construir com a criança um entendimento desses processos, para que ela possa entender os diferentes momentos e demandas que nos vêm.

Autor

1 COMENTÁRIO

  1. É claro que as pandemias afetaram muitos aspectos de nossas vidas – tanto pessoais quanto gerais. Pessoalmente, sofri muito por causa dos limites estritos em que não se podia sair, mas não porque não posso viver sem bares e cinemas, mas porque gosto de estar ao ar livre. As pandemias também abriram muitas oportunidades nas quais normalmente não pensamos por causa de opções muito mais fáceis. Por exemplo, uma academia pode ser substituída por um treinamento em casa sem grandes perdas. Ou a participação em competições pode ser encontrada em plataformas como Bettilt.
    Mas, claro, acho que todos nós nos tornamos mais reservados …. é quase inevitável.

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