Futebol de várzea: times unem lazer e transformação social na zona leste de São Paulo

O futebol de várzea é pulsante em Guaianases, distrito da zona leste de São Paulo, não só como lazer, mas uma ferramenta essencial de transformação social e acolhimento.
Por:
Andressa Barbosa
Edição:
Simone Freire

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Da escolinha para crianças às ações sociais, e até mesmo aqueles momentos em que a galera se junta para um churrasco no campo, a união de moradores, torcedores, familiares, equipe técnica e diretoria, comprova a potência do futebol dentro e fora das quatro linhas.

Clubes tradicionais como o Botafogo de Guaianases, o Princesa Futebol Clube e o Vila Minerva, em Itaquera, são exemplos de como os times de várzea têm, ao longos dos anos, ocupado o papel do Estado ao suprir a ausência de alternativas esportivas e educacionais para os moradores.

“O futebol me salvou e é essencial pra molecada sair da rua. A educação começa pelo esporte.”Juliano Pereira, 38, jogador do Princesa Futebol Clube

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Fundado em 1955, com muita mobilização de seus frequentadores, recentemente o campo do time, localizado na rua Luís Mateus, passou por um processo de revitalização. O campo do time deixou o terrão para dar lugar ao gramado sintético, além de receber postes de iluminação.

Décadas de resistência e diversão

Fundado no mesmo ano que o Princesa, o tradicional Botafogo de Guaianases completou 70 anos em abril. Ele foi fundado por Admardo Armond, um carioca que se mudou para São Paulo. 

Boa parte dos moradores da região conhecem ou já tiveram contato com o time e suas principais atividades, que acontecem na sua sede na rua Alexandre Monat, 166 ou no CEU Jambeiro.

O projeto social da escolinha de futebol é uma forte vertente dos trabalhos realizados pelo time. Nele, participam cerca de 600 crianças entre 5 e 16 anos, onde aprendem os fundamentos do esporte e, por vezes, têm a oportunidade de participar de peneiras e campeonatos de clubes profissionais.

Moradora da região, Débora Ferrari é professora e coordenadora da escolinha de futebol do Botafogo de Guaianases. Foto: Andressa Barbosa

A coordenadora e treinadora, Débora Ferrari, 41, afirma que o time acolhe crianças de diferentes perfis e sem distinções. Ela também alerta para que os pais acompanhem a evolução dos filhos no esporte. 

“Vejo crianças de 5 anos que vem sozinha treinar. É importante que os pais acompanhem, incentivem e tenham vivência com os filhos”, diz.

Um passo de cada vez

A falta de investimento e patrocínio é uma das principais reclamações de quem está nos bastidores dos times da várzea. “Falta estrutura, falta apoio. A gente faz o que pode, não tem investimento nem ajuda de custo. Às vezes, tira do próprio bolso para manter o time”, conta o técnico do time Vila Minerva, Davi Nascimento, 27. 

Luiz Oliveira Chagas, 61, e Einstein Jesus Teixeira da Costa, 73, mais conhecidos como Luizinho e Nego, são do Botafogo de Guaianases, e ressaltam que órgãos públicos deveriam investir e divulgar mais as iniciativas da várzea.

No time, vez ou outra os responsáveis dos alunos da escola comunitária de futebol precisam arcar financeiramente com gastos voltados para uniforme, alimentação e transporte em dias de jogos fora do campo do CEU Jambeiro.

Luizinho e Nego fazem parte da velha-guarda e participam de quase todas as atividades promovidas pelo time. Foto: Andressa Barbosa

Luizinho também foi o responsável por criar categorias 50+ dentro do Botafogo de Guaianases, possibilitando que jogadores mais antigos retornassem ao campo. 

“Antes diziam que era comédia o cara com 50 anos jogar bola. Hoje tem até jogador de 83 anos […] Times tradicionais [que não estavam ativos] voltaram a jogar por causa das categorias 50 e 60. Então o futebol continua vivo.” – Luiz Oliveira Chagas, do Botafogo de Guaianases

Nego, presidente da velha guarda e integrante do clube desde 1966, acredita que tais práticas são responsáveis por dar ao Botafogo o status de time respeitado no universo da várzea paulista.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação do laboratório de produção de conteúdo Você Repórter da Periferia 2.0 (VCRP 2.0), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2014, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

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