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Jovens da periferia querem plano de governo participativo

Edição:
Redação

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Na zona sul de São Paulo, jovens interessados em um plano de governo participativo que os inclua nas tomadas de decisão sobre políticas públicas, já movimentam ações transformadoras em seus territórios.

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Jardim Vera Cruz, zona sul de São Paulo (Foto: Flavinha Lopes)

Para jovens moradores dos distritos de Parelheiros, Campo Limpo, Capão Redondo e Jardim Ângela, regiões da cidade de São Paulo com alto índice de vulnerabilidade social, a transformação dos territórios periféricos depende da conquista de espaço para participação ativa da juventude nos ambientes de poder de esfera pública municipal, estadual e federal.

Um dos fenômenos sociais que possibilitam a construção deste cenário está na inserção desses jovens em projetos, coletivos e movimentos que abrem espaço de fala e participação, uma ferramenta política que vem envolvendo esses atores em debates sobre o “país e a cidade que queremos”, a partir da sua atuação nos territórios periféricos.

Assista a reportagem completa.

Governo participativo 

No Jardim Vera Cruz, território pertencente ao distrito do Jardim Ângela, o jovem Isaac Souza de 24 anos, um dos criadores do Núcleo de Jovens Políticos, aponta uma característica fundamental para os futuros governantes do país. “Qualquer candidato que queira se eleger e que tenha a pretensão de ser presidente precisa dialogar com a juventude. Por que o jovem não é o futuro. O jovem é o agora.”

A moradora do distrito do Campo Limpo Franciele Meireles, 25 anos, compartilha da mesma visão política do jovem Isaac. “O que a gente quer é um presidente que entenda que a participação dos jovens no plano de governo é importante”, enaltece ela, questionando o formato de fazer política pública no país. “Não tem como planejar alguma coisa pro jovem sem saber o que ele quer.”

Meireles convive em meio ao trabalho de coletivos culturais e agentes sociais que visam um diálogo com o poder púbico para melhorias no território. “Eu participo de algumas assembléias aqui no Campo Limpo, onde tem vários coletivos e representantes da prefeitura de São Paulo. É assim que eu participo, falando o que realmente necessito e o que eu acho que eles deveriam levar em consideração”, afirma.

Entre as diversas ações que mudaram pra melhor a vida de muitos moradores do bairro, Isaac relatou que a sua vocação para a participação política nasceu dentro do ambiente escolar, vindo a ganhar força no ensino médio para discutir as questões do bairro onde mora até hoje. Nesta mesma linha de valorização da educação, a jovem Gisele Matos, 25 anos, moradora do Capão Redondo, que atua como educadora numa organização social, reconhece que a participação política entrou na sua vida a partir do contato com a universidade.

“O ambiente universitário fez muita diferença na minha vida no sentido de me permitir a acompanhar as discussões que estavam sendo colocadas ali dentro da universidade e dentro do próprio movimento estudantil. Isso fez com que eu desenvolvesse um olhar diferente em relação ao lugar onde eu moro e convivo.”

O Capão Redondo está localizado entre os distrito do Jardim Ângela e Campo Limpo. O território possui mais de 260 mil habitantes, ambiente no qual Gisele consegue intervir encurtando a distância entre a educação popular e a juventude local.

 Info Território

Intrigado em investigar o cenário da participação política e a sua relação com a juventude periférica, a equipe de Jornalismo e Pesquisa do Desenrola E Não Me Enrola saiu às ruas de Parelheiros, Jardim Ângela, Capão Redondo e Campo Limpo, para entrevistar jovens com idade entre 16 e 25 anos. Essa iniciativa faz parte do programa de pesquisa Info Território, que atua na produção de dados sobre opinião pública, focando em revelar a identidade cultural dos moradores das periferias de São Paulo.

Mais de 80 jovens foram entrevistados. Um dos indicadores apontados pela pesquisa revelou que 71,3% deles têm interesse em participar das tomadas decisão sobre melhorias nos serviços sociais do seu bairro e cidade.

Para confrontar essa tendência de participação política, a pesquisa também abordou o formato de governo entendido por essa faixa etária como o mais ideal para o país. A resposta obtida mostra que 43,6% dos jovens querem um governo presidencial participativo. Já 31,9% preferem um presidente com boas propostas. Em meio a esses indicadores, um dado chama atenção para a descrença deles, pois 18,1% não acreditam nos políticos brasileiros. Apenas 6,4% dos entrevistados não souberam opinar.

Envolvida com diversas iniciativas que oferecem formação cultural e política à juventude periférica, a socióloga especializada em poder político, Anabela Gonçalves faz uma cronologia sobre a evolução do jovem na participação social. “Nos anos 90, a gente nunca poderia imaginar que jovens poderiam escrever sozinhos propostas políticas e desenvolver elas do começo ao fim, como a gente vê hoje, tanto no movimento cultural e em parte no movimento social”, relembra.

O projeto articulado pelo jovem Isaac, chamado Núcleo de Jovens Políticos é um exemplo claro dessas iniciativas citadas pela socióloga. “Nós não tínhamos nenhum equipamento de cultura, esporte e lazer. Ai nós pensamos numa pista de Skate e fizemos uma manifestação até a subprefeitura de M´Boi Mirim e aí nós conseguimos essa pista de Skate no Vera Cruz e outra pista no Vila Calu”, argumenta ele, enfatizando que essa conquista foi fruto da reivindicação da juventude do território, que pode ser ampliada para dois bairros.

Do outro lado da zona sul, mais precisamente no bairro do Colônia, no distrito de Parelheiros, o fazer político da juventude está presente dentro da biblioteca comunitária Caminhos da Leitura, lugar no qual, o jovem Bruninho Souza, 23 anos, atua como mediador de leitura, apresentando o mundo da literatura para os moradores do bairro.

Com um trabalho dedicado a trabalhar com grupos de leitura formado por moradores da região, Bruno reflete sobre a potência do jovem para a criação de soluções para os problemas do território. “Precisamos pensar em mecanismos de participação para que os jovens possam colocar a sua voz nesses espaços de decisão política. Esses espaços têm que acontecer dentro do território. A gente está se mobilizando aqui e falando destas questões, mas eles também têm que se mover, para sair do centro e vir para a quebrada.”

Esta reportagem faz parte do projeto #NoCentroDaPauta, uma realização dos coletivos Alma Preta, Casa no Meio do Mundo, Desenrola e Não me Enrola, Imargem, Historiorama, Periferia em Movimento e TV Grajaú, com patrocínio da Fundação Tide Setubal.

Cerca de 30 reportagens serão publicadas até o final de outubro com assuntos de interesses da população das periferias de São Paulo em ano eleitoral. Acompanhe os sites e as redes sociais dos coletivos e não perca nada!

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