Opinião

Educação: a arma poderosa contra as violências

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Tudo passa pela educação, cada parte da sociedade acaba refletindo nela assim como ela reflete a sociedade, é uma troca constante, não existe escola, por exemplo, sem comunidade. Pensar educação é pensar que passei por ela, alguém facilitou meu conhecimento para que hoje eu conseguisse escrever esse breve texto.

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Greve da educação em 2019. Foto: João Victor Santos (@joaovictorsantosh)

Quando falamos de educação, o que vem à sua cabeça? Talvez uma sala de aula com muitos alunos, uma escola rígida ou até mesmo algumas memórias de sua época de estudante… mas a educação apesar de ser de fato um facilitador da aprendizagem e estar inserida no ambiente escolar, engloba muito mais que isso.

Tudo passa pela educação, cada parte da sociedade acaba refletindo nela assim como ela reflete a sociedade, é uma troca constante, não existe escola, por exemplo, sem comunidade. Pensar educação é pensar que passei por ela, alguém facilitou meu conhecimento para que hoje eu conseguisse escrever esse breve texto.

Então como ela poderia estar isolada somente a repassar os conhecimentos sobre alguma área? Afinal, já que temos na sala de aula alunos que irão socializar ali e que também convivem em sociedade, assim como professores e os demais funcionários, e isso se repete em faculdades, cursos etc. Ela pode ser uma arma poderosa para nos libertar ou simplesmente pode nos aprisionar mais ainda.

Aprendemos que a violência se inicia no ato, mas isso é mentira. Uma violência se inicia muito antes e muitas vezes é um ato “repassado”, sabe quando vemos crianças repetindo o que os adultos fazem? Esse seria o modo mais simples de explicar como uma educação violenta ou repassada com essa linguagem pode alimentar ainda mais uma sociedade cruel para se viver.

Mas por quê a educação?  

Porque ela é a chave de entrada para nós. É a partir desse convívio, dessas às vezes seis horas dentro de um lugar chamado escola, que aprendemos a ler, escrever, fazer contas, desenhar, momentos históricos, sociológicos, filosóficos e sobre outras pessoas, sobre como o “outro” é, e sobre como a sociedade será.

Nossa mania constante de em escolas repreender sempre meninas ou reproduzir na fala machismo, sexismo, misoginia aumenta as chances daquelas crianças e jovens serem também reprodutores com as próximas gerações. É claro que a educação não é responsável por todo o pacote de violência, porém pode ser a maior ALIADA no combate dela.

Claro que nem sempre as crianças vão reproduzir tudo aquilo, mas vão absorver de alguma forma. A educação é poderosa e tem um lugar pra além de somente facilitar o acesso ao conhecimento, é na escola que muitas vezes são identificadas questões psicológicas, problemas familiares e tantas outras coisas. É nesse ambiente que seria possível evitar repasses de atitudes violentas.

A partir de um ensino mais aberto e que dialogue podemos mudar perspectivas, apenas por introduzir alguns assuntos ou por mudanças de atitude. Muita gente me diz como é bonito meu engajamento com a educação, contudo essas pessoas já reproduziram atitudes violentas próximo a mim.

Então elas são ruins? Não! 

Elas também receberam uma perspectiva social violenta e que é difícil parar de reproduzir, por isso esse não é um trabalho individual, é coletivo. Pensar educação é pensar comunidades, pessoas, trajetórias e TUDO NO PLURAL!

Mas como a educação pode mudar isso de fato?

A partir de práticas educativas dentro da escola que envolvam emancipação social, através de mudanças no sistema que temos, de formações na educação básica para isso, de projetos que envolvam as comunidades, de uma educação que pense o indivíduo como alguém ativo naquela relação e não um mero receptor, uma educação voltada para além das bordas técnicas contando com acompanhamento psicológico e psicopedagógico. Para fazer isso precisamos de todas as instituições sociais juntas, precisamos de mobilizações e de fiscalizações constantes, é um trabalho de formiguinha então? Sim, é. Mas que pode nos gerar resultados incríveis e uma sociedade menos violenta. Investir em educação é investir na mudança de toda estrutura social!

Olhando para os dados de violência contra a mulher podemos ver uma triste realidade. Em 2019 apontavam o Capão Redondo como sendo um dos lugares mais hostis para as mulheres estarem em São Paulo, um pedido de socorro foi feito a cada 20 minutos segundo as pesquisas. O Capão Redondo também é um lugar apontado como ainda desigual, é um lugar onde sabemos que os professores fazem o que podem e o que não podem pra salvar o ambiente escolar, e é lá que começa tudo!

A educação além de poder trazer ascensão social para as mulheres, permitindo-as ter independência, também pode ser a porta para lidar com reproduções de violência que os homens aprendem muito cedo. A escola precisa ser o lugar onde falamos sobre isso, por que se não for lá vai ser onde? Só iremos lidar com isso quando as mulheres morrem?

É claro, precisamos que o Estado faça o trabalho dele, não estou aqui dizendo que temos mãos para isso, contudo já existem nas periferias lugares que procuram introduzir esses assuntos, que tal ajudarmos? Que tal irmos ouvir também?

A educação tem um poder transformador, ela pode libertar e pode ser nossa única arma para diminuir a reprodução de violência, para salvar nossa quebrada e nossas mulheres! Falar em 8 de março, é falar em luta e na quebrada isso é ainda mais denso. A fala tem poder, nossa linguagem, nossas ações são poderosas para as próximas gerações!

“É muito fácil fugir mas eu não vou, não vou trair quem eu fui, quem eu sou. Eu gosto de onde eu tô e de onde eu vim, ensinamento da favela foi muito bom pra mim… Eu não preciso de muito pra sentir-me capaz de encontrar a Fórmula Mágica da Paz…”

Racionais Mc’s, Fórmula Mágica da Paz

Autor

1 COMENTÁRIO

  1. O tema é muito bom,realmente pensar em educação e no poder transformador que ela tém, e nos benefícios e conquistas que ela pode proporcionar para jovens pobres,periféricos e para os jovens pretos. A colunista Agnes Roldan está de parabéns!

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