Opinião

1 de abril nunca foi mentira

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Não precisamos esquecer a tristeza, mas lembrar quem nos deixa assim.

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Jardim Piracuama, Campo Limpo, zona sul, SP/20 – Foto: @Dicampanafotocoletivo

Eu gosto muito de escrever, pois, a escrita materializa o pensamento, e a história que se faz diariamente. Milhões de relatos não vão para os livros de história, perspectivas variadas e múltiplas não conseguem ser todas apreendidas pelos pesquisadores. Em grande parte a narrativa de quem tem o poder é que conta, estratégia que levou para os livros de história que alfabetizam a população, uma versão corrigida da vida de milhares de pessoas em um determinado tempo da história. Assim se constroem os reis, heróis, vencidos e perdedores.

De tempos em tempos, revelações são feitas como que desfazendo manipulações que levaram milhares de pessoas a acreditar em determinado fato e condenar outro. Estamos exatamente nesse turbilhão de confusões. Políticos acusados se tornam inocentes e inocentes réus.

Em Outubro de 2018, ocorreu a oitava eleição presidencial, após a promulgação da constituição federal de 1988. Após o golpe de 2016 contra a primeira presidenta eleita no Brasil Dilma Rousseff, o Brasil se vê em um momento de desesperança política e no calor da inquisição de todos os políticos corruptos do Brasil, fez dessa eleição o ato de maior retrocesso político.

Nosso Napoleão, sem partido, se fez presente nas páginas históricas da democracia tupiniquim, com promessas contundentes e práticas abomináveis. Nesse ponto da história, nosso Napoleão surge da queima suposta da corrupção, não queria conquistar outros territórios, muito pelo contrário, pelo que temos acompanhado.

Nesses dois anos vivemos as ações históricas mais sombrias, trajetória de tempos nefastos da direita, reviver o obscurantismo, onde Deus e o dinheiro estavam acima da ciência e da vida. Nosso Napoleão não acredita na ciência, na história, nem mesmo na política. A história brasileira já se apresentou como tragédia em 1968 e agora como uma farsa democrática. De 2018 a 2021, o fantasma do golpe militar assombra nossos dias e tantos trabalhadores comuns envolvidos pela férrea máscara mortuária do nosso Napoleão.

” (…) Todo um povo que pensava ter comunicado a si próprio um forte impulso para diante, por meio da revolução, se encontra de repente transladado a uma época morta, e para que não se possa haver sombra de dúvida quanto ao retrocesso, surgem novamente as velhas datas, os velhos nomes, os velhos éditos que já se haviam tornado assunto de erudição de antiquário (…).” 

18 Brumário de Karl Marx

Temos nossas particularidades, mas uma em comum. Nós fazemos nossa história, mas não como queremos, pois, a escolher lados da história no Brasil é um processo obscuro, temos olhado para as sombras políticas da vidas projetadas na caverna, recriam dessas sombras o mesmo mal com outra roupa.

Grande parte do Brasil sabia que esse Napoleão não traria nada de novo, pois fora da caverna estava mais que óbvias suas intenções. Mas um país que não investe em conhecimento não tira seu povo da caverna, poucos relutam na tentativa de uma descolonialidade da escola e na busca de um real avanço democrático. A internet, nossa caverna moderna, cheia de fakes de vida e ideias, foi a principal ferramenta para eleição de nosso algoz.

Talvez o povo quisesse de fato que o fim da corrupção ocorresse com as roupas da inquisição, mas a burguesia brasileira que se colocou de forma ambígua, como sempre, na defesa dessa inquisição, sabia estar metade atolada nessa negociata de direitos que se tornou a política brasileira. Bem se vê no desmonte dos direitos trabalhistas para exploração regulamentada da força de trabalho.

Como em uma receita belicosa nosso povo se vê cheios de impostos que esmagam a classe trabalhadora e tomados por discursos religiosos que vêm de toda parte em uma catequização massiva e doentia, enfraquecendo nossa luta em todo território, tomando nossas lideranças por meros pastores de ovelhas de um sistema envelhecido contaminado pelo neoliberalismo metamorfo do negacionismo.

