GRAFI TEIRAS

A história que apaga o corre de mulheres segue reproduzindo violências

A luta e trabalho das mulheres está em tudo, e na produção artística não é diferente. 

Dar continuidade a uma história que não inclui mulheres, é seguir reproduzindo processos coloniais de violências e desigualdades.

“As mulheres sempre foram linha de frente, em todas as situações. Isso também é um processo de apagamento, de esconder que as mulheres são linha de frente. Quando é para ter coragem, para peitar as situações, geralmente, são as mulheres que têm essa coragem, porque a gente pensa em uma coisa que não é só individual, que é o cuidado com uma comunidade inteira.” 

Carolina Itzá Grafiteira e artista visual

Atuar em um cenário programado para atravessar corpos de mulheres, também é lidar com a desvalorização dos seus trabalhos.

“A arte não é a estética. A arte é quando ela te toca. Ela pode te atravessar [e] falar com você de diversas maneiras. Quando o movimento se perde das nossas mãos, quando ele vai para outras mãos, é essa arte colonial, muito límpida, muito organizada, que não é a nossa verdade. E isso também impede principalmente mulheres, pessoas LGBTQIAPN+ de não só estarem na cena, [mas] também de sobreviver. É sobre ganhar pela arte.”

Nenesurreal Grafiteira e educadora

Essa desvalorização na atuação de mulheres se dá de diversas formas, como:    • Há escassez de convites para eventos;  • Dificuldade em oferecer/criar espaços seguros e com representatividade de mulheres;  • Sociedade projetada para sobrecarregar mulheres com demandas como cuidar dos filhos, da casa, da ‘família’;   • Atropelamento do trabalho de mulheres.

“Muitas mulheres que eu conheci nos anos 1990, que pintavam, elas não ficaram na história. Geralmente, a história da mulher tem um momento em que [ela] tem que se retirar. Temos milhares de outros corres. Por exemplo, um cara da cena, ele pode [permanecer] porque tem uma mulher sustentando esse corre dele, para que ele consiga permanecer anos fazendo o seu grafite, [ela] cuidando dos filhos, fazendo a comida, lavando a roupa. Então, isso é uma coisa que já gera uma dificuldade de permanecer na cena.”

Carolina Itzá Grafiteira e artista visual

São vários recortes que envolvem a criação de mulheres na cena do grafite, entre eles a possibilidade de ter seu trabalho reconhecido  e remunerado.

“A gente não cria de barriga vazia. Eu preciso ganhar. É sobre isso que falamos. Como eu vou para a rua se é R$ 30 uma lata? Eu, que adoro cores, como faço? Eu preciso ganhar também. E a rua, o grafite, dá dinheiro sim. Só que não somos nós que estamos ganhando.”

Nenesurreal Grafiteira e educadora

Saiba mais no episódio 12° do Cena Rápida - Apagamento do trabalho de mulheres na cena do grafite #12.