A quem serve  o discurso da

"família tradicional brasileira"?

Para falar sobre família é preciso considerar a diversidade de formulações que esse termo representa. A ideia de um “padrão familiar” apaga muitas experiências e contextos. A chamada família nuclear, formada no geral por pai + mãe + filho, por vezes pode servir como base para discriminação de outros arranjos familiares que existem para além do considerado tradicional.

“Essa família [tradicional brasileira] ela não existe. É uma família imaginária que é utilizada nas narrativas discursivas religiosas fundamentalistas, principalmente para de fato reter o avanço do combate às desigualdades sociais.”

Simony dos Anjos Cientista social e integrante da Rede  de Mulheres Negras Evangélicas

Apagar famílias formadas por mães solos, transafetivas e tantas outras formulações têm relação direta com o sistema desigual vivido hoje. O poder público é fundamental nesse cenário: é ele quem precisa garantir direitos como acesso à saúde, moradia, trabalho, educação, lazer entre vários outros, para cada indivíduo dessas famílias, para que assim, todos os membros desses núcleos  estejam protegidos.

A realidade brasileira

No 3º trimestre de 2022, eram cerca de 11.053 milhões de famílias monoparentais com filhos, sendo 61,7% chefiadas por mulheres negras (equivalente a 6,8 milhões) e 38,3% por não negras (cerca de 4,2 milhões). Esse é apenas um dos diversos arranjos familiares que a ideia de família tradicional brasileira exclui. 

Fonte: Dieese(2022)

“Eu não queria que meus filhos fossem mais um filho pardo, sem pai. Por mais que eu entendesse que a família tradicional brasileira é pai, mãe, filho, papagaio, cachorro, aquela família nuclear, eu entendia que para nós da periferia, nós mulheres pretas que vivemos a solidão da mulher preta, líderes e mães solo, eu entendo que pra gente é um ato revolucionário ter sua família, eu entendia isso. Achava que sozinha ia conseguir fazer ele enxergar.”

Nina Barbosa Poeta, escritora  e agente cultural.

“Promover esse discurso familista da família tradicional brasileira é, no limite, negar o mundo de desigualdade social. Porque parece que a família é alheia ao mundo. Que acontece no microcosmos que se tem pai, mãe e filhos vivendo juntos tudo vai dar certo. Não, a família está no mundo.” 

Simony dos Anjos Cientista social e integrante da Rede  de Mulheres Negras Evangélicas

Saiba mais no episódio "Família tradicional brasileira: a quem isso serve? #08 "do Cena Rápida.

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