Opinião

O transcendente e seu mistério sagrado  

Começo essa sessão fazendo um convite para viverem uma jornada junto comigo, pois este mês está sendo tão importante e rico que preciso compartilhar esse Axé com vocês.

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Como sabem, sou psicóloga e tenho um olhar voltado para as ciências humanas. Porém, costumo dizer que sou muitas outras coisas e não me fechei para uma única verdade. Desconstruir paradigmas, ler e entender mais sobre nós, para mim, vai para além e também pode ser muito curativo. E isso é o que tenho buscado em minha existência, tenho procurado comungar desse olhar com vocês.

Como já citei em artigos anteriores, as ciências da biomedicina não resolvem problemas de cunho espiritual, que era um problema para mim desde a infância, e as medicinas tradicionais me ajudaram a aliviar e curar a minha jornada.

No dia dos Ibejis, resolvi contar o que vivi e posso afirmar que as medicinas tradicionais são poderosas, curativas e resgatam quem somos e nos fortalece interiormente.

No dia 15 de setembro de 2024, celebramos em minha casa o meu Ọdún Èje, ou seja, meus sete anos de iniciação para o Orixá Ọ̀ṣọ́ọ̀sì. Tudo foi único, lindo e muito emocionante.

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Mas o quero compartilhar são as experiências e o impacto espiritual dessa conexão que posso nomear como uma essência divinizada. Também viver e sentir na pele o que os ancestrais viveram é muito potente. 

Estou num período de preceito, que seria um tempo fora de circulação, simplificando muito. Tempo este que pude refletir sobre a forma que cumprimos esse período, me remeteu a séculos passados quando os nossos antepassados viveram. São percepções de uma conexão sutil, desde a maneira de asseio ao corpo, como as vestimentas e inúmeras outras coisas que me levaram a fazer essa ligação.

Obviamente, passar pelos processos de uma religião tradicional de matriz africana já tem esse intuito que é resgatar a cultura do nosso povo. Como é viver essa  preservação da matriz, do culto aos Orixás no corpo me levou a pensar nestas particularidades tão remotas no tempo e desta maneira tão espiritual de como me sinto agora, após o processo.


Tudo me levou a esse tempo remoto, minha conexão com os ancestrais e isso está sendo muito especial para mim. Porque não estou sofrendo, muito pelo contrário, estou vivendo tudo isso com muita gratidão por ter sido escolhida para este novo papel que após os sete anos essa religião nos leva, que é ser uma Yalorixá, o que eu temia tanto.


As regras exigidas, após iniciação, me davam medo do desconhecido, causava dores pelo corpo e desconforto por estar ali dormindo numa esteira, tendo alguém para te alimentar e rezar a cada refeição. Hoje posso dizer que viver isso novamente foi muito prazeroso, entender essa conexão e experimentar esse modo de vida em pleno século XXI, isso é muito precioso. 

Acessar a força dessa potência que é Orixá, olhar para trás e viver na pele, no corpo e na vida o que eles viveram é de uma magia tão intensa e transformadora que é inevitável mudar de dentro para fora.

Como é grandioso e importante o momento que temos junto com ELES, e deu aquele insight onde descobrimos o que precisamos fazer para transformar e curar uma dor emocional dessa existência tão cheia de traumas. Experiências difíceis que me faziam sentir desamparada e solitária, e como essas vivências me transformaram em uma outra pessoa. Tudo isso é mágico, vibrante, intenso, profundo, inteligível, imaterial, sensível, tocante, marcante, curativo e de um profundo cuidado ancestral.

Sinto que ao nascer para Orixá eu tive a oportunidade de recomeçar uma vida nova, Orixá trouxe caminho, saúde, força, crescimento durante estes sete anos, me deu o que eu não tive durante uma vida inteira. 

Realizando uma profunda e crescente transformação em minha essência que não consegui superar até agora, foram em pequenas doses, mas numa constância, entendendo que as sessões terapêuticas são um complemento, tudo é integrado e faz parte do autocuidado.

É um processo que não está separado, vivemos a vida como se vivêssemos adormecidos e Orixá nos desperta para enxergar a si e ao outro em sua mais profunda verdade.

É um caminho de mergulho profundo como nas águas e como se lá no fundo você pudesse encontrar os tesouros, mas para isso, não podemos temer. Temos que nos entregar e acreditar que estamos seguros. Que mãos misteriosas estão te direcionando e levando a se conhecer tão profundamente que ao voltar a superfície, você é capaz de enxergar com nitidez a sua vida e o que precisa ser feito para seguir adiante.

Transformar a sua vida e a de outras pessoas com essa força ancestral e curativa num lugar que não tem escrita e nem palavras para descrever, só vivendo e sentindo para saber do que estou falando.

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.

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