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Movimento Negro mostra ao mundo como estado brasileiro promove genocídio nas favelas e periferias

Edição:
Redação

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A partir da unificação de experiências de organização política do Movimento Negro no Brasil, um grupo formado por organizações e pessoas está construindo uma agenda pública com inúmeros diálogos com representantes do poder público em escala nacional e internacional. A presença na audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) realizada na Jamaica reforça esse cenário de incidência política, a favor dos direitos da população negra. 

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Audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Foto: Pedro Borges)

Durante a participação na audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), realizada nesta quinta-feira (09) na cidade de Kingston, Jamaica, um grupo de representantes do movimento negro brasileiro alertou os participantes que estavam representando inúmeras entidades internacionais, sobre o conteúdo do pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro, que visa mudar o Código Penal e Eleitoral brasileiro, impactando diretamente a vida da população negra que vive nas periferias e favelas espalhadas pelo país.

Com uma olhar crítico para o atual momento político do Brasil, o Movimento Negro, representado por diversas organizações de diferentes partes do país, considera emergencial construir uma articulação unificada e que represente de fato os interesses do povo negro, que representa 52% da população brasileira.

“Nós estamos num momento da história do Brasil, onde é fundamental que a população negra tenha uma representação política articulada, unificada e que possa incidir e ser ouvida politicamente dentro e fora do país”, afirma Douglas Belchior, educador social e um dos representantes do movimento negro na Comissão Interamericana de Direitos Humanos na Jamaica.

A diversidade territorial de representantes do Movimento Negro na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) serviu também para mostrar ao mundo o impacto das medidas do governo em diferentes estados brasileiros, como Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás, onde as poucas políticas públicas existentes de garantia à vida estão dando lugar a projetos de criminalização da população que vive nas periferias e favelas.

A comunicadora comunitária e representante do Movimento de Favelas do Rio de Janeiro, Gisele Martins, integrou a comissão do Movimento Negro e ressaltou a importância da audiência para denunciar “o comportamento e a prática política racista do governo brasileiro tanto em nível federal quanto estadual.”

Ela exemplificou esse cenário ao relembrar uma ação recente que ocorreu na favela da Maré, onde reside que tirou a vida de oito moradores, a partir da ação de policiais que atiraram nas pessoas de cima pra baixo, utilizando um helicóptero. “Foram contabilizados nas ruas da favela da Maré 190 tiros disparados pelo caveirão aéreo. Essas operações policiais aterrorizantes impedem todo o nosso cotidiano nesse lugar”, descreve a comunicadora.

Coalizão negra pela vida

A moradora de Goiás, Iêda Leal, coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU) integrou a comissão na Jamaica e trouxe importantes reflexões sobre o legado dessa articulação política internacional. “Essa coalizão nacional de várias entidades é fundamental para a busca de apoio internacional, que vai nos ajudar a continuar realizando a nossa luta.”, conta ela.

êda Leal, coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU). Foto: Pedro Borges

Ela enfatiza que ao retornar para o Brasil, o movimento negro irá fortalecer ainda mais a sua presença em todos os espaços de disputa política nas capitais e áreas rurais. “É o que eu sempre digo: cada negro e cada negra é um quilombo de resistência, então nós não podemos deixar que o fascismo tome conta do país.”

Consciente da potência que está se formando diante das organizações e pessoas que fazem parte dessa coalizão nacional do Movimento Negro, Belchior acredita que essas articulações, como a experiência na Jamaica irá aos poucos estimular e fortalecer a organização popular da população negra nas periferias e favelas brasileiras.

“Eu não tenho dúvidas que a denúncia do racismo causa mais impacto fora do Brasil, do que dentro do país. Isso muda nossa vida? Não. O que vai mudar é a organização do povo para fazer lutas desde baixo, para alterar as hierarquias”, concluiu ele.

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