Os batuqueiros do Grajaú se apresentaram no palco da Sé-Toniquinho e contagiaram centenas de pessoas com a alegria de suas canções. Antes de iniciar o show, eles afirmaram ser contra a aprovação da lei de redução da maioridade penal.
Os paulistanos que decidiram curtir a virada cultural de 2015 durante a madrugada de domingo (21) não ficaram parados. A tradicional roda de samba do Grajaú, bairro localizado na zona sul de São Paulo, contagiou centenas de pessoas que estavam na Praça da Sé, com a alegria em suas canções.
“O Pagode da 27 surgiu há 10 anos, numa roda de samba entre amigos, sem propósito algum, apenas de cantar samba que é o que a gente gosta”, afirmou Nenê Partideiro, um dos responsáveis pelo grupo.
Além de levar alegria à região, a formação da roda de samba mudou o antigo conceito de violência do bairro e isso tem sido motivo de orgulho para todos que contribuem com esse encontro entre amigos. “Eu me sinto orgulhoso e feliz porque uma rua que era perigosa, que era vista no jornal por homicídio, por roubo, hoje é vista pela cultura e todo mundo quer conhecer a 27. É só jogar no Google o nome ‘Pagode da 27’ que aparece a rua como um projeto cultural e todo mundo quer conhecer lá por causa do samba”.
Sabrina Nascimento do Você Repórter da Periferia, em entrevista com integrante do Pagode da 27 Nenê Partideiro.
Nenê acredita que o convite para participar da virada cultural significa um reconhecimento pelos trabalhos desenvolvidos nas periferias. “Você faz um trabalho na quebrada que é o que a gente faz. O que a gente ama. E a maioria das pessoas que conhecem é só as pessoas dos bairros próximos. Quando você expande isso e é convidado para uma virada cultural e você vai ao centro, no marco zero de São Paulo, onde vai ter várias pessoas, como nordestino, baiano, paulista e vai estar todo o estado concentrado no centro da cidade, isso é bom porque o seu trabalho é visto por todo mundo, não só do Grajaú, da ponte pra cá também tem muita importância”, completou.
Os batuqueiros da 27 também realizam um projeto social, no qual arrecadam doações para distribuir alimentos a famílias e entidades carentes. “Eu me sinto honrado juntamente com meus amigos do pagode e meus amigos músicos por fazer parte dessa transformação social”, comentou Nenê sobre as consequências positivas dessa iniciativa, que convida o público presente no samba a doar um quilo de alimento que será destinado às ações beneficentes do projeto.
O batuqueiro também define em “Amor, gratidão, respeito e transformação social” o sentimento que tem por fazer parte do grupo e das ações sociais realizadas.
Maioridade Penal
Como um grupo pertencente à periferia e que vivência diariamente as carências educacionais e culturais que os jovens têm nos bairros distantes do centro, além da exposição constante ao tráfico de drogas e à violência física e moral que eles são submetidos, o Pagode da 27, antes de iniciar seu show afirmou ser contra a aprovação da lei de redução da maioridade penal e esse foi um assunto comum nos palcos onde se apresentaram grupos das periferias da cidade, como Filhos de Ururaí (zona leste) e Sarau do Grajaú (zona sul).
A lei de redução da maioridade penal pretende diminuir a idade prisional de 18 para 16 anos e está em debate na Câmara, ainda sem aprovação absoluta, mas com muitas oposições já que não há uma boa estrutura penitenciária no país e nem educação de qualidade para os jovens da periferia.