Com um investimento de 40 milhões e sob fortes chuvas, a virada cultural de 2023 aconteceu em meio a inúmeras contradições. Primeiro porque a ideia inicial da Secretária de Cultura Aline Torres era a “Virada do Metaverso”.
Metaverso?
Explico: a intenção era destinar cerca de 10 milhões de reais para empresas de tecnologia utilizarem o espaço cibernético para promover atrações culturais. Medida que foi sabiamente barrada pelo Tribunal de Contas do Município.
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Muito se falou sobre a descentralização dos palcos. E como os territórios periféricos foram agraciados por atrações de renome. Mas nada se falou sobre a falta de representatividade nas atrações.
Uma coisa é trazer artistas e outra é promover as iniciativas locais.
Não vimos por exemplo a cultura popular em sua manifestação mais pura. As comunidades de samba? não teve. A literatura periférica? também não. Os blocos afros e maracatus? tão pouco.
A segurança pública foi outro ponto bastante polêmico. O fantasma dos arrastões e assaltos nas madrugadas do centrão foram diminuídos por uma ação bem básica: um único palco no vale dos 100 milhões (Vale do Anhangabaú).
Com grades e mais policia do que público, o único palco do centro de São Paulo, que teve 24 horas de atrações, promoveu um verdadeiro apartheid social. De um lado víamos a população em situação de rua e do outro lado os munícipes curtindo.
Já na quebrada, vimos como os shows serviram para uma verdadeira campanha política antecipada.
De hora em hora os microfones anunciavam agradecimentos para a prefeitura, secretaria de cultura e sub-prefeitura e, como de praxe, vereadores “figurões” da direita. A ordem da prefeitura era para que as equipes vinculadas aos vereadores estivessem na produção dos eventos nas comunidades, tudo bem dividido para a base aumentar a popularidade do Ricardo Nunes.
Outro ponto importante é que diferente do “centrão”, na quebrada os shows não atravessaram a madruga. A “virada” acabou às 22h e retornou na manhã do domingo.
Bateu dez e um e a galera já havia sido dispersada das ruas. A prefeitura deixa bem explícito que atrações na quebrada tem hora para acabar, não diferente do carnaval e outras comemorações locais.
A cortina de fumaça da virada cultural não vai apagar a gestão higienista que Ricardo Nunes defende para a cidade.
O recado dele é: nós aqui e vocês lá, cada um no seu lugar.
Uma virada cultural inclusiva precisa entender o momento social que estamos passando. Artistas independentes precisam ser valorizados pois a responsa de aquecer os corações e cativar o povo não é somente em 24 horas, é o ano inteiro.