Mães revolucionárias: “O meu sonho é que a Síndrome de Williams seja reconhecida”, diz Silvana Souza

Com 24 anos dedicados a defender acesso às políticas públicas para pessoas com deficiência física e intelectual, Silva Souza construiu uma trajetória ao lado de seu filho, portador da Síndrome de Williams. 

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 Há 24 anos, Silvana Souza, 55, moradora do Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, iniciou uma luta para promover direitos sociais e acesso às políticas públicas de saúde e educação para crianças que possuem Síndrome de Williams, uma deficiência física e mental pouco difundida nos meios de comunicação tradicionais e nos serviços públicos de saúde.

Essa luta começou quando ela estava acompanhando seu filho Alan Souza, 24, em uma consulta com um pediatra. Nessa ocasião, ela ouviu pela primeira vez o termo Síndrome de Williams, e a reação dela como mãe foi de desespero por nunca ter ouvido falar nessa doença.

As crianças que possuem Síndrome de Williams apresentam características de comportamento hiper-social e comunicativo, além de problemas cardíacos, coordenação motora, equilíbrio, atraso mental e psicomotor.

“Quando meu filho nasceu, não tinha nenhum artigo no Brasil sobre Síndrome de Williams, como tinha só em espanhol e inglês, eu tive que traduzir para o português, a sorte foi que uma cunhada minha pegou e traduziu pra mim”, relembra Silvana, contanto a importância do apoio da cunhada que tinha trabalhado numa escola de inglês, para traduzir o artigo de pesquisa sobre a Síndrome de Williams.

Alan Souza é filho de Silvana e sonha em ser musicista e um dos seus instrumentos prediletos é o acordeon. (Foto: Carolina Carmo)

“A gente ajuda crianças não só aqui, mas no Brasil todo”

Silvana Souza, 55, é moradora do Itaim Paulista, zona leste de São Paulo.

A partir deste momento, ela começou a entender um pouco mais sobre a síndrome que estava afetando o desenvolvimento físico e intelectual de seu filho. Em meio a muitas dificuldades, ela foi buscando formas de apoiar outras mães que estavam passando pelas mesmas situações.

Nesse processo, ela acabou fundando a Associação Brasileira de Síndrome de Williams. “A gente achou bonito colocar Associação Brasileira de Síndrome de Williams, e não de São Paulo, e aí acabamos abraçando o Brasil. Então a gente ajuda crianças não só aqui, mas no Brasil todo”, conta Silvana.

A Associação Brasileira de Síndrome de Williams é uma organização social fundada em fevereiro de 2002. Com abrangência em território nacional, ela é composta por pessoas portadoras de Síndrome de Williams e seus familiares, profissionais de diversas áreas e pessoas interessadas em participar e colaborar com a organização, cujo principal objetivo é melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência.

Uma das características das pessoas que nascem com a Síndrome de Williams é a alta sensibilidade ao som e intolerância a ruídos, características que quando trabalhadas podem se transformar em uma elevada habilidade musical, como foi o caso de Alan, filho de Silvana, que estuda música e toca diversos instrumentos.

Há 24 anos, Silvana Souza, iniciou uma luta para promover direitos sociais e acesso às políticas públicas de saúde e educação para crianças que possuem Síndrome de Williams. (Foto: Carolina Carmo)

Educação especial 

Apesar de não ter tido o suporte necessário na escola onde estudou, para o desenvolvimento de suas habilidades, o filho de Silvana foi bem recebido pelo Projeto Guri, organização social que oferece educação musical gratuita às crianças e adolescentes.

“Eles fizeram um trabalho maravilhoso. Eu não acreditei pela coordenação motora, mas quando eu vi meu filho tocando a nona sinfonia de Beethoven, eu nunca mais deixei de acreditar no potencial dele”, conta Silvana.

Alan segue procurando formas de dar continuidade aos seus estudos já que o projeto Guri é oferecido a jovens até os dezoito anos, pois hoje ele está com 24. Ele diz ter vontade de seguir carreira na música, porque é o que ama e faz de melhor.

Ao refletir sobre a questão da inclusão e a acessibilidade de pessoas com deficiência aos serviços públicos, Silmara Silva, especialista em educação especial pela UNESP, aponta a importância de discutir melhorias na legislação brasileira.

“Em decorrência da Lei Brasileira de Inclusão, a questão da inclusão e da acessibilidade vem à tona com mais frequência e força, tirando muitas pessoas com deficiência da invisibilidade e colocando-os no lugar de pessoas de direito. Isso é muito bom e importante, porém, não é o suficiente”, aponta a profissional que está há 10 anos atuando em escolas públicas das periferias com educação especial.

 “O Ministro da educação não sabe nada sobre a realidade das mães que têm filhos com deficiência”

Silmara Silva é especialista em educação especial pela UNESP.

Silvana conta que tem mais três filhos sem nenhuma deficiência e no caso deles a experiência com a escola não significou nenhum desafio, já para o Alan foi uma longa busca.

Ao relembrar a recente fala do Ministro da Educação sobre a inclusão de pessoas com deficiências na educação pública, Silmara deixa claro o seu ponto de vista: “O Ministro da educação não sabe nada sobre a realidade das mães que têm filhos com deficiência e os obstáculos percorridos para garantir o direito à educação. Tem que respeitar cada deficiência em suas especificidades.”

O posicionamento de Silmara reflete diretamente na vida de Silvana e de Alan no acesso à educação. Apesar das leis que já estão em vigor, ele recebeu recusas de matrícula em muitas escolas públicas, sob a justificativa de falta de preparo dos profissionais e de recursos da escola para receber o jovem.

“A lei assegura o direito ao acesso e permanência nas escolas, contudo, nem sempre há formação profissional adequada e recursos (inclusive humanos) que garantam avanço na aprendizagem”, argumenta Silmara.

“O que eu vi nas escolas das periferias foi pessoas com deficiência intelectual, Síndrome de Down, Autismo e Síndrome de Williams dormindo em sala de aula”

Silvana Souza, 55, é moradora do Itaim Paulista, zona leste de São Paulo.

A especialista em educação especial complementa afirmando que “os cursos de licenciatura e graduação não formam para o trabalho com as deficiências e muitos professores sentem-se inseguros (e desamparados) pois não sabem como lidar com isso”, revela ela, afirmando que a necessidade de construir uma formação continuada nessa área para profissionais de educação e recursos que garantam a aprendizagem.

Silvana conta que a sua luta é por acreditar na inclusão, mas, que ela ainda não existe na maioria das escolas públicas, e se tratando das periferias, a situação é ainda mais agravada

“O que eu vi nas escolas das periferias foi pessoas com deficiência intelectual, Síndrome de Down, Autismo e Síndrome de Williams dormindo em sala de aula, não tendo um trabalho. Eu acho que a Secretaria da Educação tem que investir mais e saber respeitar os direitos das pessoas”, diz Silvana, uma das criadoras da Associação Brasileira de Síndrome de Williams.

Para Silmara, é necessário ir além do debate sobre o acesso e discutir o desenvolvimento das pessoas. “Precisamos romper com o simples acesso e contribuir para o desenvolvimento dessas pessoas. Para além dos esforços e empenho dos profissionais, dependemos de políticas públicas para que isso se efetive”, conclui a coordenadora pedagógica de um equipamento de educação da Prefeitura Municipal de São Paulo. 

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