Assim como em tempos remotos da história do capitalismo, a burguesia brasileira torna nossas lutas em mercadorias e as mercadorias em lutas maiores. A história sempre se repete de forma diferente em cada momento, em cada contexto, mas sob o manto do capitalismo sempre como exploração. Em nosso território, a exploração da terra e do povo foi o ventre de seu nascimento, suas raízes mais perversas alimentadas pelo capitalismo e sua cara maquiada pela cultura parecem sempre familiares de mais, que mal conhecemos de onde vem o açoite, por mais perverso que se apresente.

A burguesia tomou as frentes de luta, tudo se tornou uma luta socialista, transpor rio, beneficiar banqueiros, construir avenidas para carros, construir transportes com o couro dos trabalhadores, comercializar direitos, vender a educação como um estilo de vida.

Como descrito nos livros da história burguesa, eles sabem que toda a informação, tecnologia, educação, os movimentos sociais, a cultura popular, são armas utilizadas por eles para suas conquistas com dois gumes, que tudo que criaram para sua permanência e controle ameaçam também sua existência. Como dizia Marx, as liberdades burguesas ameaçam o seu domínio de classe, por isso nesse momento endurecem suas rédeas contra a classe trabalhadora.

No disfarce de que a vida boa é uma dádiva de Deus ou da meritocracia, assistimos pessoas morrem de fome e de outros males em decorrência da fome, subnutrição, desnutrição, se morre de COVID-19 e mais todas outras doenças do mundo que ainda não tem cura. Nossa hipertensão, nossa, diabetes, nossa retenção de líquidos, herdados das correntes da escravidão se tornam mais um ponto fraco para nossa morte, como se a COVID-19 tivesse saido da cabeça um homem branco.

O ódio das pessoas pelos valores das lutas revolucionárias são fortes, mas estão sendo vendidos pela propaganda, qualquer antagonismo entre o mercado e os valores sociais, direitos a diversidade racial e de gênero, os direitos humanos e o socialismo estão na mídia que vende de forma escancarada por meio da indústria da beleza que movimentou 166,8 bilhões em 2019, por exemplo, de outros mercados, e continua crescendo mesmo com a pandemia varrendo o país. Os capitalistas não se importam que o povo morra, com tanto que eles enriqueçam, mais e mais.

Gosto de comparar a história, olhar para o passado e ver traços dela, no presente, o mais importante desse processo é pensar sobre o que está acontecendo, seus motivos, seus impactos futuros e minha responsabilidade mesmo que pequena em todo esse processo. Nunca foi tão importante que cada um de nós se sinta sujeito da história. Não podemos ficar em casa porque o governo não tem se comprometido em manter um auxílio, pois não trabalhar significa impacto no bolso da burguesia.

O povo elegeu esse presidente, nosso Napoleão, acreditando na possibilidade do fim da corrupção e a burguesia em seu enriquecimento absoluto sem restrições, podemos ver hoje com 2 anos de supressão de nossos direitos, quem está sendo atendido.

O baixo investimento em educação e atualização tecnológica, desemprego, violência, escassez de moradias, precarização do SUS, falta de medidas contra a fome. A grande chave deste sistema de exploração, a desigualdade social, segundo o relatório da ONU, de 2019, no Brasil 1% da população concentra 28,3% da renda total do país.

Nenhum desses problemas foram realmente enfrentados por esse governo com vias a extinguir os reais problemas brasileiros, mas com sua capacidade tola e irresponsável ele conseguiu nos trazer adversidades que nem imaginamos que viveríamos.

Eu sou uma mulher periférica e me sinto ameaçada pelo Chefe de Estado do meu país, coisa mais séria que nunca vivi. Que a gente nunca esqueça e saiba nas sombras reconhecer o cheiro da carniça política que alguns trazem, a mídia popular e autônoma tem ajudado muito nesse momento, pensar o hoje para entender o amanhã.

Não precisamos esquecer a tristeza, mas lembrar quem nos deixa assim.

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