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O autorreconhecimento das comunidades quilombolas A luta para viver a cultura e ancestralidade passa pelo autorreconhecimento, certificação  e titulação dos territórios.

O autorreconhecimento é um dos mecanismos iniciais para a garantia legal de direitos nos territórios quilombolas.  Esse processo envolve o entendimento de aspectos históricos sociais sobre a ligação dessa população com seu território. A partir dessa autodefinição, o processo se desdobra, em resumo, na busca pela certificação dessa comunidade até a titulação.

“O Brasil ainda tenta se desvincular da nossa memória preta. É uma coisa muito recente falar sobre quilombos e quilombolas. As pessoas não aceitavam, elas não se reconheciam. Inconscientemente, tentam se embranquecer a todo instante para conseguir alguma [validação] dentro da sociedade”.

Nathalia Purificação  Quilombola da comunidade Lagoa das Piranhas (BA) e coordenadora  de comunicação da CONAQ .

O autorreconhecimento é o ponto inicial de um processo maior, que envolve:  Certificação  Processo realizado pela Fundação Palmares, como uma forma de ‘atestar’  uma comunidade quilombola.  Titulação  É apenas nesse processo, realizado pelo Incra, que a comunidade passa a ter garantias legais naquele território.

O IBGE estima que em 2019 existiam 5.972 localidades quilombolas no Brasil. Número que irá apresentar novos caminhos a partir do Censo 2022, no qual, pela primeira vez, considera e identifica quilombolas como grupo étnico populacional. Dos 5.972 quilombos, apenas 404 são territórios oficialmente reconhecidos. Dados prévios do Censo 2022 apontavam o recenseamento de 386.750 pessoas que se autodeclaram quilombolas. A questão principal é: se já é difícil a garantia de direitos em territórios titulados, aqueles que não possuem nem a certificação têm acessos ainda mais custosos.

“A partir do momento que ela [comunidade] não tem essa titulação, não tem acesso aos direitos de comunidades quilombolas. Tem a certificação, o mundo sabe que ela está ali, que é uma comunidade quilombola, mas o Estado não reconhece os seus direitos e não dão o que realmente aquela comunidade precisa para ter acesso à educação, saneamento básico, saúde, acesso à terra”.

Nathalia Purificação  Quilombola da comunidade Lagoa das Piranhas (BA) e coordenadora  de comunicação da CONAQ .

“Recentemente, tem várias comunidades que estão sem acesso à educação, por exemplo. Por causa de uma política pública simples que é de manutenção das estradas nas zonas rurais. Os transportes não conseguem passar. É uma coisa que não entra na minha mente ter que cobrar algo juridicamente que é o básico. O direito de ir e vir. Tem váriasleis que não são cumpridas, embora os territórios sejam titulados.”

Raimundo Quilombo Comunicador popular,  um dos criadores  da TV Quilombo e quilombola  da Comunidade Rampa (MA).

Bora desenrolar?

No episódio “Territórios em disputa: proteção de vidas e saberes quilombolas #07” do Cena Rápida, conversamos com Raimundo Quilombo, comunicador popular e quilombola, e com Vercilene Dias, conselheira jurídica da CONAQ.